| 09/04/2003 09h31min
Em 21 dias da ofensiva militar no Iraque, nenhuma outra madrugada pareceu tão tranqüila como a desta quarta, dia 9, em Bagdá. O silêncio de uma certa normalidade era interrompido, apenas, por tiros esporádicos. Misturados à população, os soldados dos Estados Unidos espalharam-se pelos subúrbios da capital iraquiana e aumentaram a presença das forças aliadas na escuridão do subúrbio pobre de Saddam City. Nesse ponto da região nordeste da capital iraquiana, pelo menos 2 milhões de pessoas, a maioria muçulmanos xiitas tradicionalmente marginalizados pelo governo sunita de Saddam Hussein, dividem os quarteirões.
A calmaria da madrugada seria mantida, não fosse a forte resistência das forças do ditador iraquiano, que, apesar da desorganização, ora e outra, ousavam disparar uma granada contra posições norte-americanas. Poucas pessoas se mostraram pelas ruas na Bagdá amanhecida. Já na manhã deste dia 9, já começaram a ser ouvidos ruidos dos disparos dos tanques norte-americanos. As balas, diferentemente do observado nessa terça, não tiveram jornalistas como alvo.
Aos poucos, os combatentes pró-Saddam se curvam à tecnologia norte-americana em Bagdá. O líder iraquiano, do qual pouco se sabe – nem mesmo se está vivo –, assiste estéreo aos aliados tomarem, uma a uma, as principais cidades de seu país. A população já passa a receber os ocidentais com palmas e gritos, mostra do que pode ser interpretado como um dos sucessos políticos almejados pelo presidente dos EUA, George W. Bush: a guerra, parece, dá sinais de uma leve legítimidade, ainda que as grandes concentrações de armas químicas, cuja existência foi apresentada como motivo do conflito por Bush, não tenham sido encontradas pelos norte-americanos. Certos da potência com a qual fizeram a capital iraquiana tombar às suas forças, os soldados dos EUA já não usam mais as roupas de proteção a ataques químicos.
Embora o regime de Saddam dê sinais de falência, o ditador iraquiano pode estar acompanhando as comemorações dos aliados de algum ponto do país. Britânicos e norte-americanos divergem sobre o paradeiro do líder. De um lado, Bush, diz não saber se "ele sobreviveu". De outro, bem próximo, a imprensa do país do primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, estampa em seus diários depoimentos de fontes ligadas ao comando de guerra, dizendo que Saddam "provavelmente não estava no prédio quando foi bombardeado". Quatro bombas de 900 quilos cada foram jogadas sobre o lugar da capital iraquiana onde o ditador e seus assessores estariam abrigados: um prédio no bairro Mansur, em Bagdá.
Mesmo sem saber de Saddam, o plano de reconstrução do Iraque já era debatido entre Bush e Blair nessa terça. O projeto pode sofrer oposição da União Européia.
Os senhores da guerra afirmaram que a Organização das Nações Unidas (ONU) terá papel "vital'' em uma era pós-Saddam. Mas, ao ser pressionado a detalhar a atuação da organização, o presidente norte-americano mencionou apenas trabalho humanitário e "sugeriu'' presença de representantes do órgão em uma autoridade interina e na ajuda ao "progresso'' do Iraque.
Uma administração civil liderada pelos EUA já deu início aos trabalhos no Iraque. Autoridades foram enviadas ao porto de Umm Qasr, no sul do país, para avaliar as necessidades humanitárias. O Congresso Nacional Iraquiano, grupo de oposição a Saddam, disse que seus representantes no Iraque foram para a cidade de Nassiriya para saudar o principal líder do grupo, Ahmad Chalabi. Mas um relatório da CIA (agência de inteligência norte-americana) afirma que ele e outros exilados terão pouco apoio entre os iraquianos.
O relatório secreto da CIA parece ser parte de uma longa disputa dentro da administração Bush sobre o papel de Chalabi e seus colegas.
Com informações da agência Reuters.
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