| 10/09/2005 08h51min
O avião que trará o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), de volta ao Brasil sofreu atraso em sua saída de Nova York e só deverá chegar a São Paulo por volta das 20h, segundo a GloboNews TV. Só depois, o avião seguirá para a capital federal.
Em Nova York desde terça para a II Conferência Mundial de Parlamentares, Severino passou todo o tempo monitorando de Manhattan a crise política e as acusações contra ele, enquanto cumpria mecanicamente uma agenda com encontros entremeados a recepções, almoços e jantares. Só na sextaele fez dois pronunciamentos, mas acabou indo embora sem assinar a declaração final da conferência.
Em Brasília, o presidente da Câmara tentará salvar seu mandato. Antes de deixar a cidade americana, Severino disse, de novo, que renúncia é uma palavra inexistente para ele, mas uma licença já é uma hipótese. Sobre isso, afirmou, dará mais informações no Brasil.
– Licença? Quando chegar no Brasil informarei. Irei conversar com meus auxiliares em Brasília – disse.
Ao desembarcar, Severino sentirá que a pressão por seu afastamento é enorme, e os partidos de oposição já ameaçam se rebelar e até boicotar votações presididas por ele.
Em Nova York, Severino disse a amigos que não tomará nenhuma decisão antes da reunião da Mesa da Câmara, terça-feira. A aposta entre alguns políticos e assessores que o acompanhavam é de que ele pedirá licença do cargo.
Aos aliados políticos, assessores e familiares que permaneceram em Brasília, Severino sustentou, por telefone, que não renunciará ao cargo nem pedirá licença. Apesar dos apelos de aliados para que pelo menos se afastasse do cargo, para cuidar da defesa do mandato, Severino reagiu de forma enfática à proposta.
– Vou morrer lutando. Vou enfrentar essas acusações e provar que sou inocente – disse ele a interlocutores.
De Nova York, Severino informou-se sobre as notícias do Brasil com o filho José Maurício, com a filha, deputada estadual Ana Cavalcanti (PP-PE), com assessores e deputados aliados. Em telefonema ao amigo e deputado Ciro Nogueira (PP-PI), Severino negou que poderia pedir licença do cargo.
– Ele afirmou que quer provar sua inocência e não pensa nem em renúncia nem licença – disse Nogueira, que é corregedor da Câmara.
Mas uma espécie de "afastamento branco", que pode ser efetivado por meio de licença médica, foi discutida ontem em Brasília. Se Severino resistir à idéia do afastamento ou renúncia, os amigos mais próximos podem aconselhá-lo a adotar essa solução intermediária, pelo menos para esta semana, evitando, assim, que ele presida a sessão de votação do processo de cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Foi logo depois de fazer seu discurso de quatro minutos na ONU que Severino deu uma emocionada entrevista, na sede da missão brasileira, reafirmando sua inocência, dizendo que abriria mão do sigilo bancário e informando que sairia dali direto para fazer as malas e tomar o avião, decidido a refutar as acusações de que assinara um contrato de gaveta dando ao empresário Sebastião Buani a prorrogação da concessão do restaurante Fiorella, em troca do pagamento de R$ 40 mil e um mensalinho de R$ 10 mil.
– Eu não assinei este documento – afirmou, dizendo que não poderia informar se o contrato era falso pois nunca vira o documento.
Chamou Buani de um indivíduo sem as qualificações necessárias e declarou-se indignado com a maneira como este episódio está sendo conduzido, considerando que está sendo condenado sem apresentação de provas.
– Não quero ser enforcado antes do tempo – disse.
Não acredita na possibilidade de o empresário cumprir a promessa de apresentar terça-feira o cheque de R$ 10 mil que diz ter usado para pagar uma das parcelas do mensalinho.
– Que ele apresente o cheque, eu fico aguardando e irei tranqüilamente enfrentá-lo – afirmou.
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