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Vestibular  | 25/03/2014 02h11min

"Filhos acreditam que não podem ter fraquezas", diz especialista em orientação profissional

Norte-americano Brady Norvall comanda a empresa FindaBetterU, que ajuda jovens a escolherem uma carreira

Criador da empresa FindaBetterU, o norte-americano Brady Norvall trabalha ajudando jovens a encontrarem e trilharem um rumo na vida. Neste mês, ele esteve no Brasil, onde palestrou na feira de intercâmbio G.A.T.E. — Global Access Through Education, promovida pelo Student Travel Bureau (STB), em São Paulo.

— Os jovens querem ser aceitos por uma comunidade mais abrangente do que sua zona de conforto. Na adolescência, se muda muito e tudo é uma "grande coisa". Muita gente pensa que os jovens não precisam de ajuda, mas eles não são experts sobre si mesmos.

Em entrevista ao caderno Vestibular, Norvall fala sobre a ansiedade dos vestibulandos e indica caminhos para os pais não piorarem a situação.

Zero Hora - No vestibular tradicional, o aluno concorre a um curso específico, em uma única instituição. Quem não passa, precisa esperar por mais um ano para tentar novamente. Esse sistema deixa os estudantes ainda mais ansiosos?

Brady Norvall - Provavelmente, sim. Trabalho com um estudante de Brasília, que também participou dos processos seletivos de universidades brasileiras. Foi um processo bastante estressante. Na verdade, ele estava mais ansioso com os processos daqui do que com os de universidades norte-americanas.

ZH - E por que ele ficou mais ansioso?

Norvall - Por ter de escolher o curso com antecedência. Ele acabou entrando em uma ótima faculdade de Engenharia Ambiental, mas o que ele queria mesmo era Engenharia Civil. Porém, é a melhor escola de Engenharia do Brasil. Então, ele vai fazer a Ambiental, embora não seja a que ele realmente queria. É uma confusão de prioridades do que realmente devemos buscar na vida. Se ele gosta de Engenharia Civil, deve ter a chance de buscar esse sonho. Mas isso é difícil no Brasil.

ZH - Em sua palestra, você disse que o currículo do Ensino Médio brasileiro é melhor do que o equivalente norte-americano. Na sua opinião, como esse currículo ajuda estudantes brasileiros que pretendem estudar no Exterior?

Norvall - É um currículo mais abrangente. No Brasil, os alunos têm três anos de química, física e biologia. Nos Estados Unidos, a maioria dos alunos se forma tendo estudado apenas duas dessas matérias por somente um ano. Além disso, aqui, os alunos ficam fluentes em uma segunda língua e são muito fortes em português. Muitos jovens norte-americanos sequer são bons em inglês, com escrita e compreensão muito pobres. Pela minha experiência, o currículo brasileiro é muito forte, mas, é claro, trabalho mais com alunos da rede privada.

ZH - Algumas atitudes dos pais podem piorar as coisas para os filhos na escolha de uma carreira. Como evitar isso?

Norvall - Acho que não devem comparar a própria experiência com o que os filhos estão passando. É muito importante que os pais demonstrem vulnerabilidade: não é bom para jovens de 15 anos nunca ouvir os pais falando sobre suas lutas e dificuldades. Quando os pais só falam das coisas boas que acontecem no trabalho e em suas vidas, os filhos tendem a acreditar que não podem ser vulneráveis, que não podem ter fraquezas. Isso é difícil para quem tem 15 anos. Eles querem ouvir dos pais sobre o dia em que tiveram um problema com um colega de trabalho por não se comunicarem bem como deveriam.

Outro detalhe sobre não comparar experiências é que, hoje, as coisas mudaram muito. Um pai ou uma mãe não deve dizer a um filho que, aos 16 anos, praticava um esporte, era excelente na escola, tinha namorado ou namorada, que estudou numa ótima faculdade. Assim, se transforma algo que deveria ser sobre os filhos em algo sobre os pais. E isso desliga os jovens, que são egoístas. Eles não estão focando em si mesmos porque querem, mas porque precisam. Eles estão se desenvolvendo, tentando aprender sobre quem são. Então, comparar experiências é diminuir a importância dessa fase da vida dos jovens.

ZH - As universidades norte-americanas investem bastante dinheiro para receber estudantes de outros países. Os norte-americanos não consideram isso injusto?

Norvall - É uma grande controvérsia. Há ótimas universidades nos EUA, tanto públicas como privadas. As privadas, como Harvard e Stanford, podem fazer o que quiserem. O que ocorre hoje é que as universidades públicas, como UC Berkeley, UCLA, Texas, têm uma cota máxima para estudantes de fora. Na Universidade do Texas, por exemplo, 92% dos alunos têm de ser do Texas, pois é uma instituição bancada pelo Estado. Os outros 8% podem ser de qualquer outro lugar. O que incomoda muitos estudantes é a busca cada vez maior por estudantes internacionais. No passado, esses 8% eram jovens da Califórnia, da Flórida. Hoje, a maioria é da China, Coreia do Sul, Japão, Brasil, México. Então, americanos que querem entrar em uma universidade pública de outro Estado estão sendo barrados. Porém, se eu sou nova-iorquino e quero ir para a Universidade do Texas, isso vai me custar tão caro quanto ir para Stanford. Ela só é pública para texanos. Sempre recomendo: se você é da Flórida e quer uma faculdade da Califórnia, por que ir para uma universidade pública? Você vai pagar o mesmo, e as privadas são muito menores e têm mais recursos.

A feira

Promovida pela primeira vez, a G.A.T.E. — Global Access Through Education, da STB, ocorreu em São Paulo, entre 14 e 16 de março. O evento contou com cerca de 70 expositores e teve palestras relacionadas a educação e carreira profissional. Segundo o presidente da STB, José Carlos Santos Jr, a ideia é expandir a feira:

— Temos planos de levar a G.A.T.E. para outras capitais brasileiras e também para cidades do Exterior.

ZERO HORA
Paulo Mercadante / Divulgação

Em evento na capital paulista, Norvall falou sobre o que pais podem fazer para ajudar nas escolhas dos filhos
Foto:  Paulo Mercadante  /  Divulgação


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