| 22/04/2002 21h06min
Em cartada decisiva para aprovar o plano Bonex – que substituiria por títulos de cinco e 10 anos os recursos congelados nos bancos. Ele afirmou que deve seu mandato ao Congresso e, se este não estiver de acordo com sua gestão, "deve reunir-se e designar outro presidente".
Há menos de quatro meses no poder, o presidente Eduardo Duhalde enfrenta a pior crise institucional de sua curta gestão. O presidente percebeu nesta segunda-feira, dia 22 de abril, que sua base de apoio não é suficiente para mantê-lo no poder. Sem o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que parece cada vez mais distante após o fracasso da visita de Remes Lenicov a Washington, Duhalde está isolado.
O Plano Bonex, enviado à tarde ao Congresso, voltou menos de três horas depois às mãos da equipe econômica, que foi obrigada a realizar uma série de modificações exigidas pelos congressistas.
O ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov, pretendia aprovar, de uma vez só, um megaprojeto que incluía a fusão de bancos estatais (para criar um banco federal), a reforma da carta orgânica do Banco Central (para garantir imunidade a suas autoridades) e a modificação do CER (mecanismo de indexação aplicado a empréstimos bancários e contratos privados, como aluguéis). O projeto foi rechaçado pelo Congresso e Remes Lenicov, que passou a tarde reunido com parlamentares peronistas, decidiu enviar o Plano Bonex ao Senado (que poderia votar nesta terça), e, num projeto separado, a modificação do CER, à Câmara.
Para obter o sinal verde do Senado, o governo precisa do voto de dois terços dos 72 senadores. O problema é que, para isso, Duhalde depende do apoio da União Cívica Radical (UCR), que nesta terça se reúne a pedido do presidente do partido, Angel Rozas, para analisar os passos a seguir. O senador Rodolfo Terragno deixou bem claro que pelo menos uma parte da UCR já optou por votar contra o projeto.
O embaixador do Brasil em Buenos Aires, José Botafogo Gonçalves, disse hoje que o papel do Congresso argentino, neste momento, é fundamental para evitar a quebra dos bancos do país. Segundo o embaixador, há urgência na aprovação do Plano Bonex.
No fim de semana passado, os argentinos retiraram dos caixas eletrônicos 145 milhões de pesos. Nesta segunda, cerca de 50% dos caixas do país não estavam operando. Sem dinheiro, a população tentou apelar para o uso do cartão de débito, que nem todas as lojas aceitam.
O governo decretou feriado bancário e cambial por tempo indeterminado que entrou em vigor nesta segunda, para evitar a fuga de recursos dos bancos até que o plano Bonex seja aprovado. O texto determina que os valores congelados sejam trocados por bônus federais com vencimento em cinco (em pesos) e 10 anos (em dólares), que renderão juros de 12% ao ano.
Os bônus servirão para pagar impostos e poderão ser negociados num mercado paralelo, por 25% a 30% de seu valor nominal. O Plano Bonex não
atingirá as contas correntes ou de
poupança, que permanecerão no corralito, que o governo prometeu liberar logo que os bancos tenham condições de devolver os depósitos.
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