Vestibular | 18/03/2014 02h11min
A TV é inimiga do vestibulando? Nem sempre. Quem assiste à série americana The Big Bang Theory ouve, em quase todos os episódios, algum termo científico relacionado a matérias que os estudantes muitas vezes não conseguem fixar como deveriam. O seriado, aliás, parece agradar até aos professores que elaboram as questões do vestibular da UFRGS. Um dos protagonistas da sitcom, o físico teórico Sheldon Cooper apareceu na prova de química deste ano — com direito a saudação vulcana.
A questão 39 falava do cientista "Dr. S. Cooper", que havia teletransportado um composto químico. Na viagem de um ponto para o outro, a substância apresentou propriedades diferentes.
— O seriado trata muito mais das relações sociais entre os físicos e de situações cômicas devido à forma como eles tratam a vida do que propriamente de conceitos da física, mas é válida a abordagem. Em vários diálogos, os personagens tratam de expressões que podem fazer os espectadores ficarem mais curiosos, até para entenderem as piadas — comenta o professor de física do Grupo Unificado Adrô Lara.
Para o professor de química Rodrigo Smidt, também do Unificado, Breaking Bad é a que mais se relaciona com sua matéria:
— É claro que a série não tem um objetivo educacional, mas fala um pouco de química orgânica, abordando, com alguma frequência, propriedades químicas.
Para um vestibulando que ainda tem toda (ou praticamente toda) a matéria pela frente, o estudo pode acabar sendo trocado por um tempinho para ver mais um episódio de um seriado legal. Tudo bem, estamos na metade de março, mas já está na hora de se aprumar. Por isso, fomos atrás de professores fãs dos seriados para extrair alguns momentos de séries que podem ser um incentivo para você pegar um livro.
Assista e estude
THE BIG BANG THEORY
Efeito Doppler
Temporada 1 — Episódio 6
Sheldon e Leonard vão a uma festa à fantasia. De roupa com listras em preto e branco de espessuras diferentes, Sheldon diz estar vestido de "Efeito Doppler".
Talvez você já tenha reparado que o som de uma moto ou de uma ambulância passando por você na rua é diferente quando o veículo se aproxima e se afasta de você. Conforme a moto chega mais perto, o som é mais agudo, e fica mais grave quando ela passa. O que acontece é que a maneira como percebemos o som muda quando existe movimento entre quem produz o som e quem ouve. Este fenômeno é chamado de Efeito Doppler.
Conforme um carro, por exemplo, se movimenta, isso faz com que as ondas de som que ele emite pelo ar fiquem "empilhadas" na frente dele e mais afastadas na parte de trás, modificando a maneira como percebemos o som nos dois casos. O Efeito Doppler vale não só para o som, mas para qualquer tipo de onda. Existe um aumento da chamada "frequência aparente da onda" conforme a fonte se aproxima, e uma diminuição conforme ela se afasta.
Basicamente, percebemos as ondas emitidas por um objeto de maneira diferente se ele está se aproximando ou se afastando de nós. Acontece também com a luz: um objeto que se aproxima muito rápido tende a ficar mais azulado, e um objeto que se afasta, mais avermelhado (precisa-se de velocidades muito altas e não vemos isso no dia a dia no caso da luz). São observações baseadas nisso que nos permitem concluir que determinadas estrelas estão se afastando de nós, isto é, o universo está expandindo.
Felipe Ben, do portal Me Salva!
Espelhos na Lua
Temporada 3 — Episódio 23
Os cientistas nerds estão no telhado do prédio onde Sheldon e Leonard moram para fazer um experimento, apontando um raio laser para a Lua.
Em algumas das missões espaciais do homem à Lua, foram deixados lá alguns espelhos prismáticos. Eles são basicamente o mesmo tipo de refletores que existem em placas de trânsito, que refletem o farol dos carros à noite. Esses espelhos são uma das evidências de que o homem realmente esteve na Lua, e podem ser usados para determinar a distância entre a Terra e o satélite. Disparando um laser daqui em um desses espelhos, ele vai ser refletido e devolvido à Terra. Como sabemos a velocidade da luz, se medirmos o tempo que o laser demora para voltar, podemos calcular a distância da Lua!
Felipe Ben, do portal Me Salva!
No espaço (e de volta)
Temporada 6 — Episódio 4
Howard faz parte da tripulação da Soyuz que foi para a Estação Espacial Internacional. Nesse episódio, ele retorna para a Terra. A nave aparece com chamas ao redor, demonstrando o atrito da cápsula com o ar. As naves espaciais podem entrar na atmosfera com velocidades de até 25 mil km/h, aproximadamente 20 vezes a velocidade do som. Na medida em que a nave se aproxima da Terra, o ar se torna cada vez mais denso e o atrito aumenta, fazendo a parte externa da nave atingir temperaturas da ordem de 8.000°C.
Em seguida, ocorre o acionamento de um paraquedas, que desacelera a nave para o pouso na Terra. A utilização do paraquedas garante o atrito com o ar atmosférico, necessário para que a nave possa chegar na superfície com uma velocidade de impacto segura para os ocupantes.
Howard ainda relata para a mulher a perda de massa muscular, um dos efeitos do convívio do astronauta com a microgravidade. A aparente ausência de peso (sensação por estar numa região na qual a atração do campo gravitacional é muito pequena) gera perda na tonicidade muscular e diminuição da densidade óssea. Por esse motivo, ao retornar para a Terra, os astronautas passam por uma série de avaliações regulares para verificar as mudanças no corpo após ficarem no espaço.
Professor Adrô Lara, do Unificado
Levitação magnética
Temporada 6 — Episódio 5
Maglev é a abreviação de magnetic levitation, em inglês, ou levitação magnética, em português. O sistema de Maglev consiste em fazer um trem viajar com velocidades extremamente elevadas (cerca de 500 km/h), levitando sobre os trilhos. No Maglev, há bobinas elétricas nos trilhos e na parte inferior dos trens que, com a passagem de corrente elétrica, geram um campo magnético tão intenso que faz o trem levitar (da mesma forma que Leonard fez a bola pesada levitar nesse episódio, mostrando-a para Penny). Esse princípio apareceu no prova de física do vestibular da UFRGS de 2013 (questão 22).
Professor Adrô Lara, do Unificado
BREAKING BAD
Reação exotérmica
Temporada 1 — Episódio 6
Walter White tenta enganar um traficante com um saco cheio de fulminato de mercúrio em vez de metanfetamina, com o objetivo de acabar com o esconderijo do bandido.
Algumas reações químicas têm a capacidade de liberar energia térmica ao serem realizadas, o que se chama de reações exotérmicas ou exoergônicas (?H0). Algumas podem liberar tanta energia em tão pouco tempo que são consideradas de alto risco operacional ou explosivas.
É o caso do fulminato de mercúrio II [Hg(CNO)2]. Essa substância química é utilizada como um explosivo primário (iniciador ou a "espoleta" de uma explosão) em pequenas quantidades. Mas em uma quantidade maior (como um saco cheio do produto), pode ser considerada uma bomba, gerando uma energia térmica incrível e causando a destruição de um prédio.
Essa substância química é extremamente sensível e requer uma pequena energia de ativação para reagir (explodir), como um choque mecânico (deixá-la cair), por exemplo. O explosivo pode ser sintetizado em casa, pois utiliza reagentes de fácil acesso no mercado. Com uma pequena noção de cálculo estequiométrico, o fulminato de mercúrio pode ser obtido. Porém, tal experiência é de altíssimo risco ao operador. É melhor não tentar comprovar.
Professor Rodrigo Smidt
Participações especiais
O professor Adrô Lara, do Unificado, lembra que uma das habilidades que os vestibulares e o Enem cobram é a de relacionar os avanços tecnológicos e o desenvolvimento da ciência com as aplicações na vida cotidiana.
— Um candidato bem preparado para o vestibular não terá surpresa ao ver na sua prova, por exemplo, uma notícia citando um prêmio Nobel ou uma descoberta recente da ciência. Nesse aspecto, as aparições desses expoentes da ciência em The Big Bang Theory podem ser positivas para quem assiste ao seriado.
Stephen Hawking — Ex-professor de Matemática da Universidade de Cambridge e autor de Uma Breve História do Tempo, um best-seller internacional, Hawking é diretor de pesquisa do Centro de Cosmologia Teórica na Universidade de Cambridge. Ele também publicou outros livros, como Uma Nova História do Tempo, a coleção ensaio Buracos Negros e Universos-bebês e O Universo Numa Casca de Noz.
Buzz Aldrin — Ex-astronauta norte-americano, participou da missão da Apollo 11, sendo o segundo homem a pisar na Lua, em 20 de julho de 1969.
Stephen Wozniak — É cofundador da Apple, com Steve Jobs. A dupla foi responsável por tornar os computadores pessoais populares e foi importante para a revolução do mundo digital.
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