A pergunta é complexa e a resposta é desafiadora. Se entendermos a educação como um fenômeno histórico, vamos verificar que no Brasil ainda ela não é prioridade. Primeiro salva-se a moeda a economia, ae engrenagens políticas e posteriormente a Educação. O cenário só vai mudar quando a Educação for considerada atividade de primeira grandeza, um bem em si mesmo por toda a Sociedade. A legislação, as diretrizes e as políticas públicas são excelentes no Brasil. Isto porém, não é suficiente se ainda temos uma desigualdade social gritante. Entre um prato de comida e um lápis na mão, a escolha será pelo matar a fome. Não podemos ter uma visão redentorista da educação, como se ela salvasse o Brasil de todas as mazelas sociais. A educação é um instrumento de mudança, mas não sozinha precisa estar acompanhada com outras práticas que possibilitem qualidade de vida para a maioria da população brasileira.
O problema não é o ensino médio. O problema é a Educação Básica como um todo. É evidente que pesquisas indicam que o ensino médio é o desafio atual em termos de práticas pedagógicas e curriculares, bem como a sua gestão. Registra-se, porém que não mudaremos o cenário do ensino médio nem do ensino superior se a Educação Básica não for repensada. Precisamos tornar toda a Educação Básica como um local permanente de aprendizagem. Precisamos realizar práticas docentes que estimulem o gosto pela escola desde as crianças pequenas na educação infantil. Precisamos sair da pedagogia das respostas prontas e mecânicas para a pedagogia da pergunta que estimula o potencial criativo que habita em cada ser humano. Nossa visão de avaliação deve mudar radicalmente saindo perspectiva de cobrança para a perspectiva do processo. As escolas devem funcionar como um laboratório de saber. Sem mudanças das estruturas, valorização profissional, e projetos pedagógicos acompanhados, de fato pouca coisa vai mudar no ensino médio e na educação básica em geral.
Aqui temos a questão mais bela e fundamental formulada pelo grupo. Precisamos melhorar as condições sociais no Brasil. Precisamos valorizar e qualificar ainda mais a carreira docente. Mas existe um compromisso das famílias que faz toda a diferença no contexto escolar. A cumplicidade das famílias com a escola reverbera no processo de aprendizagem das crianças, jovens e adultos. Sabemos que o ser humano só existe na relação com o outro. Existir é coexistir. Todos nós precisamos ser amados, acolhidos e respeitados. Uma criança percebe quando não vai sozinha para a escola. Não falo daqui do acompanhamento apenas no trajeto escolar. Refiro-me de quando nossas crianças percebem que aquilo que acontece em sua família. Quando uma família se importa, pela primeira frase construída, pela primeira palavra escrita, pela primeira avaliação positiva. Quando uma família estimula diante da primeira dificuldade, do primeiro desafio a criança aprende melhor. Ou seja, desde o início da vida escolar a criança aprende no contexto educativo viver sua autonomia. Precisa porém, ter uma base familiar que valorize esse exercício de autonomia, mas que se importe, que participe. Aprender é um fenômeno plural. As escolas também precisam ser um espaço de formação para os pais. Vejamos, se o problema presente tem sido a agressividade de algumas crianças, por que não oportunizar uma roda de conversa com todas as famílias sobre isto? As famílias precisam ser chamadas pelas escolas, não apenas para as críticas ou para participar de festas. Uma boa escola conhece cada família, independente do número de alunos que tem. Um aluno, uma família, não é apenas uma matrícula, um boleto, é sobretudo gente. Gente em processo de busca e a escola como "canteiro de esperança" deve investir também na formação de suas famílias.
Na realidade não estou preocupado com este quantitativo, o maior desafio é fazer destes 2%, professores de primeira linha. Professores capazes de formar seres humanos para outra forma de ser neste mundo, mas inclusiva e solidária. Em nossa compreensão ser professor só faz sentido quando reconhecemos que todo ser humano é capaz de aprender. O desafio não é ensinar para quem já sabe. O grande desafio da docência é fazer o sujeito que ainda não sabe se apaixonar, de forma crítica, pelo processo de conhecer. Não se pode ser um bom educador no improviso. A docência é uma opção política e intencional. Não se é um bom educador ficando na mesmice, no engessamento burocrático e na repetição mecânica de tarefas. A ousadia faz parte da boa docência em qualquer nível e modalidade de ensino. Apesar de vivermos num país onde a educação no sentido pleno ainda não é prioridade, existem profissionais ensopados de compromisso, fazendo uma revolução silenciosa e duradoura nas unidades educativas com práticas curriculares geradoras de aprendizagem. OK! Só temos 2%! Vamos fazer destes os melhores professores de nossos pais. Alia-se a isso a valorização da carreira e as condições materiais de nossas unidades educativas sem o que nenhuma mudança será possível.
Acreditamos que esta questão pode ser ampliada para todos os componentes curriculares. Se o sujeito não aprende o esperado em matemática isto se revela também nas linguagens, ciências humanas etc.
Precisamos questionar estas avaliações inclusive. Muitas vezes elas são realizadas na perspectiva de saberes que não foram ensinados de forma adequada. Nosso corpo tende a rejeitar aquilo que não gosta. Só aprendemos aquilo que é significativo num determinado momento e fruto de uma contextualização. Ai está o desafio do professor, ser um mediador e um provocador do debate em sua área de conhecimento. Um sujeito que não gosta de matemática não ensina bem matemática. Um sujeito que não gosta de ler não planta no outro o gosto pela leitura. Alguns docentes também não passariam nestes testes, pois nem os mesmos dominam os conceitos de suas áreas com o rigor necessário de quem é ?apaixonado? por um saber. Agora a pergunta que fica é como um professor que trabalha 60h semanais, com no mínimo 08 turmas com 40 alunos em cada, em três unidades educativas, daria conta de ensinar com competência os conceitos fundamentais de sua disciplina para todos eles.
Precisamos questionar o que é o mínimo considerado adequado e até que ponto os docentes de cada componente curricular dominam estes mínimos. As escolhas destes indicadores foram feitas por quem? Pelos docentes que são os especialistas de suas práticas, ou por iluminados, em gabinetes distantes do chão da escola. Precisamos entender que esta resposta exige no mínimo três enfrentamentos.
1) Dignidade de vida para a população. Numa família onde existe o mínimo de condições financeiras para a moradia, alimentação, trabalho e saúde a educação acaba sendo também prioridade. Quando eu como pai consigo dar um lar decente para o meu filho, consequentemente sonho com uma escola decente para o mesmo. O que ocorre é uma falta de oportunidades tão avassaladora que para muitas famílias mandar os filhos para a escola é o momento do descanso dos conflitos presentes na estrutura familiar.
2) Gestão escolar. Precisamos investir em diretores e coordenadores pedagógicos altamente qualificados que coloquem a aprendizagem como bandeira. Direção escolar não deve ser cargo de indicação política, deve ser exercida por educadores capazes de mobilizar um grupo de professores na busca de objetivos comuns.
3) Docência com competência. Todo bom professor tem que ter aquilo que chamo de azeite na botija. Ou seja, dominar os saberes teóricos e metodológicos de sua área. Deve participar ativamente do projeto pedagógico de sua escola e ter a compreensão que ensinar não se faz no improviso. Os alunos não aprendem no ultimo ano por que, via de regra, não aprenderam deste os anos iniciais. Registra-se aqui, porém, a necessidade urgente de pensarmos a educação numa perspectiva mas inclusiva, na prática é reconhecer que todos podem aprender, mais isto não significa, ensinar e avaliar a todos da mesma maneira.
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