| 09/01/2008 05h25min
Há quase três décadas é assim: uma gurizada de 13 anos interrompe as férias de verão para mostrar ao mundo do futebol que podem ser os futuros craques. O 28º Encontro de Futebol Infantil Pan-Americano (Efipan) começou domingo em Alegrete trazendo no retrospecto a projeção de jogadores como Ronaldinho e Riquelme.
Pisar no mesmo campo que revelou esses astros aguça a imaginação dos jovens — e os fazem sonhar com salários milionários. Pelo menos um deles já é bem pago.
O gramado do Estádio Farroupilha transforma os garotos. O encabulado Jean Mustafá, 13, fica cheio de desenvoltura perto da bola. Ele, que caminhava 90 quilômetros de sua casa até seu clube em Manaus, o Rio Negro, ficou com os olhos marejados quando recebeu a notícia, ainda que por acaso, de que estava sendo sondado por um time espanhol. A ressalva do técnico Edu Lima não desanimou o zagueiro de pernas compridas.
— São só sondagens. Não falamos nada aos meninos antes para não criar falsas
expectativas. Mas agora ele acabou
ouvindo nossa conversa. Está todo bobo, né, Jean? — comentou o técnico.
Num misto de ansiedade e apreensão, Jean respondeu:
— Meu sonho é jogar no Barcelona. Se eu for mesmo, meus três irmãos vão enlouquecer. Minha mãe vai chorar, mas meu pai vai gostar. É a promessa de um futuro bom.
Mais do que uma competição, o Efipan ganhou o mundo porque muda a vida dos guris, diz Antônio Carlos Fagundes, presidente do Flamenguinho de Alegrete, clube promotor do evento:
— Por ser um campeonato sério, nos tornamos tradicionais. Vários olheiros vêem todos os anos. Os guris começam a olhar o mundo diferente, a terem objetivos de vida diferentes.
Que o diga um dos destaques do Flamenguinho, Pedro Cauã Santos, 13, emprestado pelo Grêmio.
— Antes eu só pensava em brincar, jogar na várzea. Minha mãe é quem sustenta a casa. Hoje, com a ajuda de custo, posso auxiliá-la, e isso me fez ver a vida de um outro
jeito — afirmou Pedro, fã de Santos e Palmeiras.
Menino de
12 anos já
recebe R$ 10 mil mensais
Aos 12 anos, Jean Carlos Chera recebe mensalmente mais de R$ 10 mil, entre patrocínio e salário. Nascido no Mato Grosso e revelado no Adap, do Paraná, atua desde 2005 no Santos e já teria recebido propostas do Manchester United, do Porto e do Sevilla. No fim de 2007, participou do jogo dos amigos do goleiro Rogério Ceni.
— Quero ser um Ronaldinho, meu ídolo — disse o meia-atacante, que fez um gol ontem nos 5 a 0 sobre o Rio Negro de seu xará Jean Mustafá.
Jean Carlos vive com os pais na cidade de Santos, treina duas horas por dia, estuda e, no resto do tempo, joga futebol no videogame (seu preferido é o Winning Eleven). Levando uma vida de estrela mirim, ele mantém uma coleção de álbuns nos quais registra entrevistas para os principais meios de comunicação do país, jogos de futebol com famosos e abordagens de fãs. Seu personal trainer, Vaudison Souza, o descreve como um menino calmo.
— Ele já tem um certo status, que não subiu à
cabeça. É muito disciplinado. Tem um grande futuro — afirmou Souza, contratado para que o garoto não perca o pique nas férias.
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