| 18/04/2008 10h36min
Horrendo, asqueroso, desagradável, sujo, obsceno, apavorante, ignóbil, grotesco, vomitante, aflitivo, terrível. Esses são alguns dos 39 sinônimos para a palavra feio, enumerados pelo escritor italiano Umberto Eco no livro História da Feiúra. Adjetivos usados para definir aspectos que desagradam ou afetam os sentidos, incomodam os olhos, que fogem às convenções de uma época, de uma cultura. A palavra e suas variações também são usadas diariamente para julgamentos estéticos, diante de imperfeições como um nariz torto, um corpo ou um rosto desproporcional. Felizmente, tanto os conceitos de feiúra quanto os de beleza variam no tempo.Basta dizer que as musas inspiradoras retratadas por pintores do século 17 estariam, hoje, condenadas a encarar um spa.
Mas, afinal, o que é a feiúra? No passado, a expressão representou ausência de virtudes, mas também foi referência para dor, morte, martírio. Era a face do demônio e das bruxas. Hoje, é usada para definir aqueles que não se encaixam nos padrões
do que é tido
como belo. Por conta disso, muitos inconformados com a própria aparência cometem excessos na busca pela beleza e, ironicamente, acabam encontrando a deformidade, como no caso do cantor Michael Jackson. O escritor argentino Gonzalo Otálora ganhou fama mundial ao defender a cobrança de impostos dos lindos para compensar o sofrimento dos esteticamente menos favorecidos. "Quem disse que o amor é cego, a beleza subjetiva e o interior é o que importa?", provoca Otálora.
Umberto Eco alerta que nem sempre o feio pode ser entendido como simples oposto ao belo, já que a percepção dos atributos de harmonia e proporção, normalmente vinculados à beleza, mudaram de sentido no decorrer da história. Dessa forma, uma obra arquitetônica que era considerada bela no período barroco poderia desagradar um modernista. Diz o escritor italiano: "O feio é relativo aos tempos e às culturas, o inaceitável de ontem pode ser o bem aceito de amanhã". E conclui: "Hoje, os jovens tatuam-se, perfuram-se as carnes para
ficarem mais
parecidos com Marilyn Manson do que com Marilyn Monroe".
Qual é a linha que separa a busca pela harmonia da obsessão por um corpo idealizado? O que difere uma adolescente insatisfeita com a ponta do nariz, de figuras como o cantor Michael Jackson? Segundo especialistas, apenas uma conversa detalhada e honesta é capaz de identificar quem é o paciente que busca amenizar imperfeições e quem é o que luta para aplacar uma insatisfação permanente. A dismorfia corporal é uma doença ligada à insatisfação com o físico. A pessoa percebe o corpo de forma distorcida. Pequenos detalhes, como sinais, marcas ou cicatrizes, são encarados como deformidades.
- A pessoa não aceita as formas do corpo. Faz de tudo para mudar esteticamente algo que não aceita dentro dela mesma - resume a chefe de equipe da Clínica Ivo Pitanguy, Bárbara Machado.
No Brasil, a modelo Ângela Bismarchi é apontada como uma possível paciente. Já se submeteu a mais de 40 cirurgias plásticas. Só
uma consulta detalhada pode
diagnosticar a dismorfia, que atinge 7% dos que procuram tratamentos estéticos.
- O ser humano precisa ser enxergado como um todo. Cabe ao cirurgião dizer que não há indicação para a plástica. É o que se espera de um profissional sério - defende o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, José Pariki
- A cirurgia plástica não pode ser vista como instrumento de padronização. Não enxergamos a feiúra ou a beleza. Buscamos a harmonia - completa Bárbara Machado.
As propostas do autor |
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> Regras para que todos os desfiles de moda e publicidade fiquem atentos a todos os tipos físicos, com diferentes tamanhos de roupas. |
> Vagas específicas para feios nas empresas. |
> Vigilância integral nas escolas para evitar violência física e verbal. |
> Regras para o uso de photoshop e maquiagem em revistas de beleza e propagandas. |
> Inclusão de atores pouco atraentes como protagonistas em novelas românticas. |
> Proibição da cobrança de fotos em currículos de emprego. |
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