| 06/03/2006 17h52min
O Banco Mundial (Bird) estimulará nos próximos meses medidas para acelerar o uso de energias renováveis nos países em desenvolvimento, em ações que prevêem a concessão de mais subsídios e financiamento ao setor. Assim declarou hoje Paul Wolfowitz, presidente do banco, durante o ato inaugural da Semana da Energia, uma conferência de três dias da qual participam mais de 500 representantes da ONU, do setor privado, da sociedade civil de diferentes governos.
Wolfowitz adiantou que o Conselho Executivo do Bird analisará no final deste mês a implementação do que ele definiu como um novo "Instrumento para o Financiamento de Energias Limpas". Esse novo instrumento combinará subsídios a países pobres com o financiamento de emissões de carbono, que consistem na venda de emissões poluentes dos países ricos ao mundo em desenvolvimento.
Com essa transação, as nações industrializadas procuram cumprir com os objetivos do Protocolo de Kioto, que procura a redução das emissões de gases estufa. Os países pobres, por sua vez, destinam os fundos dessa operação simbólica ao financiamento de energias renováveis.
Fontes do Banco assinalaram que muitos países em desenvolvimento carecem ainda de um mercado de emissões de carbono, algo que o organismo com sede em Washington tratará de impulsionar. Wolfowitz reiterou, além disso, a intenção do Banco de aumentar em 20% anualmente, a partir deste ano até 2009, o financiamento a energias renováveis e projetos de eficiência energética.
A Agência Internacional da Energia calcula que os países em desenvolvimento necessitarão investir US$ 300 bilhões (R$ 634 bilhões) anuais até 2030 para satisfazer suas necessidades energéticas. O presidente do Bird indicou que seria "razoável" que desse montante, US$ 40 bilhões sejam destinados a energias renováveis e fontes mais eficientes.
Os países do G8 (Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia) pediram ao Banco Mundial no ano passado que assumisse a liderança no desenvolvimento de um novo modelo de trabalho para impulsionar as energias limpas no mundo em desenvolvimento.
Nesse sentido, a ministra de Cooperação e Desenvolvimento da Holanda, Agnes van Ardenne, disse hoje que, além de onerar outros países, o G8 também deveria assumir a liderança para superar a crise energética que atravessa o Terceiro Mundo.
– Enquanto outros continentes se iluminam (ao anoitecer), a noite da África é escura – destacou van Ardenne para os presentes à Semana da Energia, e lembrou que só 25% dos africanos têm acesso a eletricidade, "mais de um século depois da invenção da lâmpada".
A política holandesa elogiou a decisão do Bird de aumentar seus investimentos em eficiência energética em pelo menos 20%, mas acha que essa porcentagem não é suficiente para solucionar os problemas dos países mais pobres. Van Ardenne afirmou que será necessária também uma maior cooperação entre o Bird e outros organismos como a ONU.
Jamal Saghir, diretor do Departamento de Água e Energia do Bird, lamentou que 1,6 bilhão de pessoas no mundo não tenham eletricidade em seus lares.Saghir destacou que a situação se agravou por causa dos altos preços do petróleo, que representaram um duro golpe ao crescimento dos países importadores de petróleo e, entre eles, nações latino-americanas como Guatemala, República Dominicana, El Salvador e Peru.
O Bird calcula que inclusive o relativamente modesto valor do petróleo entre 2003 e 2004 fez com que as despesas petrolíferas aumentassem em alguns países em desenvolvimento (aqueles com empresas que consomem muita energia) em porcentagens que oscilaram entre 1,5 e 5% do Produto Interno Bruto (PIB).
O Banco Mundial destinou US$ 748 milhões (R$ 1,6 bilhão) ao
financiamento de energias renováveis no ano passado.