Na verdade ser a 6ª maior economia do mundo não é muito relevante para essa questão, já que essa posição é determinada mais pelo tamanho do país do que por seu nível de desenvolvimento. A Suíça tem uma economia bem menor do que a brasileira, mas seus cidadãos vivem bem melhor. A pergunta relevante é por que, mesmo sendo um país de nível de renda médio, nossa educação tem nível de qualidade africano.
A resposta principal é de que a sociedade brasileira não demanda educação de qualidade. Os pais que colocam seus filhos em escolas públicas ainda não descobriram que a educação que os filhos recebem é de péssima qualidade e estão simplesmente satisfeitos que a escola tenha vaga pro seu filho e tudo aquilo que a escola dele (pai) não tinha: merenda, uniforme, transporte, livro didático etc. O pai vê tudo isso e imagina que essa escola seja ótima, mas ela é boa só na perfumaria, não no que importa: o ensino. Já o pai que coloca o filho na escola particular também se ilude achando que a escola do filho é muito boa, porque compara os resultados do filho aos dos alunos de escolas públicas. Se comparasse-o com pessoas do mesmo nível socioeconômico dos países desenvolvidos saberia que também a escola particular é, em geral, muito ruim. Essa ausência de demanda por educação de qualidade gera então os três problemas diretos que afetam a qualidade do ensino e nos jogam sempre para a rabeira dos diversos índices internacionais de educação. São eles: a formação do professor brasileiro, excessivamente teórica e ideológica, que não prepara o futuro docente para ter êxito em sala de aula; a politização e despreparo dos diretores escolares, que freqüentemente são frutos de indicações políticas ou de conchavos com os professores da escola, e não têm a qualificação necessária para o cargo e nem interesse por obter uma educação de qualidade e, finalmente, o fato de as práticas de sala de aula dos professores serem ineficazes e totalmente descoladas da literatura acadêmica que indica quais as práticas que levam ao sucesso no ensino-aprendizagem, literatura essa que é solenemente ignorada no Brasil, em que os profissionais da área parecem crer que a motivação e vontade superarão o despreparo e desconhecimento, o que é obviamente falso.
Porque a escola brasileira é ruim, desinteressante, chata mesmo. Isso faz com que o aluno não consiga aprender e também não tenha interesse pela vida escolar. O resultado desse descaso é que o aluno acaba repetindo de ano, e à medida que o tempo vai passando mais e mais alunos vão repetindo, até chegarmos a esse ponto no Ensino Médio.
Mais importante que a participação na vida escolar dos filhos é, nesse momento, o envolvimento na vida da escola. Me explico: infelizmente não estamos, no Brasil, no estágio em que basta ao pai cuidar da educação do filho dentro de casa. A escola brasileira está tão mal que precisa da intervenção dos pais, no mínimo cobrando da escola uma educação de qualidade. Não adianta o pai cobrar que o filho estude em casa se a escola não ensina ou ensina mal. Não adianta o pai pedir pra que o filho faça o dever de casa se a escola não passa esse dever. Estamos no estágio anterior: precisamos que a escola melhore, e pra isso precisamos da intervenção dos pais. O melhor que o pai pode fazer hoje pela educação do seu filho é ir direto à fonte do problema, que é a escola. As pesquisas mostram que o pai brasileiro culpa o filho por seu não-aprendizado ou repetência, e isso é uma cruel dupla punição a esse aluno ? não apenas tem de agüentar uma má escola como ainda leva a culpa por seus problemas. Antes de mais nada, o pai e a mãe precisam ser aliados do filho e precisam se informar. Quase toda escola pública tem um IDEB, uma nota de 0 a 10 conferida pelo MEC com base no desempenho dos alunos daquela escola em uma prova e em suas taxas de repetência. Se a escola tem um IDEB baixo, abaixo de 5, é sinal de que o problema é provavelmente da escola, não do filho.
O "apenas" da questão está equivocado e já embute um viés que predispõe a resposta. O Brasil tem quase 200 milhões de habitantes e dois milhões de professores. Ora, 2% de 200 milhões são 4 milhões de pessoas, que é o dobro do número de professores que o Brasil precisa. Se em todas as gerações tivéssemos 2% da corte indo para o magistério, teríamos professores sobrando - dois professores, de fato, para cada vaga existente. Não há falta de gente querendo ser professor no Brasil, isso é uma grande mentira. Basta ver o número de candidatos que aparecem em todos os concursos públicos para professor. O problema é que falta gente qualificada pra exercer o magistério. Assim como falta gente qualificada pra ser advogado (vide os resultados do exame da OAB), engenheiro, médico, jornalista e demais profissões. E há essa carência generalizada porque a nossa escola e a nossa universidade são, em geral, muito ruins, e não conseguem formar o profissional de que o país precisa.
Nosso problema não é atrair gente pras carreiras do magistério. Se vocês olharem na sinopse estatística do ensino superior, verão que a área de Pedagogia e Licenciatura é a que mais congrega alunos em todo o ensino superior. Nosso desafio não é atrair gente, portanto, mas qualificar bem as pessoas que optam por essa carreira.
Porque a escola não sabe ensinar Matemática. Nem Português. Nem Ciências.
Vide acima.
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