| 07/08/2010 05h23min
Não sei se foi antes ou depois do Renan pular sem ter decidido se iria abraçar, soquear ou engolir aquela bola, e levar aquele gol, que resolvi: só um calvados me faria aguentar o jogo até o fim. O calvados é um destilado de maçã feito para ser tomado na frente de uma lareira acesa enquanto se filosofa sobre a vida, mas em ocasiões especiais, como uma semifinal de Libertadores num Morumbi cheio contra um São Paulo esfogueado e com um ataque que raramente acertava um passe, serviria para acalmar os nervos.
Era o que estávamos precisando, eu e o time. Calma e filosofia. O que poderia acontecer de pior? O Renan, carcomido pelo remorso, largar mais três ou quatro bolas dentro da pequena área, nossos contra-ataques continuarem a não dar certo, o São Paulo continuar surfando no entusiasmo da sua torcida e fazendo mais três ou quatro, eu me despedindo da família e me atirando dentro da lareira. Só isso. Mas aconteceu uma coisa estranha. O calvados não me acalmou, mas teve um efeito contrário no Sandro e no Tinga, que tomaram conta do jogo. Empatamos. Depois o São Paulo aproveitou que eu fui me reabastecer e marcou o segundo. E os últimos minutos do jogo, já sem o Tinga em campo, quando um gol deles significaria a diferença entre os Emirados Árabes e a amargura, foram os minutos mais longos já registrados na história da cronologia.
Mas resisti razoavelmente intato. E o último gole do calvados foi para comemorar.
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