Vestibular | 18/03/2014 02h11min
Nos diversos ramos da engenharia, aprender fazendo é mais do que uma ótima estratégia de melhorar a formação profissional. Com áreas tão ligadas à criação e à construção de coisas, botar os conhecimentos à prova em atividades práticas é uma etapa fundamental.
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 11 alunos de Engenharia Mecânica, membros da Equipe Tchê Baja SAE (hein?), podem verificar na oficina o que aprendem na sala de aula.
O objetivo deles é projetar e montar um carrinho de off-road (Baja) para testar os limites do veículo nas competições da SAE (Sociedade de Engenheiros Automotivos, na sigla em inglês) no Brasil.
— É um projeto gerido pelos alunos, apenas com a orientação dos professores. Então, fica bem puxado, mas vale muito a pena. Tu percebes o porquê de aprender tudo o que se vê em aula — justifica o estudante Felipe Kern Micco, 24 anos, do sétimo semestre.
Aluno do quinto período, Fábio Matiello, 20 anos, é o capitão da Tchê. Ele destaca outros benefícios do envolvimento em um projeto ainda durante a graduação:
— É uma grande aplicação de teoria. E ainda desenvolvemos valores como trabalho em equipe, amizade, confiança, responsabilidade e organização.
Benefício para ingresso no mercado
Felipe ressalta que ter experiências dentro da universidade que vão além da sala de aula pode facilitar o ingresso no mercado.
— Vi excelentes alunos que tiveram dificuldade de conseguir estágio de conclusão porque estavam muito focados apenas nos estudos e não participaram de projetos como esse — destaca Felipe, que teve de deixar algumas cadeiras para trás para seguir no projeto.
O professor da Faculdade de Engenharia da UFRGS André João de Souza, orientador técnico da Equipe Tchê — que participou do projeto Baja quando estudava na USP —, reforça a ideia:
— Muitas montadoras procuram alunos que participam dos projetos e fazem seleções dentro das competições. Todos os meus amigos do tempo de Baja trabalham no ramo automobilístico.
Competições em várias partes do mundo
O projeto Baja SAE foi criado na Universidade da Carolina do Sul, EUA. A primeira competição foi realizada em 1976. Atualmente, ocorre também na Coreia do Sul, na África do Sul e no Brasil, onde chegou em 1991, com o primeiro torneio ocorrendo quatro anos depois.
A competição tem apresentação do projeto do carro, além de provas estáticas (em que o veículo é inspecionado conforme as normas do regulamento e é testado em quesitos como segurança e conforto) e dinâmicas (aceleração e velocidade, tração e suspensão). O grande desafio é o enduro, corrida de quatro horas em circuito com obstáculos. No Brasil, há competições regionais e uma nacional (que ocorreu no fim de semana passado, em Piracicaba, SP).
Para pilotar, os alunos devem ter carteira de motorista e plano de saúde (vai que...).
Detalhe ZH
Por que, diabos, o carrinho se chama "Baja"?
Segundo os estudantes, a origem da palavra "baja" para se referir aos carrinhos off-road é o deserto de Baja California, no México, junto à fronteira com os Estados Unidos. O termo é uma espécie de apelido para veículos adaptados para rodar nesse tipo de ambiente.
Em outras engenharias
Eletrônica
Aluno do quinto semestre de Engenharia Eletrônica da Feevale, Nícolas Dordignon, 21 anos, trabalha com o professor Giovani Bulla em uma pesquisa para amplificar e melhorar a captação de sinal de celular em áreas rurais. Nesta etapa do projeto, Nícolas faz simulações eletromagnéticas em computador, com o objetivo de ajustar o amplificador. O protótipo deve ser construído na etapa final do projeto, no fim do ano.
— Tive de lidar com conteúdos que ainda não havia visto em aula. Isso é normal na pesquisa científica. Além disso, é bom para o currículo a vivência real em um projeto — explica o estudante, que fez curso técnico em Eletrônica na Fundação Liberato, em Novo Hamburgo.
Civil
No sétimo semestre de Engenharia Civil no UniRitter, Guilherme Bender Cunha Mattos, 29 anos, participa de um projeto que estuda o reaproveitamento de resíduos na construção civil. A ideia é reutilizar o concreto que sobra para produzir novos blocos com o material:
— Não cheguei a deparar com conteúdos que nunca havia visto em aula, mas pude me aprofundar. Boa parte dos resíduos do mundo vem da construção civil. Agora, vamos começar a quebrar o concreto, produzir as peças e testá-las. Vamos ver se seria possível, por exemplo, usá-las como base no solo para os corredores de ônibus que estão sendo construídos em Porto Alegre.
Guilherme ainda prevê um crescimento do campo de gerenciamento de resíduos.
— É um campo de trabalho novo que está se abrindo. Será uma área que vai dar muito dinheiro — projeta.
ZERO HORA
Da esquerda para a direita, os alunos Felipe Kern Micco, Pedro Charcov, Lucas Breda e Fábio Matiello
Foto:
Omar Freitas
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