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Ensino Superior  | 11/02/2014 02h11min

Interação entre estudantes antes do início das aulas tende a ser positiva, defende especialista

Benefício surge por facilitar a criação de uma identidade entre os futuros colegas

Com veteranos e calouros reunidos no mesmo grupo no Facebook, o trote acaba virando assunto. Embora seja, provavelmente, o principal motivo de apreensão, o "castigo" pode até perder um pouco do poder de amedrontar.

Membro do grupo do curso de Psicologia diurno da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) — que tem veteranos e bixos —, o mato-grossense do município de Água Boa Fernando Pezzini Rebelatto, 18 anos, destaca que os estudantes mais antigos são bem receptivos. Para ele, é bom ter uma "prévia" de quem serão seus colegas:

— Os veteranos parecem não ser carrascos, ao contrário da impressão que se tem geralmente. Eu acho que o grupo pode fortalecer os vínculos, porque, hoje em dia, as pessoas se conhecem em redes sociais de acordo com os interesses. Então, acredito que isso pode reforçar as expectativas.

>>> A partir do Facebook, calouros começam a se relacionar logo que sai o listão
>>> Curta o perfil do caderno Vestibular no Facebook

Na quarta-feira passada, quando foram ao campus central entregar os documentos necessários para a matrícula na UFRGS, alguns dos estudantes aproveitaram para se reunir. O encontro já havia sido sugerido na rede social.

O veterano Paulo Roberto Alves Filho, 21 anos, recebeu os calouros. Segundo ele, já é uma tradição adicionar os recém-aprovados em um grupo do Facebook logo depois da divulgação dos aprovados.

— Eles pediram que nos apresentássemos, postando alguma coisa. Achei legal, porque tu já te sente no clima da faculdade logo depois do listão. Mas, ao mesmo tempo, tu já pensa: "vão me dar trote" — comenta o calouro Leonardo Vernier Finamor, porto-alegrense de 18 anos.

Mas o receio de Leonardo já não era o mesmo durante o encontro no campus. Ao lado dos colegas, foi até a Santa Casa, onde doaram sangue.

— Combinamos esse trote solidário aqui mesmo. Em 15 minutos de conversa, já nos integramos mais — afirma Marcus Vinícius de Oliveira Gomes, calouro que sugeriu o gesto, repetido por outros estudantes.

Para o psicólogo e professor da Unisinos e do Instituto da Família (Infapa) Vinícius Guimarães Dornelles, a interação entre os estudantes antes do início das aulas tende a ser positiva, por facilitar a criação de uma identidade.

— A tecnologia é ótima para estabelecer vínculos. Os extrovertidos tendem a interagir melhor do que os introvertidos, mas o efeito, em geral, é benéfico. É importante sentir pertencer a um grupo.

Por outro lado, há estudantes que, por motivos variados como timidez ou simplesmente ainda morarem em outra cidade, não participam ou não se empolgam muito com a ideia de encontrar os futuros colegas ainda no período de férias. Nesse caso, terão de fortalecer laços "à moda antiga".

— A melhor coisa é não se apavorar com eventuais as barreiras. O caminho é procurar entrar no grupo aos poucos — explica Dornelles.

A dinâmica dos grupos de novatos

Geralmente, os grupos que reúnem os bixos são criados por veteranos, logo que o listão é divulgado.

É comum os estudantes mais velhos proporem algumas atividades para agitar a interação nos grupos. Em geral, pedem que os novos colegas se apresentem, postando vídeos ou fotos e compartilhando assuntos de seus interesses.

Frequentemente, os veteranos preparam uma imagem de capa, que deve ser usada por todos os calouros, com dizeres do tipo "bixo do curso tal" ou "eu amo meus veteranos". Pode até rolar um concurso de quem consegue mais curtidas.

Muitos aproveitam para divulgar tarefas de algum trote solidário, seja marcando data e horário para que os bixos doem sangue ou pedindo doações para alguma instituição social. Às vezes, isso se torna uma espécie de gincana, em que os calouros são separados em equipes.

O grupo também é usado para marcar encontros durante as etapas presenciais da matrícula ou mesmo para combinar de todos irem na mesma festa.

Não interagi muito pela internet. O que faço para me enturmar quando as aulas começarem?

> Primeiro, não se assuste com eventuais grupos que surgiram durante o contato que seus colegas tiveram antes do início das aulas. É natural que os de fora possam ter uma resistência inicial, mas isso não significa que você será para sempre um "excluído".

> O maior erro é tentar buscar a aprovação do grupo a qualquer custo. Seu comportamento vai gerar desconfiança e você poderá se tornar uma espécie de "courinho" dos outros.

> Não se coloque contrário aos grupos que já se formaram. Isso pode aumentar a resistência para que você seja aceito.

> Busque estreitar sua relação com um membro do grupo que poderia facilitar sua integração.

Fonte: psicólogo Vinícius Guimarães Dornelles

ZERO HORA
Bruno Moraes / Agencia RBS

Matheus, Marcus, Demétrius, Leonardo, Fernando e Paulo (agachado) combinaram pelo Facebook um encontro no dia de uma das etapas da matrícula
Foto:  Bruno Moraes  /  Agencia RBS


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