| 15/02/2005 11h27min
A derrota do candidato oficial do PT à presidência da Câmara dos Deputados, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), foi uma demonstração de que a maioria dos deputados está insatisfeita com as ações promovidas pelo governo federal perante o Legislativo. Líderes da base aliada e da oposição reconheceram, após a vitória de Severino Cavalcanti (PP-PE), que existe uma diferença grande entre o que pensa o Executivo e o que desejam os parlamentares.
– O governo hoje conta com forças políticas que não são de sua inteira confiança. Acho que houve infidelidade e condução inadequada da campanha do Greenhalgh. Além disso, há insatisfação dos parlamentares em uma série de questões – disse o líder do PSB na Câmara, deputado Renato Casagrande (ES).
O vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), atribuiu a derrota do candidato oficial a um "alto índice de traição" dos partidos da base aliada. Albuquerque defendeu uma avaliação dos partidos que compõem a base aliada como forma de evitar surpresas futuras.
– Vamos ver se os partidos que estão no governo merecem continuar – disse.
Para o vice-líder, o "revanchismo" contra o governo poderia ser feito de outra forma, e não na escolha do novo presidente da Câmara. Albuquerque também criticou o lançamento de candidaturas avulsas à presidência da Câmara. Ele considerou a vitória de Severino Cavalcanti uma violação do princípio da proporcionalidade – que assegura aos partidos a distribuição de cargos na Mesa Diretora de acordo com o tamanho de suas bancadas.
– Isso abre um novo ciclo na Câmara de desrespeito às regras da proporcionalidade, onde cada partido a partir de agora pode fazer o que quiser – criticou.
Com a derrota de Greenhalgh, o PT perdeu o único cargo a que teria direito na Mesa Diretora da Câmara – a presidência. Por ser a maior bancada, com 91 deputados, o partido também poderia ocupar uma das quatro suplências da Mesa. Para consolidar a vitória do candidato oficial, o PT abriu mão da suplência em prol do apoio da bancada do PDT, e cedeu a vaga ao partido. Beto Albuquerque considerou "uma anomalia" a ausência do PT na Mesa.
– Não existe parlamento nenhum no mundo onde a maior bancada não tenha representante na Câmara – ressaltou.
O candidato derrotado do PFL, José Carlos Aleluia, atribuiu a derrota de Greenhalgh à falta de consistência da candidatura.
– Desmoronou porque não tinha consistência, e o governo tem uma base parlamentar fisiológica – destacou.
Já Virgílio Guimarães (PT-SP), também derrotado no primeiro turno, disse que havia na Casa o anseio por mudanças – o que o motivou a lançar a candidatura avulsa, contrária à indicação de Greenhalgh.
– A candidatura de Severino foi feita dentro das normas da Casa. Nunca tive atritos com o PT. Todos têm que ver com naturalidade as regras do jogo, onde as candidaturas avulsas são permitidas – concluiu.
A notícia da derrota do pT caiu como uma bomba no Palácio do Planalto. A vitória de pegou de surpresa o ministro da Educação, Tarso Genro, que acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na viagem à Guiana.
– Eu particularmente estou surpreso, porque por todas as informações que circulavam na imprensa, e pelas informações que a gente tinha, o presidenge da Câmara seria o Luiz Eduardo ou o Virgílio. É um ato politico da Câmara eleger quem ela quiser e o governo tem que respeitar – disse o ministro.
– É um ato de vontade política da Câmara que tem que ser compreendido por toda a sociedade e o Executivo obviamente assim o fará. Tem que ser compreendido com respeito e dentro do nível de qualidade das relações institucionais do processo democrático – destacou Tarso Genro.
Para o ministro, o jogo político tem que ser respeitado e a Câmara tem autonomia para eleger o presidente que corresponder naquele momento a visão aos seus interresses.
– Então, no meu ponto de vista pessoal, cabe encerrar este capítulo – afirmou.
As informações são da Agência Brasil.
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