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A Educação Precisa de Respostas  | 15/05/2014 19h21min

Evento de educação em Florianópolis debate gestão escolar a partir desta sexta-feira

A 10ª edição do Educasul irá reunir pesquisadores do país até sábado

Atualizada às 19h22min

Das diferentes formas de violência na escola, a verbal foi a mais recorrente no ano de 2011 em instituições de ensino de Santa Catarina. De 1,7 mil diretores ouvidos no questionário da Prova Brasil daquele ano — o mais recente divulgado —, 70% afirmaram que houve agressão verbal de aluno contra professor. Já xingamentos entre estudantes foi verificado por 47% dos gestores ouvidos.

A violência verbal também foi verificada de professor para o aluno, mas em menor proporção — 30% dos diretores admitiram esse tipo de agressão. Os dados foram coletados pelo Ministério da Educação.

O tema será discutido na 10ª edição do Educasul Gestor, encontro que reunirá em Florianópolis educadores nesta sexta-feira e neste sábado para debater a gestão escolar. Além da violência e indisciplina nas escolas, serão abordados o desafio de sistemas de avaliação educacional, a importância de se ter plano de gestão e um projeto político e pedagógico na escola.

Antecipando o tema da mesa-redonda sobre violência que será feita amanhã, a pesquisadora e professora Marta Iossi, que atua em questões como educação em saúde, violência escolar, bullying e saúde escolar, fala um pouco mais sobre causas que levam a atos violentos e como as instituições podem lidar com o problema.

Diário Catarinense — A escola está bem preparada para lidar com a violência ou a situação está fora de controle?

Marta Iossi — A primeira coisa que temos que ter claro é quais são os fenômenos que de alguma forma interferem ou potencializam a violência dentro das escolas. Temos uma ideia muito elementar ou de senso comum que ela se manifesta da ação individual das pessoas. Nos estudos que tenho feito, e está muito claro na literatura, aparece que essa violência é fruto de uma reprodução da violência gerada na sociedade, em decorrência das relações sociais e até econômicas, que é manifestada e construída dentro do próprio espaço escolar. A escola não fica de fora desses problemas. Estamos tendo dificuldade para o enfrentamento deles, mas não está fora de controle. Temos muitas iniciativas no sentido de trazer a prevenção e a minimização desses problemas, o que precisa ser potencializado são as questões mais macropolítica, que acabam interferindo nesse problema, por exemplo, política econômica mais igualitária, política mais efetiva e mais inclusiva. Pode parecer um discurso teórico, mas no dia a dia isso se materializa nas escolas. O aluno se pergunta 'por que eu sou diferente do outro', 'por que o outro tem e eu não tenho'. É uma sociedade individualista pautada no consumo, e muitos adolescentes vão responder a isso e vão buscar alternativas e às vezes são alternativas de violência. Não estou defendendo que podem fazer isso, mas eles vão buscar de alguma forma pertencer a essa sociedade.

DC — E a violência está presente mais na escola pública ou na particular?

Marta — Ela se manifesta tanto na pública, quanto na privada. Não é só em escolas públicas. É um fenômeno transversal, perpassa classe social.

DC — Temos tido também casos de pais que cometem violência contra professores. São casos isolados ou uma realidade?

Marta — É uma realidade. De um modo geral atribui a violência na escola entre pares, como entre aluno e aluno. Essa questão dos pais com os professores a mídia tem noticiado corriqueiramente. É um problema que temos que considerar na medida que também precisamos chegar até as famílias e isso é uma outra história. As famílias também precisam de apoio.

DC — Como a escola deve lidar com os casos de violência?

Marta — Primeiro ponto é a escola reconhecer que o problema existe, não adianta ficar camuflando. Eu até tenho exemplo de escolas aqui, onde os pais não quiseram mais matricular seus filhos. Mas a escola deve assumir e reconhecer que o problema existe, tentar fazer um diagnóstico em como esse problema está se manifestando, e depois buscar possibilidades de intervenção. Temos modelos já testados.

DC — Que tipos de modelos?

Marta — Um que tem dado certo é o que a gente chama de melhoramento dos ambientes na escola. Melhoramento do recreio, das salas, da biblioteca, da brinquedoteca. O melhoramento desses espaços acaba por melhorar diretamente as atividades e o tempo livre dos alunos na escola. Aquela aula que não teve ou o próprio recreio sendo melhorados diminuem a possibilidade de grandes conflitos. Outro modelo é implementar atividades com os estudantes, assembleias, discussões em sala, ouvir vítimas e agressores. A tendência é só fazer trabalhos com as vítimas, mas o agressor também precisa ser ouvido. Trabalhar com as famílias é muito difícil. Mas a gente também tem interferência positiva e criativa nesse sentido de falar claramente com os pais.

DC — Ignorar jamais?

Marta — Ignorar é a pior opção que a escola pode ter ou ainda colocar para fora o agressor. Colocando para fora o agressor não vai resolver o problema. Só vai mudar de lugar e vai aumentar ainda mais o problema na pessoa. A escola tem o papel fundamental na sociedade e a escola também precisa receber apoio, apoio da sociedade inclusive. A formação dos professores também precisa prepará-los para lidar com esse problema.

::O evento::
Quando: 16 e 17 de maio
Local: Centrosul
Horário: 9h30 às 18h30 (sexta) / 9h às 17h (sábado)
Informações: www.capacitareventos.com.br
Inscrições: será possível fazer inscrição, que é paga, na hora

DIÁRIO CATARINENSE

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