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 | 31/07/2010 15h30min

Torcedores que fazem da rivalidade Gre-Nal um vício

Veja histórias de fãs de Grêmio em Inter que vivem a paixão além dos jogos

Priscila Montandon - Zero Hora  |  priscila.montandon@zerohora.com.br

Não basta ter carteira de sócio, ir a todos os jogos do time, ter camisa, bandeira e discutir esquema tático. Para eles, pelo menos, não é suficiente. E em dia de Gre-Nal, a disputa é extracampo: quem é o apaixonado mais viciado? Em uma rua da Capital, o amor pela dupla está gravado no asfalto, uma esquina para o Grêmio e outra para o Inter.

Na casa de Rosa Foresti, não entra absolutamente nada vermelho. E no apartamento de Maria Rodrigues, em dia de jogo, um enorme cobertor vermelho pende da sacada escancarando a maior paixão.

Desde 2006, os moradores da Rua Louvre, no Jardim Itú Sabará, zona norte da Capital, convivem com as brincadeiras, nem sempre bem humoradas, de quem passa por ali e avista um enorme escudo do Inter pintado no asfalto, tomando todas as pontas do cruzamento. De carro, torcedores gremistas, vez ou outra, arrancam e freiam com força para provocar marcas de pneu em cima do desenho. E se há um leve buzinaço, a vizinhança já sabe que por ali passaram colorados.

Fábio Giordano, 30 anos, se juntou a um grupo de seis amigos naquele ano para pagar uma promessa:

– Se o Inter ganhasse a Libertadores, pintaríamos o símbolo na nossa rua. Foi preciso dois dias, seis horas por dia, e uns R$ 600 de tinta automotiva – conta o jovem, que mora na região desde os oito anos.

Em 2007, os gremistas fizeram o mesmo. Gianfranco Isidoro, 26, amigo de infância de Fábio, deu início à operação de pintura com a ala tricolor. Desde então, motoristas colorados também têm onde frear. Mas os vizinhos garantem convivência pacífica.

– Todo mundo é amigo há muito tempo. Na hora de fazer a vaquinha para pintar, colorados e gremistas ajudaram. Só em dia de jogo que não assistimos juntos – diz Gian, irmão do colorado Anderson, um dos pintores do símbolo do Inter.

As provocações acontecem, conta Fábio, até na hora de dar informação:

– Ali, na segunda divisão, à esquerda (apontando em direção à esquina gremista).

Em dia de Gre-Nal, os que não forem ao estádio se dividem em dois pontos diferentes. Gremistas assistem numa lavagem de carros em frente ao asfalto azul, branco e preto, e colorados num pequeno mercado, com vista para o símbolo do Inter.

Em outra parte da cidade, no bairro Higienópolis, vive, talvez, a mais gremista das gremistas. Fazer concorrência a Rosa Foresti é árdua tarefa. Aos 56 anos, ela nem sabe quando se apaixonou perdidamente pelo time, só sabe que, há décadas, uma regra impera em sua casa: nada, absolutamente nada, nenhum objeto, roupa ou qualquer outra coisa vermelha passa porta a dentro. Só tomate e ketchup.

– Nem Papai Noel. Todos que ganhei, vermelhos, pintei de azul. Nem meu Natal é vermelho – conta a torcedora, que carrega no carro, sempre, uma bandeira do Grêmio benzida pelo Papa João Paulo II em 2001.

Rosa não usa nem batom vermelho, no máximo cora os lábios com um "rosa antigo". Nos olhos, sombra azul, nas mãos anéis azuis e, nas orelhas, brincos idem. Nas unhas, mesma coisa. Só esmalte claro. Certa vez, ganhou de presente uma camisa, comprada na Itália, de seda vermelha. Lindíssima, como diz ela, mas ficou três anos guardada no armário e por duas vezes experimentada.

– Me olhei no espelho, e não consegui sair de casa – conta a diretora da Secretaria da Vara do Trabalho de Alvorada.

Conselheira do Grêmio e coordenadora do Núcleo de Mulheres Gremistas, Rosa é mãe de Rafael, 28, e André, 32, este batizado em homenagem a André Catimba, autor do gol em 1977 que deu o título gaúcho ao Grêmio. O vício é tamanho que ela programou ficar grávida, as duas vezes, em dezembro. Assim, seus filhos poderiam nascer no dia do aniversário do clube, 15 de setembro. Por um detalhe, não deu. André nasceu dia 11 - no dia anterior ela, inclusive, tinha ido ao Olímpico - e Rafael, dia 12.

E não muito longe dali, no bairro São Geraldo, Maria Rodrigues, 68 anos, vive orgulhosa num pequeno templo ao Inter. Além do enorme cobertor que pendura sacada abaixo em dia de jogo fora de casa - ela vai a todos no Beira-Rio -, ela desfila fardada da cabeça aos pés, camisa do Inter e calça vermelha, brincos da mesma cor e os sapatos, um crocs personalizado com o símbolo do clube.

– Sou sócia do Inter desde os Eucaliptos e toda a minha família é sócia.

Tem dezenas de camisas, jaquetas, bandeiras, livros, bonés, lenços, tudo temático. Guarda orgulhosa a primeira carteirinha de sócia da filha Virginia, feita há 40 anos. Aliás, Maria não deixou de ir ao estádio nem quando Virginia ou Altair eram bebês. Levava mantinhas e fazia "caminhas" para deitá-los enquanto ela assistia ao jogo ao lado do marido Ivo Rodrigues, o grande incentivador da paixão da mulher.

– Certa vez, o Altair tinha pouco mais de um ano, eu levantei depressa para comemorar um gol e ele rolou degrau abaixo. Foi um sufoco.

Ao lado da carteira de Virgínia, Maria e Ivo preservam outra relíquia: o ingresso do jogo de inauguração no Beira-Rio. Eles compraram a mais só para guardar de lembrança.
E este domingo será mais um combustível para o vício de Maria, Rosa e a turma da Rua Louvre. Parte dos gremistas de lá rumarão para o lava-jato, enquanto os colorados sem ingresso torcem no mercado da esquina oposta. Maria vai ao Beira-Rio com o filho, mas quem passar pela avenida Bahia deve avistar o cobertor vermelho. E Rosa torcerá em casa, enquanto assa um churrasco com a família que será servido em pratos azuis.

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