Professor | 21/11/2013 05h32min
Poderia ser uma fábrica qualquer, não fosse pela quantidade de jovens escritores que saem de lá. Uma verdadeira oficina é o Ateliê de Textos, projeto desenvolvido pela professora Cristiane Fuzer em escolas da rede pública de Santa Maria, finalista do Prêmio RBS de Educação na categoria Projeto Comunitário.
Se um ateliê é lugar de trabalho de pessoas com vontade de experimentar e produzir arte, o projeto não poderia ter recebido nome melhor: vontade é o que não falta aos artesãos. Na sala de aula, os estudantes das séries finais do Ensino Fundamental aguardam ansiosos pelas visitas semanais da equipe do projeto. Acadêmicos de graduação e pós-graduação do curso de Letras da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) levam ao encontro dos alunos inscritos todo o suporte necessário para "ligarem as máquinas".
— Dedicamos conhecimento e carinho a cada um dos participantes. Nas escolas, contamos com a confiança e o apoio da direção e de um professor de língua portuguesa. Às vezes, o professor de arte participa, e temos ótimos resultados — relata a educadora.
Conforme explica Cristiane, os encontros são divididos em etapas. A primeira delas é a pré-escrita, em que são desenvolvidas práticas de leitura e reflexão teórica. A segunda etapa é a reescrita, quando se inicia o processo de produção individual, com a reinvenção de um conto à escolha dos alunos.
Para a acadêmica de Letras Carla Carine Gerhardt, que integra a equipe do Ateliê, é gratificante acompanhar o processo criativo:
— Quando retornamos para as sessões dos feedbacks, eles ficam ansiosos para ler os bilhetes e começar a reescrever o novo texto. Tem alunos que nos contam que já começaram até a escrever poesias e contos.
O desfecho das atividades do Ateliê não poderia ser outro: o lançamento de um livro que reúne a versão final dos textos produzidos pelos alunos. Esta é a terceira e última etapa do projeto, a pós-escrita, comemorada pelos mais novos escritores santa-marienses, ao lado de toda a comunidade escolar.
— É emocionante ver o orgulho de familiares. É visível o entusiasmo dos jovens ao autografarem os livretos de contos que foram relidos e reinventados numa adaptação para o mundo contemporâneo — conta Cristiane.
COMO DESCOBRIR E VALORIZAR HABILIDADES
"Meu encanto pela leitura e pela escrita se revelou antes mesmo de ser alfabetizada, quando inventava as falas das personagens das histórias que contava à minha avó. Na escola e mais tarde na universidade, tive o incentivo de professores que manifestavam reconhecimento pelo meu desempenho. Dessas atitudes advém uma das lições mais valiosas que aprendi: ouvir o que os alunos têm a dizer e evidenciar as qualidades de suas produções é uma maneira eficaz de ajudá-los a descobrir suas habilidades e estimulá-los a investir tempo e energia no desenvolvimento das tarefas.
Esse tem sido um dos princípios norteadores da minha atuação como professora, sempre encantada pelos diferentes mundos que a leitura permite vislumbrar e pelas experiências que a escrita permite expressar. Busco sempre mostrar aos meus alunos três princípios que considero fundamentais: a leitura é ótima companhia no cotidiano e fonte inesgotável para produção dos nossos próprios textos; um leitor transforma-se em autor quando compreende o texto como um processo e produto dos valores de nossa cultura; todo texto merece continuar vivo e, para isso, precisa ter leitores.
Como uma ouvinte e leitora interessada, busco auxiliar meus alunos a qualificarem seus textos, antes de tudo, pelo reconhecimento das suas qualidades e, depois, com orientações para o que precisa ser aprimorado. É assim que conduzo minhas atividades como formadora de professores, de leitores e produtores de textos que, ao resgatarem valores importantes do convívio social, encantam outros leitores."
MODO DE FAZER
Projeto: Ateliê de Textos: Leitura e Produção como (P)artes da Educação
ETAPA 1 — PRÉ-ESCRITA: atividades de leitura e desafio de escrita
— Leitura e análise de diferentes versões de contos clássicos ou folclóricos, com reflexões sobre o contexto social em que foram produzidos.
— Contação de histórias pela mediadora e, depois, pelos alunos.
— Estudo de recursos linguísticos da narrativa.
— Análise da proposta de produção textual (desafio de escrita).
ETAPA 2 — (RE)ESCRITA: produção textual orientada
— Produção individual: reinvenção de um conto de fadas a partir da inserção de elementos do mundo contemporâneo (recontextualização) ou criação de um conto envolvendo personagens folclóricos.
— Elaboração de novas versões mais aprimoradas do texto, com base em bilhetes orientadores produzidos pela equipe do Ateliê de Textos e em feedbacks dos colegas.
ETAPA 3 — PÓS-ESCRITA: socialização dos textos
— Digitação da versão final pelo autor no laboratório de informática.
— Reunião com a equipe e os autores para editoração da coletânea e organização da sessão de lançamento.
— Socialização dos textos produzidos por meio de lançamento da coletânea na escola, com a presença dos convidados dos autores.
— Registro do lançamento no Facebook do Ateliê de Textos e no site/blog/Facebook da escola.
— Doação dos livros à biblioteca da escola, a autores e colaboradores.
Cristiane coordena programa da UFSM que estimula a reescrita de contos entre alunos do Ensino Fundamental
Foto:
Ronald Mendes
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