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Conteúdo: unimedespacovida  | 12/10/2009 15h29min

Uma decisão que salva vidas

Quem espera por órgãos para se curar de uma doença ou melhorar a qualidade de sua vida espera, antes de qualquer coisa, por uma decisão sua. A de ser ou não doador. Fale sobre o assunto em casa, com familiares

Mais do que abrir legalmente o caminho para a doação de órgãos e tecidos, ao incentivar que se converse em casa, com familiares, sobre a decisão de ser ou não doador, as campanhas sobre o tema no Brasil tentam fortalecer um dos pilares fundamentais para o funcionamento ideal do sistema: a educação, a busca por informações corretas e a sua propagação.

Em caso de morte encefálica, conforme legislação vigente no país, é a decisão da família que prevalece. Por isso, é tão importante informar em casa se a intenção é ser doador.

“A morte encefálica é uma morte trágica. Em algumas horas a pessoa estava bem e agora não está mais. A família fica desnorteada. Se alguém lembra na hora que a pessoa falou de sua intenção, fica mais fácil”, explica o doutor Valter Duro Garcia, presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).

Com a autorização, a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos Estadual avisa as equipes de transplante para irem ao hospital remover os órgãos e levá-los ao local onde será realizado o transplante. A Central é que seleciona os receptores.

Conversar em casa sobre o assunto também faz com que se busquem esclarecimentos. “Se você não entende bem o que é a morte encefálica, se não refletiu sobre a visão de sua religião sobre o tema, se não sabe como funciona o trabalho médico nessas horas... enfim, essas condições influenciam o momento de a família decidir”, afirma Garcia. “Um terço da população brasileira não é doadora. É muito alto”, lamenta ele, citando pesquisa recente.

Além da educação das pessoas, a organização interna dos hospitais é outro dos dois pilares frágeis do sistema, composto por quatro pilares (legislação, financiamento, educação e organização hospitalar), segundo Garcia. “No que se refere a financiamento e legislação, podemos melhorar, mas não são, atualmente, impeditivos”, informa ele. As realidades hospitalares, principalmente no que diz respeito à logística, são muito díspares. “Estamos trabalhando muito para reverter isso”, garante o presidente da ABTO.

Afora a questão estrutural, a percepção da associação é de que uma maior humanização do atendimento hospitalar, nesse delicado momento, também tem peso. “A família está em choque, chega ao local, não consegue entrar, o parente está na UTI e, de repente, vem a notícia de morte. É uma situação muito delicada. É preciso uma humanização geral, desde o porteiro”, diz Garcia.

Para 2010, estão planejados cursos de aperfeiçoamento para aqueles que atuam nas equipes de transplantes, em especial para os profissionais destacados para conversar com a família.

“Nessa conversa, nunca forçamos. Focamos no positivo, na possibilidade de dar um sentido maior a uma tragédia, de aquela morte poder salvar uma vida. O perfil do entrevistador é importante”, explica o presidente.

As campanhas incentivando a doação de órgãos têm procurado mostrar a reciprocidade da decisão pela doação. O foco é “um dia você também pode precisar”. Esse enfoque está baseado em estatísticas: segundo Garcia, há três vezes mais chance de se ingressar numa lista de espera por doação do que se tornar doador por morte encefálica.


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