| 15/04/2006 09h20min
Um atraso de quatro meses na votação do Orçamento de 2006, provocado pelo duelo político no Congresso, prejudica os municípios gaúchos. Em Alegrete, 50 famílias carentes poderiam estar livres do esgoto a céu aberto que atravessa o bairro Olhos D'Água se o dinheiro para obras de saneamento não estivesse congelado. Sem o Orçamento, a autorização de recursos para investimentos pela União fica dificultada.
O prefeito de Alegrete, José Rubens Pillar (PP), não nega o desespero. Além dos R$ 90 mil para a localidade de Olhos D'Água, ele convive com outros programas parados, em especial na agricultura familiar. O que mais assusta Pillar e outros prefeitos é que os recursos são liberados mediante apresentação de projetos. Em razão da Lei Eleitoral, os ministérios só poderão assinar convênios e entregar a verba até o dia 30 de junho.
– Temos menos de dois meses para brigar contra a burocracia e começar a fazer as obras – reclama o prefeito.
Debruçado sobre os prejuízos, o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, reclama de demora até nas áreas em que não poderia haver paralisia.
– Só para o Rio Grande do Sul, R$ 85 milhões deixaram de ser repassados na área da saúde. É uma vergonha – reclama Ziulkoski.
O Ministério da Saúde alega que os repasses para esses programas estão assegurados. Reconhece, no entanto, que não há autorização para qualquer novo investimento, o que inclui obras de ampliação e construção de hospitais e compra de ambulâncias. Todos os anos, cerca de 5 mil projetos são aprovados pela pasta. Até agora, por falta de Orçamento, nenhum foi liberado.
– Precisamos de recursos em maio para tocar obras que já começaram com a verba aprovada em 2005 – alerta o secretário-executivo do Ministério da Educação, Henrique Paim.
O impasse não prejudica programas já existentes, como o pagamento de bolsas de ensino, transporte escolar ou repasses do Bolsa-Família. Mas obras previstas para este ano dependem de novas liberações. Enredado na crise política, porém, o Planalto não consegue organizar sua base no Congresso para colocar o Orçamento em votação. Depois do fracasso da última tentativa, na terça-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), marcou a votação para o dia 18.
Entre quarta e quinta-feira, o governo federal editou duas medidas provisórias autorizando o repasse de R$ 26,2 bilhões para órgãos públicos, irritando a oposição e aumentando a beligerância no Congresso.
CAROLINA BAHIA/ZERO HORA