| 09/03/2005 18h40min
Levantamento do Instituto de Economia Agrícola de São Paulo (IEA) revela que nove de 10 commodities agrícolas analisadas em fevereiro (açúcar, café arábica, café robusta, suco laranja, soja grão, milho, trigo, borracha, boi BM&F) apresentaram crescimento de preço nos mercados futuros. Somente algodão fechou o mês em queda. No acumulado de 12 meses, contudo, grãos e fibras continuam com fortes variações negativas, especialmente algodão, soja, milho e trigo.
A estiagem que está ocorrendo na Argentina, no Paraguai e no Brasil (regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste) deve reduzir a produção esperada de soja, com início de recuperação das cotações do produto nos mercados de futuros que se deverá confirmar nos próximos meses. Os preços do algodão caíram em função da safra recorde dos norte-americanos e de um mercado internacional superofertado. Já o milho, mesmo com a supersafra dos países do Hemisfério Norte, ensaiou leve recuperação das cotações em função da maior demanda
americana para produção de
etanol. As cotações do trigo também tiveram recuperação em fevereiro devido a um aquecimento do mercado internacional e à indicação de alta das cotações da soja.
Para o suco de laranja as cotações médias subiram 4,55% em fevereiro em função do clima desfavorável na Flórida e da menor oferta de laranja no Estado de São Paulo, e a tendência é de continuarem em alta. Já a maior demanda internacional por açúcar, superior à oferta, continua a pressionar as cotações do produto no mercado internacional, que apresentou a maior alta das cotações médias dos 10 produtos analisados no acumulado de doze meses.
O café arábica confirmou a tendência de alta, sustentada pelo déficit mundial devido à menor oferta do Brasil e demais produtores latino-americanos. As cotações médias em fevereiro fecharam com 11,95% de aumento e acumulam alta de 55% em doze meses, tornando o arábica o produto com o segundo maior crescimento. Ao mesmo tempo a menor oferta de café robusta no mercado internacional provocou forte alta em fevereiro nas cotações médias, que atingiram 14,80%, iniciando uma fase de recuperação das cotações do produto no mercado de futuros de Londres. A expectativa é de manutenção da tendência de alta das cotações do café arábica em Nova York e o início de recuperação das cotações do robusta na bolsa de Londres.
As cotações da borracha natural encontram-se em ascensão em 2005, com crescimento de 4,93% em fevereiro, mas continuam com tendência indefinida no acumulado de 12 meses, o que deve compensar em parte a valorização do real, permitindo uma recuperação dos preços recebidos pelos produtores brasileiros no primeiro semestre. Por outro lado, as cotações médias do boi em fevereiro na BM&F apresentaram leve alta de 3,01%, revertendo a queda que se verificava desde novembro de 2004 devido à intensificação das exportações e à valorização do real.
Ao considerar a valorização do real nos últimos 12 meses, verifica-se um valor da ordem de 22,43%, com
impacto nas exportações de
commodities agrícolas do país, o que traz apreensões e expectativa de prejuízos para o setor. Além disso, no caso de grãos e fibras, têm-se de considerar a queda nas cotações internacionais e as perdas pelo intenso veranico que vem atingindo os Estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, comprometendo as produtividades esperadas. Neste contexto, está surgindo forte mobilização do setor nas reivindicações de políticas públicas anticíclicas, no sentido de amenizar as perdas e permitir que os produtores possam ter condições de continuar na atividade.
Em função da mobilização dos produtores e de suas organizações, o Governo Federal iniciou a implementação de medidas visando dar suporte ao setor para enfrentar a crise que se avoluma com os efeitos da estiagem que atinge metade das áreas de plantio da safra de verão do ano agrícola 2004/2005. Entre elas estão a prorrogação das dívidas de
investimento que
vencem neste ano, consideradas caso a caso, autorização da prorrogação por 30 dias para o algodão e de três meses para o trigo dos créditos de custeio vencidos e a vencer e liberação de R$ 3 bilhões para financiar a comercialização da safra, dos quais R$ 1,90 bilhão com juros de 8,75% ao ano, incluindo os produtores de soja como beneficiados com o Empréstimo do Governo Federal (EGFs), e outros R$ 1,60 bilhão a taxas de juros livres e de crédito rural, dependendo da evolução dos depósitos à vista.
As decisões tomadas nessa primeira rodada de negociações ainda estão aquém das necessidades do setor, principalmente para os produtores da região Sul, que têm sofrido perda de até 50% nas suas colheitas de milho e soja, necessitando, portanto, de novas medidas para aliviar a crise na produção de grãos e fibras no Brasil nesta safra.
© 2009 clicRBS.com.br ? Todos os direitos reservados.