Conteúdo: unimedespacovida | 24/11/2009 15h23min
Cuidar de criança é brinquedo sim! Brincar é uma experiência fundamental na infância. Os adultos que compartilham desses momentos ganham também. Quando brincamos, somos mais humanos do que nunca, garante a professora Tânia Fortuna, especialista* no assunto. São dela os comentários abaixo.
Porque é generoso
O adulto que para e se volta para a infância, dos filhos, dos netos, sobrinhos, enfim, e passa a conhecer a cultura deles, os desenhos animados, as coisas que eles saboreiam, o que apreciam, a gíria, a linguagem com amigos, está sendo generoso. Mas a brincadeira é também generosa com este adulto ao acolhê-lo e dar-lhe a chance de entrar em contato com o novo, com a esperança, com a possibilidade de mundo reinventado. Cada ser que nasce carrega em si a perspectiva do novo, da mudança. Essa é a riqueza. O contato com novas gerações é o contato com o que está por vir, com aquilo que pode ser recriado,
“recreado”.
Porque conecta
A brincadeira tem o
poder de integrar nosso eu: quando brincamos, entramos em contato com nossos sentimentos, desejos, impulsos e temores, bem como com nossas capacidades e conhecimentos. Tais componentes do nosso eu, muitos deles contraditórios ou francamente antagônicos, coexistem através da brincadeira. Além disso, entramos em contato com tudo o que não é eu, ou seja, o mundo material, o ambiente, os outros e seus sentimentos, atos e pensamentos. Também entramos em contato com o passado (nossa bagagem e a dos outros), com o presente (a brincadeira é feita de imediatez) e com o futuro (porque pode nos ligar ao que não existe, “é de mentirinha”).
É ser mais criativo e...
A brincadeira se baseia na criação, na invenção de novos possíveis, na transformação do que não é em algo que pode vir a ser: brincando, posso ser qualquer coisa, enfrentar e viver qualquer coisa, até mesmo aquilo que nem sei o que é e aquilo que sequer existe. Esta é a base para a criação: a
instituição do novo; algo que não
existe, passa a existir - ao menos mentalmente e, assim, quem sabe, abre caminho para que venha a existir de fato.
... menos individualista
A brincadeira requer o outro, mesmo quando ela é solitária - neste caso, é como se houvesse um outro dentro de nós. Temos que reconhecer o outro na sua diferença e na sua singularidade. Até quando a brincadeira é predatória e altamente competitiva e quando nela predomina o egocentrismo, o fato de exigir um outro para se desenvolver faz com que ela instaure as condições para que se admita a existência de algo além de mim, algo que é alguém de quem eu preciso, tanto quanto este alguém precisa de mim.
Brincar alivia
Uma das informações mais importantes que a brincadeira nos dá de quem brinca é a gestão da angústia. Quando diante de uma realidade difícil de aceitar inventamos uma outra, ao mesmo tempo que protegemos o ego de alguma coisa muito dura,
muito aflitiva e muito exigente. Um exemplo de gestão da
angústia, em criança bem pequena, é quando ela brinca de se esconder atrás de uma fralda, fecha o olhinho e abre, fecha e abre, e cada vez que abre aqueles olhinhos, o alívio, alegria de reencontrar aquela figura da qual ela vinha brincando de se esconder. Por instantes, ela dominou a angústia de perder e experimentou a alegria de recuperar. Mais velha, ela constrói aquela super torre com todas aquelas peças, admira e... derruba! Derruba tudo para começar tudo de novo. É a alegria em ver o processo todo e se descobrir capaz de fazer e de gerir seu mpulso destrutivo.
Brincar desenvolve
Se observamos as sinapses que ocorrem durante a brincadeira, as conexões que nossos neurônios fazem enquanto estamos brincando, principalmente nos primeiros cinco anos de vida, vamos ver que elas são mais frequentes e numerosas em certas regiões do cérebro, particularmente, no cerebelo, na base do cérebro, zona esta responsável pelo equilibrio dinâmico, pela nossa
destreza motora. Então, uma criança
que brinca, especialmente atividades motoras, está estimulando seu cérebro a se desenvolver em níveis de complexidade e com mais diligência e destreza do que uma outra criança que não pratica atividades lúdicas. Outro fator pelo qual é importante brincar é que as crianças entram no mundo da simbolização: uma coisa passa a ser como se fosse outra, sem ser a coisa em si. É uma revolução para o ser humano. Abre as portas para o desenvolvimento da linguagem, para o raciocínio abstrato mais tarde, para capacidade de representação do sentido mais amplo.
Tânia Ramos Fortuna é Pedagoga, Especialista em Piaget, Mestre em Psicologia Educacional, professora de Psicologia da Educação da Faculdade de Educação da UFRGS e coordenadora geral do Programa de Extensão Universitária Quem quer Brincar?, da UFRGS. Não deixe de conferir outros comentários dela sobre crianças e brinquedos aqui nesta quarta edição do Unimed Espaço Vida.
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