| 05/05/2002 22h15min
A denúncia envolvendo o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira, acusado de cobrar propina no processo de privatização da Companhia Vale do Rio Doce, abriu uma crise no PSDB. Conforme reportagem publicada pela Revista Veja desta semana, Ricardo Sérgio teria tentado conseguir R$ 15 milhões do empresário Benjamin Steinbruch, que liderou o grupo de empresas e fundos de pensão vencedor do leilão da maior mineradora do país.
Dois integrantes do governo Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros e o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, confirmaram ter ouvido Steinbruch se queixar do assédio de Ricardo Sérgio. Um dos arrecadadores de recursos da campanha presidencial de FH nas eleições de 1994 e 1998 e da campanha de José Serra ao Senado, em 1994, Ricardo Sérgio teria pedido propina em 1997 para organizar o Consórcio Brasil, vencedor da privatização. A comissão seria uma espécie de "remuneração" pelo trabalho que o então diretor do BB teve para reunir fundos de pensão estatais em torno do consórcio liderado por Steinbruch. O grupo venceu o consórcio encabeçado pelo empresário Antônio Ermírio de Moraes, da Votorantim.
Graças a Ricardo Sérgio, o Consórcio Brasil ficou com três dos maiores fundos de pensão: o do Banco do Brasil (Previ), o dos funcionários da Caixa Econômica Federal (Funcef) e o dos empregados da Petrobras (Petros). O fato de Paulo Renato ter confirmado que ouviu de Steinbruch a denúncia provocou reação na cúpula do PSDB. O ministro garantiu que se reuniu em 1998 com Steinbruch com o objetivo de pedir que a Vale do Rio Doce patrocinasse um programa do ministério. Segundo Paulo Renato, o empresário contou que Ricardo Sérgio havia lhe pedido, em 1997, dinheiro em nome dos tucanos. Steinbruch não teria especificado quem eram os tucanos.
O presidente do partido, deputado José Aníbal (SP), chamou o ministro de leviano. Segundo Aníbal, Paulo Renato deveria ter imediatamente perguntando quem eram os tucanos.
Paulo Renato disse neste domingo que não fez nada de errado. Segundo ele, escutou uma história e a confirmou. E acrescentou que não vê autoridade em José Aníbal para fazer críticas ou comentários a seu respeito. Segundo o ex-ministro, ele não levou o assunto a FH na época, como fez o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, porque considerou o fato irrelevante na medida em que a propina não foi paga. Ainda segundo Paulo Renato, Steinbruch lhe disse ter checado se Ricardo Sérgio falava mesmo em nome dos tucanos por meio de uma consulta que fez chegar ao presidente.
Ricardo Sérgio ficou no governo até novembro de 1998. Foi demitido após o vazamento das fitas de privatizações do sistema Telebrás. Na ocasião também saíram o então ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros e o presidente do BNDES, André Lara Resende.
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