| 24/03/2002 19h27min
Depois de amargar um longo período de desaceleração, a indústria gaúcha começa a mostrar os primeiros sinais de recuperação. O distanciamento entre as taxas de risco do Brasil e da Argentina, a trajetória descendente dos juros e o fim do racionamento de energia são os principais fatores apontados por empresários e representantes setoriais para o clima de otimismo que se instala nas fábricas. Há uma unanimidade: 2002 será melhor que 2001.
No Índice de Desempenho Industrial (IDI-RS) de janeiro, último divulgado pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), os dois indicadores que apresentaram maior alta em relação a dezembro foram compras, com 4,24%, e horas trabalhadas (6,85%). Na perspectiva dos 12 meses acumulados, a variação mostra expansão de 3,57%, percentual ainda refletindo as crises do ano passado.
Segundo Nuno Figueiredo Pinto, coordenador da assessoria econômica da Fiergs, para se ter um prognóstico fiel de que há um cenário de recuperação em construção, é preciso esperar pelos IDIs de fevereiro e março. Mas, explica o economista, o resultado positivo das compras no IDI de janeiro, quando boa parte dos exportadores gaúchos vivia a apreensão de não receber créditos dos clientes argentinos, e sazonalmente um mês ruim para indústria, demonstram a tendência de retomada.
– A desaceleração, que começou em meados de 2000 e se intensificou em setembro passado, começa a ser revertida no instante que os industriais dão sinais que pretendem produzir mais – diz Nuno.
Além de exaltar o fim do racionamento, Proença afirma que desde o início de março aumentou o recebimento de créditos da Argentina e agora é momento de estudar mecanismos que viabilizem a volta do comércio entre os dois países.
– A partir do descolamento das duas economias, temos de fortalecer o intercâmbio comercial, mas de forma consciente, com um sistema de cotas e priorizando produtos como trigo e do setor automotivo – observa Proença.
O sócio da área tributária da consultoria Ernst Young, João Carlos Sfredo, aponta a trajetória descendente dos juros no Brasil como outro fator importante na tendência de retomada da expansão industrial. Um indicativo do que falam os analistas pode ser demonstrado pelo crescimento de 1,1% na produção da indústria gaúcha em janeiro, em comparação ao mês anterior.
O percentual, mensurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o primeiro positivo desde maio do ano passado. José Antonio Fernandes Martins, vice-presidente da Marcopolo e presidente do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre), acredita que o transporte da safra de grãos e o aumento do turismo interno impulsionarão os setores que lidam com transporte rodoviário neste ano.
A safra também anima Claudio Bier, presidente do Sindicato da Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas (Simers), que comemora o crescimento do mercado interno, uma atenuante para as perdas com a Argentina. O aumento das exportações de calçados é o trunfo para a Killing Tintas e Solventes, fornecedora de adesivos à indústria calçadista, crescer 15% neste ano. Vlademir Souza, diretor comercial da empresa, ressalta que depois de um ano de muitas revisões e redirecionamentos, o otimismo predomina para 2002.
PEDRO DIAS LOPES