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Depois de nova jornada nervosa e preocupante, em que o dólar subiu ontem mais 3,24%, ao fechar em R$ 2,80 na venda, o governo anunciou à noite que vai sacar até US$ 10 bilhões do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para reforçar suas reservas. Em princípio, não pretende usar o dinheiro para conter o dólar. O ministro Pedro Malan, da Fazenda, e o presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, devem anunciar essa decisão nesta quinta-feira, dia 13, às 12h30min.
Do valor previsto no acordo com o FMI, US$ 5 bilhões já estão disponíveis e mais US$ 5 bilhões poderão ser sacados no final do mês. A cotação atingida ontem pelo dólar só é inferior, no Plano Real, à de 21 de setembro passado, quando a moeda norte-americana atingiu R$ 2,84 com o impacto dos ataques terroristas nos EUA. O risco-país subiu 7,3%, para 1.298 pontos, tornando o Brasil o terceiro país que mais preocupa os investidores internacionais, atrás de Argentina e Nigéria.
Em oito dias úteis deste mês, a moeda norte-americana já se valorizou 11,33%. A alta acumulada este ano é de 20,89%. A Bolsa paulista caiu 0,63%. O nervosismo do mercado financeiro foi tratado em conversas do ministro Pedro Malan (Fazenda), ontem, dia 12, com o presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente do BC, Armínio Fraga. Malan evitou falar publicamente a respeito, mas o tema foi discutido em conversas telefônicas com Fraga, que está em Washington, e com o diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo.
Antes da nova alta do dólar, pela manhã, FH afirmou ontem, em tom jocoso, que o nervosismo do mercado financeiro se resolve com calmante.
– O mercado fica nervoso? Dá calmante, passa. O que não pode deixar é o paciente ficar todo ele prejudicado por aquele dia de nervosismo, tem de manter o equilíbrio das coisas – disse FH ao falar na cerimônia de formatura do Instituto Rio Branco.
A volta das turbulências nos mercados levou o governo a intensificar contatos com banqueiros e investidores, por meio da equipe econômica. O objetivo é assegurar que os fundamentos da economia estão sólidos e não há razão para incertezas. O ministro da Casa Civil, Pedro Parente, afirmou, sem detalhes, que o governo dispõe de instrumentos que serão usados, se necessário.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Sergio Amaral, disse que as incertezas estão restritas ao mercado financeiro, não atingem o setor produtivo:
– Os investidores não vêem o Brasil em termos de curto prazo, e sim de médio e longo prazos.
O BC inovou ontem em sua estratégia para tentar conter o dólar com uma operação que oferecia proteção contra a alta da moeda para 2003 e 2007. Em troca, os investidores tinham de assumir o risco cambial com vencimento em 2004. Esse tipo de operação, conhecida como “borboleta”, é comum entre bancos, mas nunca tinha sido usada pelo BC.
Os números da operação assustaram mais o mercado financeiro. Apenas 5.255 contratos de um total de 12,5 mil foram vendidos a taxa de 13%, considerada alta, elevando o temor sobre a incapacidade do governo de rolar sua dívida. Os investidores que antes recusavam comprar títulos que venciam em 2003, na próxima gestão presidencial, agora evitam até os que têm vencimento neste ano, ante a aparente insegurança do BC.
– Em dia tão nervoso, não dá para entender o BC tentar acalmar o mercado com operação tão complexa. A justificativa era corrigir distorções nas taxas de juro em dólar. Essas distorções não vêm de problemas técnicos, e sim de desconfiança – disse Carlos Cintra, gerente de renda fixa do Banco Prosper.
O BC divulgou ontem que o fluxo cambial do país foi positivo em US$ 150 milhões na terça-feira. No acumulado do mês, o BC registra fluxo cambial positivo de US$ 600 milhões. Analistas atribuem a forte onda de pessimismo no mercado financeiro a fatores técnicos e conjunturais. A crise das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), a continuidade dos saques nos fundos de renda fixa e DI e o fluxo negativo de moeda estrangeira, são alguns motivos técnicos apontados. As incertezas eleitorais decorrentes da possível alternância no poder estão entre os fatores conjunturais.
Para o economista-chefe do JP Morgan, Luís Fernando Lopes, as provisões que os bancos fizeram para perdas com as LFTs – a marcação a mercado das LFTs também vale para os bancos – aparentam ser menores do que o tamanho do prejuízo. Com a redução do patrimônio líquido, as instituições ficam mais expostas ao risco:
– Os bancos começam então a se desalavancar no mercado, criando esse ajuste que estamos vendo.
O câmbio é um dos segmentos mais afetados. Sabe-se que o prejuízo de vários bancos com o aumento do cupom cambial deixou alguns grandes com elevados saldos devedores líquidos em dólar, pressionando a demanda no mercado à vista. O economista-chefe do CS First Boston no país, Rodrigo Azevedo, acha que o governo tem instrumentos para lidar com a deterioração do quadro financeiro. Ao contrário de muitos analistas, ele não considera a situação incontornável.
Embora pareçam insuficientes analisados individualmente, os instrumentos do governo podem ser eficazes usados em conjunto, com estratégia competente, aponta. Mas, com quatro meses até a eleição, o BC não pode usar todo o poder de fogo de uma vez só, alerta ele.
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