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 | 30/01/2005 22h54min

Ativistas criticam políticas do governo Lula para água

Transposição do São Francisco foi apontada como projeto irreal

As empresas transnacionais que exploram os recursos hídricos e as políticas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o setor de saneamento foram alvo de duras críticas neste domingo, dia 30, no Fórum Social Mundial. Enquanto ativistas ligados a redes internacionais denunciaram o comprometimento dos governos dos países do norte com o que qualificaram de "máfia da água", os brasileiros prometeram dificultar o andamento de projetos como a transposição das águas do rio São Francisco.

– A transposição do São Francisco é a última grande obra da indústria da seca e a primeira grande obra do hidronegócio – Rubem Siqueira, coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Pela proposta do governo, as águas do rio São Francisco seriam captadas em dois pontos e distribuídas para áreas de seca de quatro Estados do Nordeste. O projeto tem recebido críticas e os ativistas argumentam que a iniciativa daria prioridade à implantação de lavouras irrigadas e criatórios de camarão.

– O consumo humano é a última das preocupações e o projeto beneficia apenas 0,5% da população do semi-árido – argumentou Siqueira.

Além do receio com o aumento do custo final da água, os opositores denunciam que há problemas técnicos que, a médio prazo, precisariam ser compensados pela mobilização de todo o sistema de bacias brasileiras.

Segundo o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura de Minas Gerais, a capacidade hídrica das áreas que receberão a água estaria subdimensionada, enquanto o volume dos mananciais nas regiões doadoras não seria suficiente para garantir a sobrevivência do projeto.

– O projeto não cumpre os requisitos técnicos. A transposição do São Francisco é uma irrealidade – disse Aldair Santos, representante do CREA (MG).

Os ativistas argumentam ainda que os estudos de impacto ambiental teriam sido feitos apenas nas regiões de captação de água e excluído os impactos e a necessidade de deslocamento de populações indígenas e quilombolas nas chamadas bacias receptoras.

As entidades ligadas à defesa do acesso à água devem promover uma campanha para desacreditar o Fórum Mundial da Água, cuja quarta edição deve ocorrer no próximo ano na Cidade do México.

– É uma reunião do Banco Mundial com as grandes empresas interessadas no setor. O problema é que as decisões são tomadas pelos governos como se fossem deliberações das Nações Unidas – argumentou a norte-americana Sara Crusky, integrante da Rede Vida. A organização pretende coordenar um sistema de vigilância e a mobilização para os protestos no México.

No Brasil, estas recomendações estariam sendo incorporadas à idéia das Parcerias Público-Provadas para o setor de saneamento.

– Pararam de falar em privatização. Agora falam em parcerias público-privada – disse Silvano da Costa, coordenador da Frente Nacional de Saneamento.

Para Costa, as PPPs irão desestruturar os serviços. Na sua opinião, o preço final da água seria maior e o custeio do sistema continuaria dependendo de subsídios públicos, já que 80% dos recursos investidos viriam do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Um dos grandes exemplos de sucesso citados pelos ativistas é a mobilização popular que conseguiu garantir a volta dos serviços de abastecimento de água ao domínio público no Uruguai.

Em outubro de 2004, junto com a eleição presidencial, foi feito um plebiscito popular que aprovou a inclusão de um artigo na Constituição Federal proibindo a concessão de serviços de abastecimento a empresas privadas. Cerca de 65 por cento dos eleitores optaram pela manutenção do caráter público do sistema de abastecimento.

As informações são da agência Reuters.

Veja as galerias de fotos do Fórum Social Mundial.


 
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