| 19/02/2005 14h38min
O preço da soja brasileira da safra 2004/2005 deve enfrentar uma forte queda. O produto, que chegou a ser comercializado a R$ 45 no ano passado, já registra em algumas regiões do Mato Grosso o valor de R$ 20. A estimativa de baixa é do membro titular da Câmara de Soja e Milho da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BMF), André Souto Maior Pessôa, que aponta a quantidade do produto disponível no mercado e a taxa de câmbio brasileira como razões para a queda dos valores.
– Os preços internacionais estão muito deprimidos porque existe estoque bastante elevado de soja no mundo, talvez o maior da história. Além do que, a taxa de câmbio no patamar que se encontra é absolutamente desvantajosa, principalmente para a agricultura, o que deprime a renda dos produtores – afirma.
Segundo a Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab), a safra brasileira deve chegar a 61,41 milhões de toneladas, uma das maiores da história, 23,4% maior que a anterior. Mas, apesar do aumento da produção, o consultor da BMF explica que a queda nos preços comparativamente é mais significativa do que o aumento da produção, e isso gera um cenário de prejuízo no setor.
– A queda dos preços é mais do que proporcional ao aumento da produção. A rentabilidade está muito baixa. Em algumas regiões do país, ela hoje está negativa. Isso significa que o produtor está tendo prejuízo na colheita. E a situação para 2005/2006 não é melhor. Além de amargar um prejuízo, o produtor não vê perspectiva de recuperação no curto prazo – analisa.
De acordo com Pessôa, apenas uma safra muito ruim dos Estados Unidos ou da Argentina salvaria os produtores brasileiros de uma situação de crise.
– É muita soja na América do Sul. Para o mercado se equilibrar, haveria necessidade de uma verdadeira hecatombe nos Estados Unidos. Os americanos teriam que ter uma das suas piores safras, repetir o que aconteceu em 2003, quando tiveram uma safra terrível. Mesmo se eles tiverem uma safra abaixo do normal, mas não muito ruim, a situação do preço continua desfavorável – diz.
A opinião de Pessôa é a mesma explicitada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) do Governo Federal, em pesquisa divulgada em janeiro. Segundo o estudo, caso não haja uma quebra na safra da Argentina ou dos Estados Unidos, é provável que ocorra uma crise financeira na agricultura brasileira de soja "devido ao seu (provavelmente alto) nível de endividamento contraído na fase anterior, de preços favoráveis".
Segundo o Ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, a situação do setor da sojicultura já faz com que o governo brasileiro pense em alterar seu comportamento em relação aos subsídios fornecidos pelo governo norte-americano em benefício de seus produtores. Nos EUA, o governo garante uma renda mínima ao produtor, mesmo que a rentabilidade da safra tenha sido ruim.
– Agora as coisas se inverteram, e nós temos uma necessidade de competir com custos elevados e preços mundiais mais baixos do que os preços de sustentação norte-americanos. É chegado o momento de estudar a possibilidade de um painel na Organização Mundial do Comércio – OMC - em relação à soja, mas ainda o setor privado está examinando o assunto, porque isso é um painel caro. O setor privado está pensando na questão. Nós estamos encorajando o setor a pensar nisso – afirma Rodrigues.
Além da queda nos preços, os produtores enfrentam problemas relacionados ao clima.
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