| 27/01/2005 08h50min
Um documento que circula entre a cadeia produtiva do trigo desde o final do ano passado no Rio Grande do Sul convoca os agricultores a boicotar o plantio do grão na safra de 2005. O texto serve de instrumento de pressão para que o governo federal atenda as reivindicações da classe. Nesta quinta, dia 27, em um ato chamado Caldeirão do Mercosul, triticultores descontentes terão o reforço de produtores de gado de corte, vinho e de outras entidades em um manifesto que será realizado no centro da capital gaúcha.
A partir das 12h haverá distribuição de carreteiro no Largo Glênio Peres, em Porto Alegre. Os organizadores esperam 20 mil pessoas na manifestação, que pedirá também a revisão do acordo com os países vizinhos. A idéia é aproveitar a movimentação do Fórum Social Mundial, que começou nesta quarta na cidade, para atrair a atenção do governo.
– Não pretendemos plantar trigo com prejuízo, como ocorre agora – explica Jorge Rodrigues, presidente da Comissão de Grãos da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Sindicatos, câmaras de vereadores e prefeituras estão distribuindo o documento via Internet buscando a adesão das comunidades que integram a cadeia produtiva do trigo.
– Recebemos entre R$ 16 e R$ 18 pela saca de trigo, que custa R$ 29 – argumenta Elmar Konrad, presidente do Sindicato Rural de Ibirubá.
Na última safra foram plantados 1.080.097 hectares no Estado, e a produção alcançou 2,074 milhões de toneladas, conforme dados da Emater. Os produtores estimam que ainda estejam estocadas 1,3 milhão de toneladas, sem contar o excedente do ano passado, esperando por melhores condições de venda. Os agricultores reclamam principalmente da importação do produto argentino e uruguaio, do baixo preço pago pela saca e das tarifas elevadas da navegação de cabotagem.
Eles pedem a aquisição de derivados do trigo pelos programas sociais, como o Fome Zero, o credenciamento de mais armazéns pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a suspensão das importações.
Conforme Ivan Wedekin, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, o governo vem desenvolvendo diversas ações para garantir a comercialização de milhões de toneladas de trigo nacional.
– O governo já garantiu a comercialização de 1,292 milhão de toneladas de trigo nacional até 14 de fevereiro. O problema é que neste ano não tivemos a válvula de escape das exportações, e o ministério trabalha com um orçamento muito baixo. Mesmo assim, o trigo é o produto mais amparado e vamos lançar outros leilões do Prêmio de Escoamento de Produção.
Wedekin destacou que as negociações com a Argentina são mais complexas porque envolvem uma discussão maior sobre as salvaguardas.
EDUARDO CECCONI/ZERO HORA
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