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Alta do petróleo encarece lavoura de soja no Rio Grande do Sul

Custos de produção no plantio que se inicia são superiores aos de 2003

Contas mais apertadas aguardam os agricultores ao final da safra 2004/2005. Com custos de produção superiores aos do ano passado e previsão de colheita mais cheia, o cenário que se desenha é preocupante para o produtor de soja, que inicia o plantio nos próximos dias.

A rentabilidade da lavoura, que foi de 60% em média em 2003 e chegou a 40% neste ano, não deve passar de 20% no ano que vem, na análise do diretor técnico da corretora Safras e Mercado, Flávio Roberto de França Junior.

Isso porque os custos de produção da oleaginosa no último ano aumentaram cerca de 20%, enquanto o preço da saca de 60 quilos se mantém no mesmo patamar de um ano atrás – entre R$ 32 e R$ 38 –, sem descontar a inflação, segundo a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro).

O diretor comercial da Cooperativa Tritícola Mista do Alto Jacuí (Cotrijal), Irmfried Schmiedt, vai mais longe. O dirigente afirma que o custo de produção da soja passou de 10 sacas por hectare para até 20 sacas por hectare (aproximadamente R$ 700 em valores de hoje).

O analista de mercado Antonio Sartori, diretor da corretora Brasoja, sustenta que o preço atual da soja é o mais baixo dos últimos dois anos. Em maio, a saca chegou a R$ 52, a maior cotação em 18 anos, e despencou 30% desde então.

Alie-se a isso a colheita nos Estados Unidos, que deve totalizar 77,2 milhões de toneladas de soja, e a perspectiva de produzir quase 10 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul (ante 5,8 milhões de toneladas colhidas na última safra), e fica claro que a lei da oferta e da procura não permite projeções otimistas. 

– A única válvula de saída é a produtividade. Se houver quebra de safra, será desastroso – avisa França Júnior.

Os itens de maior peso são os adubos e fertilizantes, que subiram até 30%. Produzidos com matéria-prima importada e derivada de petróleo, representam 20% dos custos totais da lavoura de soja e 22% no caso do milho, segundo a Fecoagro. O presidente do Sindicato da Indústria de Adubos do Rio Grande do Sul (Siargs), Torvaldo Antonio Marzolla Filho, afirma que a matéria-prima aumentou 47% internacionalmente.

Enquanto o Centro-Oeste importa 45% da matéria-prima, o Rio Grande do Sul importa 100% – é mais barato trazer de navio da Rússia do que de caminhão do Paraná. Além do impacto do aumento do petróleo sobre parte dos componentes – os nitrogenados –, a indústria de fertilizantes está arcando com o custo do frete, que conforme Marzolla, triplicou desde o início da guerra no Iraque. Marzolla diz que o transporte marítimo passou de US$ 10 para US$ 30 por tonelada/dia.

É das matérias-primas a culpa do aumento de 60% no preço do maquinário agrícola. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas do Estado (Simers), Cláudio Bier, o aço aumentou 115% no último ano. Embora não seja importado, o componente segue a cotação do mercado internacional.

Bier destaca que tudo que o Brasil exporta é nivelado pelo preço internacional, e 50% das nossas máquinas são vendidas para fora. Acrescenta que são as exportações que devem puxar as vendas neste ano. No primeiro semestre, a exportação de colheitadeiras superou em 55,7% os negócios de janeiro a junho de 2003. A venda de tratores para outros países, se comparados os mesmos períodos, foi 70,4% maior.

No ano passado, o litro do diesel custava menos de R$ 1,40. Neste ano, a média é de R$ 1,59, uma variação superior a 13%. O combustível representa 7% dos custos da lavoura de soja e 6,6% na cultura do milho. A mão-de-obra subiu mais de 10%, graças a acordos coletivos para repor a inflação conforme o Índice Geral de Preços ao Mercado (IGPM) ou o Índice de Preços ao Consumidor (IPC). A ameaça da ferrugem asiática exige gasto maior com aplicações preventivas de fungicidas. Mix de juros, que chegam a 178% ao ano. Depreciação das máquinas.

ISABEL MARCHEZAN/ZERO HORA

 
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