| 24/07/2007 20h40min
Medalha de ouro em duas provas nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, a nadadora Rebeca Gusmão quer evitar o clima de “já ganhou” nos Jogos Olímpicos de Pequim, no ano que vem. Rebeca entrou para a história da natação brasileira ao conquistar pela primeira vez o ouro numa prova feminina – venceu nos 50m livre e também nos 100m livre –, além de ter sido medalha de prata no revezamento 4x100m livre e bronze no 4x100m medley.
As medalhas da brasiliense de 23 não poderiam ter sido conquistadas em lugar mais significativo. Além de terem sido obtidas em uma competição no Brasil, o feito aconteceu no Parque Aquático Maria Lenk, local batizado com o nome de uma das pioneiras da natação feminina e também a primeira sul-americana a disputar a modalidade em uma olimpíada, no caso, os Jogos de Los Angeles, em 1932.
A exemplo de Maria Lenk, Rebeca quer continuar quebrando tabus na natação feminina brasileira. Embalada pelo melhor tempo da sua carreira – os 25s05 nos 50m livre – ela agora quer baixar sua marca e buscar novas medalhas. No próximo dia 4, a nadadora embarca para a Universíade, na Tailândia, onde busca outro ouro inédito para a natação feminina do Brasil. Segundo Rebeca, a competição tem nível olímpico, já que reúne os melhores atletas universitários do mundo. Depois, quer medalhas em um mundial e numa olimpíada. Mas, tudo ao seu tempo, como garante Rebeca.
De passagem por Florianópolis para uma clínica com jovens nadadores e também para ministrar uma palestra nesta quarta-feira sobre motivação, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Rebeca concedeu a seguinte entrevista ao clicRBS:
ClicRBS: Com estes resultados no Pan, como você está se preparando para Pequim?
Rebeca: Vou treinar bastante para melhorar estas minhas marcas, mas acho que sim, que foi um grande passo (no Pan). Tenho muito a melhorar para fazer uma prova perfeita. Agora é focar, ver tudo de errado que eu
fiz para corrigir nos treinos. Mas foi o meu melhor
resultado, sai com a medalha de ouro e eu fiquei com aquele gostinho de quero mais.
ClicRBS: O que você precisa melhorar?
Rebeca: Acho que a minha parte da saída ainda tem muita falha, não fiz uma chegada perfeita, alonguei muito a braçada, mas são detalhes que podem ser corrigidos, principalmente, a parte de saída, pelo menos 30, 40 centésimos, que já podem me colocar num pódio olímpico.
ClicRBS: Como foi ganhar essa medalha no Pan?
Rebeca: A primeira coisa foi dizer ‘caramba! Fiz 25s05. caramba, fiz recorde sul-americano. Caramba, fiz índice olímpico. Caramba,fiz recorde pan-americano. Caramba, ganhei a prova!’ Aí depois, ‘caramba, fui a primeira mulher’, quando veio a medalha de ouro. É muito gratificante. É claro que não vou me acomodar, em querer ser a principal personagem dessa história. O meu objetivo é nadar nos 24s. Eu fiquei
com naquele gostinho do quero mais e já estou focada para isso.
ClicRBS: Como você avalia esta fase da natação com os seus dois ouros e o os outros seis ouros do Thiago Pereira no Pan?
Rebeca: Sem dúvida, o Thiago Pereira foi o grande destaque, ele conseguiu marcas excelentes, mas eu ainda acho que o César Cielo foi o grande destaque, o tempo que ele fez foi realmente absurdo. Mas o Thiago é um menino que chamou atenção em Atenas, quando ele tinha o terceiro melhor tempo daquele ano e ele saiu com o quinto lugar de lá. Logo em seguida, quando passou essa pressão da mídia, ele foi campeão mundial, aí teve um problema no joelho, ficou parado, teve que ficar de fora do mundial, teve o campeonato de Xangai, que ele não se destacou. Então, pra ele, ficou muito difícil essas coisas na cabeça dele, mas hoje ele está bem mais maduro. Mas é um menino que com certeza pode chegar num pódio olímpico, tem todo o talento, tem uma comissão técnica maravilhosa.
ClicRBS: Mas você acha
que dá para sonhar com uma medalha em
Pequim?
Rebeca: Está um pouco longe, mas eu até prefiro isso por causa da pressão, porque mulher para segurar pressão é mais complicado do que homem. Se a gente chegar numa olimpíada e conseguir um grande resultado e sair de lá com alguma medalha, será uma surpresa, para os meninos é uma cobrança. É completamente diferente. Então, a gente está nesta crescente, dando um passo de cada vez.
ClicRBS: Diante desse oba-oba com a natação brasileira, numa época de olimpíada como é que vocês vão trabalhar com isso?
Rebeca: Acho que encerrados os Jogos Pan-Americanos temos que virar a página. Essa semana a gente tem para descansar, para dar entrevista. Mas tem que virar a página, começar a pensar em Pequim sem criar muito a expectativa que foi criada para Atenas. É deixar fluir, deixar que os resultados venham com o tempo, eles virão naturalmente, o que é muito
melhor.
ClicRBS: A tua força chama atenção dentro da piscina. Como
que você chegou a essa forma física?
Rebeca: Claro que ninguém vai ficar com um corpo forte do dia para a noite. No meu caso, sou velocista, malho desde os 12 anos, tive o resultado dessa musculação nos últimos quatro anos. Então é dedicação. Faço quatro,cinco horas de treino, de segunda à sábado, e a gente vê o resultado a longo prazo. Se eu fui a primeira mulher a ganhar uma medalha numa prova de velocidade que exige força, técnica e explosão é porque esse foi um trabalho de 10 anos
ClicRBS: E essa forma mania de abrir o copinho da água com o dente, é alguma mania tua, alguma superstição?
Rebeca: Não, é porque é mais prático (risos). É a agressividade até com a água (risos)
ClicRBS: Você se considera uma pessoa agressiva, na forma de competir?
Rebeca: Como atleta eu sou muito agressiva, acho que
tem que ser agressiva, você tem que ter raça. Ninguém chega lá sem raça, sem agressividade. Tem que
ser guerreiro.
ClicRBS: Você é casada (há dois meses) com um cantor de ópera e você é nadadora. Como é que um dá apoio para o outro num universo tão diferente de atividades? Ele canta para te acalmar?(risos)
Rebeca: Mundo diferente, mas é um mundo muito parecido. Ele é tranqüilo, a gente se dá super bem. Ele entende bastante esse lado da competição, trabalha com performance, sabe com é estar treinando. Ainda bem que não entende de natação, porque seria até chato, mas acho que é uma boa mistura.
ClicRBS: E você já entende alguma coisa de ópera?
Rebeca: Falei que nunca tinha ido numa orquestra, já fui duas vezes, assisti várias apresentações dele, adorei assisti-lo atuando e com o tempo a gente vai pegando. Do mesmo jeito que ele não entende de tempo eu vou começando a entender de
ópera.
ClicRBS: E na hora de escolher a música no carro, como é que fica?
Rebeca: É engraçado,
porque às vezes quando eu saio num carro e ele sai em outro, quando a gente chega no mesmo lugar eu estou escutando um rock e ele escutando aquele CD de ópera. Fica até engraçado de se ver. Mas é aquele negócio: se eu estou em uma competição em que eu vou nadar 50m livre, realmente eu não posso escutar ópera (risos), eu tenho que escutar alguma coisa que me deixe mais animada. Mas eu acho lindo, admiro muito porque do mesmo jeito que a gente trabalha com o corpo ele trabalha com a expressão com voz e ter o controle disso é fantástico.
Ana Rosa
ana.rosa@rbsonline.com.br
Rebeca Gusmão, à beira da piscina da UFSC, é observada pelos pequenos nadadores
Foto:
Glaicon Covre
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