Pela primeira vez em uma década, a população de vários municípios da Região Norte do Rio Grande do Sul está ameaçada de racionamento. Em Aratiba, Paim Filho, Maximiliano de Almeida, São Domingos e Vila Maria, a água chega às comunidades rurais com caminhão-pipa. Local de economia essencialmente agrícola e com a maior parte das propriedades de agricultura familiar, a estiagem ameaça a economia dos municípios.

O agricultor Lírio Fochi, de 58 anos, morador de São Domingos, já perdeu 90% da safra de milho e 50% da de soja. Agora, a estiagem atinge a sua produção leiteira. Sem água para dar para os animais, Lírio recebe todos os dias um caminhão-pipa da prefeitura. Mesmo assim, a produção de leite caiu de 900 litros por dia para 450 litros. O prejuízo é de R$ 8 mil mensais.

– É terrível, vamos colher menos soja, milho e feijão e além disso enfrentamos um mercado com preços baixos. Isto vai reduzir o capital circulante na região, que é essencialmente agrícola – projeta Flávio Bonfada, técnico regional da Emater/RS.

Na propriedade de Lídia Cerbaro, de 77 anos, a esperança estava no açude onde cria carpas de três espécies. Com o sol forte, o nível de água baixou, deixando sem oxigênio os peixes e provocando a morte de dezenas. Na manhã da última terça terça mais de 20 peixes de três quilos foram retirados. Para tentar salvar o restante a produtora desviou água de um córrego para alimentar o açude.

– Estamos tentando salvar, a prefeitura vai tirar os peixes daqui e soltar no rio antes que morram todos – explica Lídia.

A mortandade de peixes poderá prejudicar também a venda para a Semana Santa, quando as feiras davam ao produtor uma renda extra. Para o consumidor, o peixe poderá chegar até 30% mais caro no almoço da Sexta-feira Santa.