| 08/03/2002 07h52min
Os documentos apreendidos no escritório da Lunus Serviço e Participações, em São Luís (MA), revelam a existência de uma triangulação oculta entre a empresa, pertencente à governadora do Maranhão e candidata do PFL à Presidência, Roseana Sarney, e ao marido dela, Jorge Murad, com a Agrima Agricultura e Pecuária. A Agrima recebeu R$ 33 milhões da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), por meio de um projeto batizado de Nova Holanda, apontado como parte de um esquema de desvio de metade desses recursos.
Num envelope com informações sobre a contabilidade da Lunus consta um investimento feito há dois anos com o código conta 1311.04 no campo ativo (indicando que integra o patrimônio da Lunus) para a empresa Agrima. O documento é um indício forte, segundo o Ministério Público Federal (MPF), de que a Lunus ainda é sócia da Agrima e, por conseqüência, da Nova Holanda. O suposto consórcio entre as empresas foi o que motivou a ação da Polícia Federal (PF) no escritório da Lunus, em São Luís, gerando a crise entre o PFL de Roseana e o Palácio do Planalto.
Oficialmente, a sociedade vigorou até 1994, quando a Agrima foi vendida por Murad a um grupo de empresários do Paraná. Só então é que a Agrima e a Nova Holanda passaram a receber dinheiro da Sudam. No escritório da Lunus também foram apreendidos documentos com a demonstração de recursos arrecadados por Roseana durante as campanhas de 1994 e 1998. Consta o registro de mais de 60 doações de empresas, entre elas a Nova Holanda, que repassou para as duas campanhas R$ 40 mil.
Há ainda uma apostila contendo na capa a inscrição “cheques emitidos nominalmente à prefeitura, sacados diretamente no caixa dos bancos ou depositados em contas não identificadas, sem registro em movimento diário de caixa”. A PF também apreendeu uma pasta e inúmeros documentos com as tarjas Sudam e Usimar, projeto que recebeu R$ 44 milhões da Sudam para a construção de uma fábrica que nunca saiu do papel.
O projeto foi aprovado numa reunião da Sudam presidida pela própria Roseana. Junto com a papelada encontrada no escritório da Lunus, consta dos autos uma mensagem via fax da Sudam dirigida à empresa Usimar e a Maria Auxiliadora Barra Martins, dona de um escritório que montava projetos com a finalidade de fraudar a Sudam. Maria Auxiliadora – que já foi presa no ano passado a pedido da Justiça de Tocantins – era procuradora do projeto Usimar.
O que está intrigando os envolvidos nas investigações é a razão pela qual uma cópia desse ofício foi remetida a Murad, que nega qualquer participação societária no projeto Usimar. A PF também tirou fotos do dinheiro apreendido – R$ 1,3 milhão – no escritório da Lunus e ouviu o depoimento de Severino Francisco Cabral, proprietário da Pleno Engenharia, que funciona no mesmo prédio da empresa de Murad e Roseana.
Severino afirmou ter uma participação societária pequena (0,23%) na Lunus, mas em razão do fato de que Roseana e Murad têm cargos públicos (o marido da governadora também é gerente de Planejamento do Maranhão), é ele quem gerencia a empresa, tarefa pela qual recebe módicos R$ 200 a título de pro labore. Apesar de controlar o fluxo de dinheiro da Lunus, Severino informou desconhecer a origem do dinheiro encontrado na empresa.
KLÉCIO SANTOS© 2009 clicRBS.com.br ? Todos os direitos reservados.