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 | 15/03/2014 09h44min

Inovar é um das maneiras de mudar a educação

Curtis Carlson, Internacional Stanford Research Institute (SRI), palestra em Florianópolis na terça-feira

Julia Antunes Lourenço  |  julia.antunes@diario.com.br

Referência mundial quando o assunto é inovação e competitividade, Curtis Carlson está à frente do Internacional Stanford Research Institute (SRI), instalado no Vale do Silício, Califórnia (EUA), desde 1998, quando se tornou presidente deste que é um dos institutos mais criativos do mundo. É para falar sobre este assunto que tanto domina que Carlson estará em Florianópolis na próxima semana. É convidado para palestrar no lançamento do Programa Catarinense de Inovação, do governo do Estado, na terça-feira. E, no Seminário Ecossistema de Inovação na Educação, apresentará de que maneira a inovação pode estar nas escolas públicas. Ao Diário Catarinense, Carlson adiantou um pouco sobre o que apresentará nos encontros. Para ele, não há dúvidas: todos os países podem trabalhar em atitudes na Educação e este é um dos meios para melhorar a qualidade de ensino. 

Conselheiro de Obama

Curtis Raymond Carlson, 69 anos, é presidente e CEO do SRI – International Stanford Research Institute, membro do conselho para inovação e empreendedorismo do governo de Barack Obama e do Conselho de Liderança em Inovação do Fórum Econômico Mundial e conselheiro para ciência da Fundação Nacional de Pesquisa de Cingapura. Carlson é conhecido como um líder em inovação, tanto que ajudou a conduzir a equipe que desenvolveu o sistema de alta definição HDTV nos Estados Unidos, criando o atual sistema americano de TV. O feito lhe rendeu prêmio Emmy. Carlson já participou de diferentes grupos de pesquisa científica e inovação em governos, forças armadas e empresas privadas.

Confira a entrevista completa:

Diário Catarinense – O que significa inovar na educação?
Curtis Carlson – Estamos vivendo momentos mais excitantes na área de inovação e educação, por causa da tecnologia, dos computadores, da internet, e isso tem um impacto gigantesco em termos de educação.

DC – O senhor poderia citar algum exemplo de inovação na educação?
Carlson – Nos EUA, um dos maiores desafios que temos é ensinar álgebra para as crianças. O que estamos fazendo é revolucionar a maneira de ensinar álgebra para melhorar a qualidade de ensino.

DC – Como é este trabalho?
Carlson – Nós não substituímos professores por programas, o que fazemos é ampliar a atuação deles com os programas de computador que desenvolvem determinadas habilidades nas crianças de maneira que possam aprender mais rapidamente. Crianças e até adultos podem aprender mais, caso sigam seis passos: o primeiro é aprender fazendo, o segundo é um feedback imediato, o terceiro é usar representações diferentes do conhecimento, cada criança aprende de maneira diferente. O quarto é trabalhar em equipe de dois e três alunos porque isso dá mais satisfação a eles. O quinto é ter um mentor porque ele tem um impacto grande na capacidade de aprendizado das crianças, e o último seria promover os incentivos mais adequados para que as crianças fiquem mais motivadas a aprender. Criamos um currículo que se chama o ponto fundamental da Matemática.

DC – E como é a metodologia?
Carlson – O estudo se dá por meio de histórias, equações, números, gráficos e exemplos inovadores, como crianças correndo no campo de futebol e uma delas vai representar a resposta correta. Utilizando essas ideias a gente influencia o currículo de 10 mil crianças. A maioria delas é de origem hispânica da Flórida, muitas são afro-americanas, também da Flórida. Fora do país, temos trabalhado na periferia de Londres, com crianças vindas de Bangladesh e do Oriente Médio. 

DC – E os resultados?
Carlson – Os resultados mostram que as crianças que normalmente ficariam atrasadas – aproximadamente 50% delas iriam reprovar em álgebra – tiveram 100% de melhoria. Então, esse é o início de uma série de técnicas que não substituem os professores, mas dão aos professores ferramentas que podem ajudar no ensino. De maneira que as crianças que têm mais risco de ter dificuldade no aprendizado superam as dificuldades e se preparam para a nova economia que estamos vivendo.

DC – O Brasil ainda está longe de índices educacionais de qualidade como os dos EUA, Canadá e Inglaterra. Mesmo assim o senhor acha ser possível inovar na educação brasileira?
Carlson – Sim, porque isso é um dos elementos fundamentais de educação que pode ser aplicado em qualquer criança. Teria que haver adaptações por causa da língua, do ambiente e da realidade cultural.

DC – Como trazer inovação para a escola pública?
Carlson – A única maneira de conseguir escalabilidade para esse tipo de iniciativa é que os equipamentos, como computadores, não sejam caros. Essa é a única maneira de conseguir que a inovação seja a um custo baixo. Existem exemplos positivos como na Índia, onde o tablet custa US$ 35 e o software, como é fácil de se reproduzido, também é barato. Então, como o custo de tecnologia baixou tanto e o desempenho dos equipamentos cresceu nos últimos anos, acredito que países como Índia e Brasil não teriam problemas em inovar na escola pública.

DC – O senhor vê alguma experiência no Brasil interessante de inovação e educação? Carlson – Ainda não sei. Estou em contato com o governo brasileiro para poder discutir sobre este assunto e encontrar pessoas que já estão envolvidas e engajadas neste segmento. Mas já recebi nos EUA a visita de vários brasileiros interessados na área de educação e de inovação e tecnologia. Acredito que existam movimentos, mas experiências ainda não sei.

DC – A inovação é um dos mecanismos para melhorar a qualidade de educação? Carlson – Absolutamente. Acredito piamente nisso e neste modelo de educação misturado, que mescla o modelo tradicional com a tecnologia. Tem outras duas iniciativas que são muito importantes. Uma são empresas que estão se formando no mundo e que geram material de treinamento, cursos e aulas para estudantes do mundo inteiro. Essa é uma grande tendência na Educação. Essas empresas ainda estão muito embrionárias mas a tendência é que elas enfoquem aqueles seis pontos que eu mencionei anteriormente e, com isso, elas terão um alcance muito maior.

DC – E a segunda iniciativa?
Carlson – A outra seria uma metodologia que é o aprendizado através da experimentação. Isso já vem acontecendo porque muitos estudantes aprendem as disciplinas e quando vão para casa aplicam na prática o que aprenderam, e depois discutem os conhecimentos em problemas concretos. É como se fizessem o dever de casa à noite e de manhã vão para um workshop para trabalhar os conceitos em uma equipe. Existem programas ao redor no mundo inteiro usando essa metodologia e um deles é feito na Finlândia. Essas tendências de educação online, aprendizado por experimentação e essa mescla de aprendizado vão transformar a educação em nível mundial. Como qualquer outra atividade que seja impactada pela tecnologia da informação os custos vão baixar tanto que não interessa se esta criança esteja no Himalaia, na Índia ou no Brasil, todas terão acesso à mesma qualidade na área Educação.

DC – Como Cingapura inovou na educação?
Carlson – Cingapura está liderando os países em termo de aplicar e testar diferentes modelos de educação. O desafio de lá é que ele não é como o Brasil que tem praias lindas e recursos naturais. Cingapura é muito pequeno, com poucos recursos naturais, são seis milhões de pessoas e o único recurso que eles têm são as pessoas. Cingapura tem tentado criar uma nova categoria de pessoas formadas em universidade com foco na inovação, porque a inovação é uma atividade intelectual e com isso eles podem crescer e melhorar a condição de vida deles.

DC – Qual é o principal desafio no Brasil para inovar?
Carlson – O Brasil tem recursos incríveis e nos últimos 20 anos tem feito um excelente trabalho como base. O segundo ponto é que existe um interesse genuíno em melhorar o nível de inovação e criar condições para que isso ocorra. O mais importante é que existe uma conscientização de que é necessário usar os recursos que o Brasil tem para melhorar a sociedade e a qualidade de vida das pessoas. Um dos grandes obstáculos é que é necessário ter uma grande camada de sociedade de capital de risco, que não existe em volume no Brasil.

DC – E como o senhor avalia as universidades brasileiras?
Carlson – Apesar de o Brasil ter as melhores universidades da América do Sul, não se produz nelas um volume adequado de pesquisas, e é através delas que se pode ter melhorias na qualidade da sociedade. Outro problema é a dificuldade de se criar novas companhias. Nos EUA, são destas pequenas companhias e empresas que se criam as ideias. É muito importante facilitar a criação de empresas. Um dos exemplos é que para se criar uma empresa no Brasil pode se levar meses, enquanto em Cingapura isso pode ser feito em um dia. Uma das recomendações que farei nas palestras é o que o Brasil deve constantemente se comparar com outros países inovadores e identificar áreas em que a sociedade deve mudar, em termos de regulamentação, para se chegar ao nível destes outros países inovadores.

Serviço

O que é?
Atrair empresas competitivas e inovadoras a Santa Catarina é o que pretende o Programa Catarinense de Inovação, que será lançado na próxima terça-feira em Florianópolis pelo governo do Estado e coordenado pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável. O programa tem parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação (Fapesc), a Federação da Indústria de SC (Fiesc) e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de SC (Sebrae/SC). Uma das peças-chaves é a implantação de 11 centros de inovação, que trabalharão em rede. A gestão deles irá envolver governos locais e estadual, universidades, empreendedores e sociedade civil. O lançamento tem ainda a palestra de Curtis Carlson, com o tema Como Criar Ecossistemas de Inovação.

Dia 18, terça-feira
16h30min: lançamento oficial do Programa Catarinense de Inovação, pelo governador Raimundo Colombo, seguido da palestra de Curtis Carlson 

Dia 19, quarta-feira
Das 10h às 16h: Seminário Ecossistema de Inovação na Educação. Nele Carlson irá falar sobre como criar um ecossistema de inovação na educação, como aconteceu em Cingapura, os desafios e as oportunidades em inovar na educação pública

No auditório da Fiesc (Rodovia Admar Gonzaga, 2765, Itacorubi, Florianópolis). As vagas são limitadas. Informações: (48) 3665-4900.

DIÁRIO CATARINENSE
Divulgação / Divulgação

Curtis Carlson vem a Florianópolis para falar sobre tendências no ensino
Foto:  Divulgação  /  Divulgação


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