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A rotina de salas vazias e horários de repartição pública no comitê do PSDB, em Brasília, mudou desde que o presidenciável José Serra foi ultrapassado por Ciro Gomes (PPS) nas pesquisas de intenção de voto.
Acostumado a fazer política até de madrugada, Serra andava inconformado com a atuação da equipe e os problemas na coordenação da campanha. Cobrou profissionalismo e, na semana passada, mandou um recado: não vai admitir erros.
O senador convocou o secretário de Comunicação da Presidência da República, José Roberto Vieira da Costa, o Bob. Ele será o principal interlocutor de Serra na campanha, dividindo o comando com o publicitário Nizan Guanaes. A intenção de Serra é imprimir sua marca pessoal na campanha, com Bob na retaguarda.
Apesar de acreditar na virada do jogo com o começo do horário eleitoral gratuito na TV, no dia 20 de agosto, o candidato está convicto de que não dá para esperar até lá. Não quer correr o risco de se distanciar ainda mais de Ciro, que avançou para o segundo lugar nas pesquisas, com 13 pontos percentuais de vantagem segundo o Ibope. Reservadamente, Nizan tem demonstrado preocupação:
– Só peço para não me entregarem um cadáver. O marqueteiro ajuda, mas não faz milagre.
Nos últimos dias, a coordenação da campanha realizou dois atos em Brasília para tentar reverter os baixos índices: uma reunião com os líderes dos partidos aliados e outra com os governadores. O objetivo era dar uma demonstração de força e cobrar empenho dos aliados, sem tolerância para posições dúbias.
Há um temor de que Serra seja "cristianizado". O termo surgiu na eleição presidencial de 1950, quando Cristiano Machado, candidato do PSD, foi abandonado por aliados regionais. Foi o que ocorreu também com os peemedebistas Ulysses Guimarães, em 1989, e Orestes Quércia, em 1994. Os casos mais graves ocorrem no Ceará e em Minas Gerais, onde o ex-governador Tasso Jereissati e o presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves, não se engajam na campanha. Jereissati concorre ao Senado numa dobradinha informal com Patrícia Gomes (PPS), ex-mulher de Ciro. Aécio, que concorre ao governo, tem como vice o pefelista Clésio Andrade, um dos coordenadores da campanha de Ciro no Estado, e dá apoio apenas protocolar a Serra. O mesmo ocorre em Santa Catarina, onde o governador Esperidião Amin (PPB) manteve apoio a Serra, mas liberou os filiados.
– Serra atravessa um momento de queda, como as bolsas de valores – resumiu um governador que participou da reunião em Brasília, mas que, nos bastidores, oscila entre Serra e Ciro.
– Falta um corpo-a-corpo mais eficiente. A campanha está em fase de aquecimento, mas precisa ganhar as ruas para mobilizar a estrutura partidária – reconhece o candidato ao Palácio Piratini Germano Rigotto (PMDB), aliado do PSDB.
Outros problemas também atormentam Serra. O tucano tem ficado impaciente com o descontrole da agenda política e da assessoria de imprensa. O líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), reclamou que ninguém avisou os peemedebistas baianos da visita a Barreiras, dia 14. Serra também não gostou de saber que sua equipe errou a data de um comício em João Pessoa, na Paraíba, ao comunicá-lo à imprensa.
A campanha sofre também com a falta de contribuições financeiras. Cortes de pessoal serão promovidos por Bob. A série de mudanças também atingiu o roteiro de viagens, mas por questões estratégicas. O tucano deverá concentrar sua atuação no eixo Sudeste-Sul.
Serra também não vai mais enfatizar a comparação negativa entre Ciro e o ex-presidente Fernando Collor. A idéia é combater Ciro sem ofensas, mas atacando suas propostas. Por sugestão de Nizan, dará ênfase ao discurso social.
Para auxiliar Serra, FH anunciou medidas como a liberação de financiamentos para a compra de imóveis usados e a possibilidade de controlar o preço do gás de cozinha.
– FH é ainda o grande eleitor do Brasil. O jogo começa com a propaganda na TV, mas agora é com a gente – disse o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
KLÉCIO SANTOS© 2009 clicRBS.com.br ? Todos os direitos reservados.