Vestibular | 08/04/2014 02h11min
Adotada em 1999, a lista de leituras obrigatórias para o vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) tem, pela primeira vez, um disco. E, apontam professores, seria difícil encontrar um mais indicado do que Tropicália ou Panis et Circensis.
— É uma proposta interessante. Surpreende um pouco por não ser um livro, mas não tanto, porque a UFRGS já previa o Tropicalismo no programa de conteúdos. É positivo por abrir os olhos dos estudantes para a poesia que se expressa também na canção popular — analisa o poeta, músico e professor de literatura do Unificado Diego Grando.
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Capitaneados por Caetano Veloso e Gilberto Gil, o álbum reúne diversos artistas de diferentes tendências, cada um representando um ingrediente da mistura cultural. Os Mutantes (Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee) e suas guitarras são o rock. Já o maestro e arranjador Rogério Duprat é o erudito.
— Na capa do disco, ele está segurando um penico, numa referência ao mictório de Marcel Duschamp. A simples presença de Duprat já era parte da ideia do Tropicalismo: o nonsense, a piada, a provocação — explica o professor de literatura e membro do grupo de música e educação Cancioneiros Vinicius Rodrigues.
A salada de artistas ainda tem outras ver tentes, como Tom Zé, as grandes vozes das cantoras Gal Costa e Nara Leão e os poetas Torquato Neto e José Carlos Capinam.
— Essas figuras também são ícones do Tropicalismo. Tom Zé, na foto carregando uma mala, representa um retirante nordestino. Nara Leão atravessou a bossa nova, fez o espetáculo Opinião (show-manifesto dos anos 1960 que se tornou referência da música de protesto). Torquato e Capinam foram letristas essencias — acrescenta Rodrigues.
Segundo o professor Grando, a tomada de elementos de fora da cultura nacional e a mistura de ritmos cria uma fusão de linguagens significativa.
— Tropicália ou Panis et Circensis reúne num objeto tudo o que muitos desses artistas fariam mais tarde. Por ser um álbum dentro de uma prova de literatura, há maiores chances de que as músicas sejam abordadas enquanto poemas, como a UFRGS já fez em outras ocasiões.
Detalhe ZH
Geração em filme
O documentário Uma Noite em 67, lançado em 2010, tem depoimentos de músicos como Os Mutantes, Caetano Veloso e Gilberto Gil e retrata a história do 3º Festival da Música Popular Brasileira, pontapé inicial do movimento.
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