A Educação Precisa de Respostas | 29/01/2014 17h31min
O Brasil ocupa a oitava posição entre os países com o maior número de analfabetos adultos, segundo um relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) divulgado nesta quarta-feira.
De acordo com o 11° Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, atualmente o número de adultos analfabetos chega a 774 milhões em todo o mundo, "uma queda de 12% desde 1999, mas de somente 1% desde 2000".
Os dez países que detêm o maior número de adultos analfabetos somam juntos 72% do total, que deve cair em 2015 para 743 milhões, segundo a organização.
A Índia lidera a lista, com 287 milhões de pessoas, e é seguida por China, Paquistão, Bangladesh, Nigéria, Etiópia, Egito, Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo, que ocupa a 10ª posição.
"As mulheres correspondem a quase dois terços do total, e não tem havido progresso na redução dessa porcentagem desde 1990", explica a Unesco.
O relatório também destaca que 250 milhões de crianças no mundo não adquirem os conhecimentos básicos em suas escolas, um problema que também atinge a América Latina e que gera um alto custo para a região.
"A crise mundial da aprendizagem" fez com que, nos países pobres, uma em cada quatro crianças não seja capaz de ler uma oração completa, explicou a Unesco.
Essas dificuldades de leitura afetam cerca de 175 milhões de crianças e se acentua entre as meninas, ressaltou a organização. Na América Latina, o nível de aproveitamento escolar é superior ao de outras regiões, mas existem números muito desiguais entre os países.
Em termos globais, cerca de 10% das crianças latino-americanas em idade de escolarização primária não estão adquirindo as competências básicas em leitura, mas sua proporção oscila entre 4% no México, 25% na Guatemala e chega a 40% na Nicarágua, alerta a Unesco.
Em matemática, aproximadamente três em cada 10 crianças da região não estão adquirindo conhecimentos básicos.
- De que serve a educação se as crianças, depois de anos escolarizadas, acabam seus estudos sem as competências que precisam? - pergunta a diretora do relatório, Pauline Rose.
Alto custo x renda
Estas deficiências educacionais têm um desgaste econômico para os países. A Unesco estima que o custo de que 250 milhões de crianças no mundo não estejam adquirindo conhecimentos básicos gere perdas anuais de 129 bilhões de dólares aos governos.
Promover uma educação de qualidade "pode oferecer uma enorme recompensa econômica e levar a um aumento do Produto Interno Bruto de um país de 23% ao longo de 40 anos". A Unesco exemplifica a estimativa com a situação da Guatemala em 2005, quando os adultos estavam escolarizados em média 3,6 anos e o nível médio havia crescido apenas 2,3 anos desde 1965.
"Se a Guatemala tivesse alcançado a média regional (de 3,6 anos em 1965 e 7,5 em 2005) poderia ter mais do que duplicado seu crescimento econômico médio anual entre 2005 e 2010", afirma o organismo.
A importância de um bom professor
A Unesco também lembra que, para alcançar uma educação de qualidade, os governos devem contar com um número suficiente de docentes, que devem receber "uma formação pertinente, ser destinados às zonas nas quais sejam mais necessários e receber incentivos para que assumam um compromisso de longo prazo com o ensino".
Na região latino-americana, os docentes ganham, em geral, um salário que os permite viver acima da linha da pobreza, mas os salários não são melhores que os de quem exerce profissões que exigem qualificações similares.
Entre 2007 e 2008, profissionais e técnicos com características similares ganhavam 43% a mais que os professores de pré-escola e ensino primário no Brasil, e 50% a mais no Peru.
As desigualdades permanecem
Além disso, na América Latina "as crianças procedentes de ambientes desfavorecidos ficam em um nível muito inferior em relação às crianças de locais mais abastados", alerta a Unesco, ressaltando que boa parte não completa os estudos.
Em El Salvador, por exemplo, 84% das crianças dos lares mais abastados finalizam o ensino primário e dominam as competências básicas, contra 42% das provenientes de lares mais pobres, uma diferença que na Guatemala é de 75% contra 25%.
A iniciativa Educação Para Todos foi um compromisso de 164 governos realizado no Fórum Mundial de Dacar-2000 para garantir a educação básica de qualidade a todas as crianças, jovens e adultos no mundo.
"Embora com avanços, a maioria dos objetivos têm probabilidades de não serem alcançados em 2015 na América Latina e no Caribe, afirma a Unesco.
AFP
No continente, os docentes ganham, em geral, um salário que os permite viver meramente acima da linha da pobreza
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Porthus Junior
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