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A Educação Precisa de Respostas  | 23/06/2014 16h02min

Adolescentes agora são maioria na Educação de Jovens e Adultos em Caxias do Sul

Quantidade de matrículas e pesquisa confirmam mudança de perfil

Adriano Duarte  |  adriano.duarte@pioneiro.com

Adolescentes deixaram de ser coadjuvantes para ocupar a maioria das turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA) em Caxias do Sul. A mudança de perfil confirmada por pesquisa e dados das escolas sugere que a modalidade hoje atende mais a alunos repetentes do ensino regular ou garotos interessados somente em acelerar os estudos.

Em contrapartida, homens e mulheres se sentem incomodados com a invasão da garotada e se afastam da escola por dificuldade de relacionamento. Em média, para cada pessoa acima de 18 anos matriculada na EJA de Caxias, há dois adolescentes como colegas. Em anos anteriores, a curva era inversa.

Levantamento da Secretaria Municipal da Educação (Smed) e da 4ª Coordenadoria Regional da Educação (4ª CRE) identificou 2.153 mil jovens entre 15 e 17 anos, todos matriculados com a intenção de  abreviar as séries do ensino fundamental. É praticamente o dobro de adultos, com predominância de rapazes.

Responsáveis pela EJA e pesquisadores veem motivos complexos na migração de adolescentes, mas é evidente a distorção dos objetivos do programa em Caxias, a exemplo do que ocorre em todo o país.

— Temos somente nove escolas com séries iniciais do fundamental da EJA onde há maior presença de adultos. Ainda assim, de todos os nossos matriculados, 95% são menores de 18 anos — enfatiza a assessora pedagógica da Smed, Ana Margarida Zanrosso.

Continuar a educação fora da escola regular traz reflexos para um adolescente. Eles mudam de comportamento pois estão inseridos em outro contexto como sair à noite de casa. Outros, por exemplo, não buscam qualificação complementar ou atividades como aprendizes em empresas como era de se esperar.

—  Quando o aluno passa para o noturno pode se achar autônomo, deixar de avisar aos familiares para onde está indo e o que está fazendo. Alguns não trabalham e não fazem nada durante o dia. Oferecemos cursos de qualificação no turno inverso ao da EJA, mas não é a grande realidade do grupo — pondera a pedagoga Ana Margarida.

A pressa em concluir o ensino fundamental é anseio compartilhado pelos colegas de sala Michael Santana Silva, 15 anos, e Maurício Almeida da Silva, 16. Os rapazes eram alunos do diurno em escolas diferentes e cortaram laços com o ensino regular entre 2012 e 2013. Agora engrossam a fileira de adolescentes que deixam suas casas à noite para estudar de forma rápida e resumida.

A necessidade de buscar trabalho estimulou a decisão, mas é visível o desconforto com os métodos tradicionais. Michael desistiu na 8ª série em 2012. Passou todo o 2013 longe dos livros para trabalhar informalmente e só voltou neste ano para a EJA do Colégio Angelina Sassi Comandulli, no bairro Santa Fé. Ali travou amizade com Maurício, que havia sido reprovado na 7ª série e decidiu retomar os estudos simultaneamente com a atividade de menor aprendiz em uma grande empresa.

— Eu já queria estudar de noite porque pode completar em menos tempo. É resumido, mas o cara tem que se esforçar — resume Maurício.

Michael vai mais longe e afirma que a maioria dos antigos colegas tinha vontade de desistir do ensino fundamental por falta de paciência e estímulo.

— Todo mundo falava em parar de vir pra escola — lembra o rapaz.

Uma das professoras da EJA na Angelina Comandulli, Beatriz Gelati percebe cada vez mais o surgimento de garotos como Michael e Maurício em sala.

— Dou aula desde 2001, quando havia mais adultos. Depois ficou meio a meio e agora aumentou muito a presença de guris de 15, 16 anos.

Gabriel Lain / Especial

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Foto:  Gabriel Lain  /  Especial


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