| 10/08/2005 02h19min
Em mais de 14 horas de depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) do Mensalão, o publicitário Marcos Valério apresentou nomes de beneficiados com dinheiro para a campanha eleitoral em 1998, falou sobre empréstimos ao PT, sobre relações com dirigentes petistas e disparou duras críticas ao deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Ele apresentou novidades em relação ao depoimento à CPI dos Correios, mas deixou em parlamentares a sensação de que não teria falado tudo o que sabe.
– Eu entrei no seu coração e vi que o senhor não está falando a verdade – provocou o deputado federal gaúcho Júlio Redecker (PSDB), já na madrugada desta quarta.
A resposta de Valério a Redecker foi curta.
– Eu tenho uma palavra: eu fui usado – disse o publicitário, se referindo ao PT.
Valério afirmou ainda estar em meio a um tsunami.
– Fui usado pela cúpula do PT – disse Valério sobre as denúncias em que está envolvido desde que foi apontado por Jefferson como o operador do mensalão.
Pressionado pelo deputado José Rocha (PFL-BA), o publicitário de Minas afirmou que os nomes ligados à cúpula do PT à qual se referia eram o deputado José Dirceu (PT-SP), o ex-presidente petista José Genoino e os ex-integrantes da direção nacional do PT Delúbio Soares, Sílvio Pereira e Marcelo Sereno.
Pouco mais de um mês depois do depoimento à CPI dos Correios, Valério deu mais detalhes sobre operações que sustentariam esquemas de caixa dois para financiar campanhas. Mas não esclareceu tudo o que os parlamentares queriam.
– Se eu pudesse voltar atrás, eu voltaria – disse Marcos Valério à deputada Perpétua Almeida (PC do B/AC).
O publicitário também disse que se sentia traído por antigos aliados. O empresário se chamou de "idiota" ao se referir a antigos aliados que teriam lhe virado as costas depois da divulgação de denúncias contra ele. Referindo-se a si próprio na terceira pessoa, Valério contou que sua mulher, Renilda de Souza, está revoltada com a situação e disse que ela tem razão em sentir "todo o rancor do mundo".
Por duas vezes, na primeira hora de depoimento, Valério, que ao se apresentar disse ser ex-empresário, pediu desculpas ao país e aos parlamentares por "omissões na CPI dos Correios".
Apesar de arrependimento, pedidos de desculpa e referências à traição de ex-aliados, Marcos Valério, o homem apontado por Jefferson como o operador do suposto mensalão na Câmara dos Deputados, soube atacar.
Valério disse que entrará com ação na Justiça para manter os contratos cancelados pelo governo, uma vez que, segundo o empresário, os contratos eram legais, amparados pela Lei de Licitações. Ele afirmou ainda que acionará o PT judicialmente para a reparação dos prejuízos que teve como o cancelamento dos contratos e com o não-reconhecimento da dívida referente ao empréstimo de R$ 55 milhões.
A versão apresentada na CPI do Mensalão sobre os empréstimos que avalizou ao PT complicam ainda mais a situação do deputado José Dirceu (PT-SP). Conforme o empresário, o ex- ministro da Casa Civil sabia das operações e deu o aval para o repasse de, segundo ele, R$ 55,2 milhões. Corrigido, sustenta Valério este valor pode passar de R$ 100 milhões.
Marcos Valério disse ter sido informado de que o ex-ministro sabia das operações pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Valério explicou como foram feitos os empréstimos, que separou em duas categorias.
– Os empréstimos para o PT tiveram o meu aval, o aval de Genoino e de Delúbio e foram diretamente para o PT.
Eles foram feitos no BMG e no Banco Rural, um no valor de R$ 2 milhões e outro no valor de R$ 3 milhões. Depois foi solicitado um empréstimo junto ao BMG com o aval do empresário de seus sócios. Segundo Valério, este dinheiro tomado emprestado pelas suas empresas foi repassado integralmente ao PT ou a quem o Delúbio mandava. Sobre envio de dinheiro ao PT gaúcho, o publicitário disse que "provavelmente" passou R$ 200 mil para Paulo Bassoto, na agência do Banco Rural, em Brasília.
Os ataques mais ferozes de Valério tiveram como alvo Roberto Jefferson. Ele disse que o petebista intimidava o ex-tesoureiro do PTB Emerson Palmieri. Valério disse que fez viagens a Portugal para tratar de negócios com a Portugal Telecom, uma delas com Palmieri. E desmentiu diversas afirmações de Jefferson à CPI, inclusive a de que uma das viagens destinava-se a obter recursos para cobrir despesas de campanha do PTB e do PT. Palmieri teria dito a Valério que Jefferson queria que ele buscasse dinheiro no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), com o genro do deputado (Marcus Vinícius Vasconcelos Ferreira).
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