| 19/08/2005 08h43min
Os caminhos para se fazer cinema no Brasil, segundo o cineasta Domingos Oliveira, são dois: o que depende dos outros e o que não depende de ninguém. No Festival de Gramado, o diretor carioca mostrou o resultado da opção pela trilha da autonomia. Carreiras, estrelado por sua mulher, Priscilla Rozembaun, tem orçamento declarado de R$ 35 mil, no total, e foi realizado em vídeo digital.
– Mostro que é viável trabalhar sem patrocínio – orgulha-se Domingos, que divulga em Gramado, informalmente, seu manifesto B.O.A.A. (Baixo Orçamento e Alto Astral).
O manifesto em defesa de filmes bons e baratos, explica o cineasta, não é corporativo:
– É um projeto pessoal, o que eu faria se fosse um legislador. A missão do artista é cochichar no ouvido do príncipe. Um exemplo: em vez de investir R$ 4 milhões de dinheiro público em um só filme, por que não encarar com simpatia entregar R$ 100 mil para 40 cineastas? Quem for talentoso vai saber ir atrás do resto. E se desses 40 sair um filme bom, já terá valido a pena.
Domingos crê no modelo de produção via cooperativa, como fez em Carreiras: todos os envolvidos investem e depois ganham (ou perdem). Mas deixa claro que, mais que uma bandeira, o B.O.A.A, ao qual também chama de O que é isso, cinema brasileiro?, é um estímulo para diversificar e modernizar a produção cinematográfica nacional.
– Tenho projetos de filmes e de peças, caros e baratos, mas não fico esperando a boa vontade de patrocinadores ou do governo. O vídeo tem cada vez mais qualidade e é uma alternativa barata. Quem tem preconceito contra o vídeo se comporta como aqueles que eram contra o cinema falado, serão vencidos pela história.
Festival de Gramado |
Filme caro é filme bom? |
Tizuka Yamasaki, diretora de Gaijin 2 - Ama-me como sou, produção de R$ 10 milhões, o mais caro filme exibido em Gramado, responde: "Não pode haver patrulha. Precisamos fazer filmes, caros, baratos, experimentais. A proposta define o meio. Não precisa fazer documentário em cinemascope, como não é ideal fazer um épico em vídeo." |
Carlos Gerbase, diretor de Sal de prata, responde: "Meu filme trata de um filme realizado de duas maneiras: cara e barata. É assim que tem que ser, o cinema brasileiro precisa de grandes sucessos de bilheteria, que puxam para cima outros de orçamentos mais modestos. A discussão vídeo/película interessa a quem faz cinema, para o público importa se o filme é bom ou ruim." |
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