| 06/09/2005 17h10min
As conseqüências do furacão Katrina mobilizaram líderes da comunidade negra dos Estados Unidos, que exigem respostas diante do aparente racismo nos trabalhos de evacuação e resgate de milhares de desabrigados, a maioria pobres e negros. Há em todo o país orações pelas vítimas e pedidos de doações. Mas, além da grande solidariedade, há a ira por causa da aparente passividade do governo nos primeiros dias.
A principal reclamação é que os ricos, na maioria brancos, conseguiram fugir a tempo pela estrada ou de avião, enquanto não houve um plano de evacuação viável para os pobres. Alguns afirmam que a devastação causada pelo Katrina era uma tragédia anunciada e, no entanto, as autoridades locais e estaduais não organizaram, por exemplo, caravanas de ônibus para evacuar os moradores.
Nova Orleans é um dos destinos turísticos mais famosos dos EUA, mas a cidade – onde a população negra é maioria – também é uma das que têm o maior número de pobres do país, e onde as diferenças sociais são mais extremas. Só no condado de Orleans, 34% das famílias vivem abaixo da linha nacional da pobreza, ou seja, quase não conseguem suprir suas necessidades básicas. Para muitos, os cheques de assistência pública eram a única forma de sustento.
O legislador democrata John Lewis, da Geórgia, lamentou em vários foros públicos o fato de os negros pobres terem sido abandonados à própria sorte e de a ajuda prometida ter demorado a chegar. Lewis disse que a tragédia de Nova Orleans lembra a miséria que viu na Somália, em 1992. Mas, "estamos nos EUA e não somos um país do Terceiro Mundo", e a resposta inicial foi "uma vergonha nacional", disse o legislador.
Diane Watson, legisladora democrata da Califórnia, se juntou aos protestos e disse que Katrina revelou as desigualdades econômicas e sociais que existem no país. O presidente da Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (NAACP, em inglês), Bruce Gordon, pediu hoje que o Congresso estabeleça um fundo para as vítimas do Katrina, como fez com as pessoas que sofreram com os atentados de 11 de setembro de 2001.
Grupos como o Internacional Action Center, a coalizão Answer e o American Progress Action Fund concordam que a ajuda chegou muito tarde para as milhares de pessoas na Louisiana, no Mississippi e no Alabama que podem ter morrido por causa da passagem do Katrina.
Como parte de sua campanha de propaganda, o presidente George W. Bush prometeu hoje que os erros e acertos das autoridades serão averiguados, não tanto para buscar culpados, mas para garantir que, no próximo desastre natural ou ataque terrorista, os EUA tenham melhor capacidade de resposta.
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