Professor | 20/11/2013 05h32min
Depois de se aposentar, a professora Clarisa Wolff Garcez decidiu unir suas duas paixões: a educação e o trabalho voluntário. Iniciou um projeto de mediação de leitura com crianças e jovens em situação de pré e pós-transplante de órgãos no instituto Via Vida Pró Doações e Transplantes, na Capital. Cada paciente que chega ao instituto recebe atendimento personalizado. Clarisa elabora um plano pedagógico para cada um e escolhe cuidadosamente os livros para que eles se transportem para um mundo de fantasias e entretenimento.
A iniciativa desenvolvida por Clarisa é finalista do Prêmio RBS de Educação na categoria Projeto Comunitário. Além do atendimento individualizado, o projeto permite aprofundar a relação com as obras e estimular a criatividade dos pequenos: a partir dos livros, vão surgindo novos textos, pinturas, colagens, desenhos e brincadeiras.
— Não é só uma leitura. Primeiro a gente lê junto, esclarece dúvidas. Depois, leem entre eles, e depois a gente conversa de novo. Quero que eles criem o hábito de ler e só ir adiante, só dar aquilo como lido, quando entenderem bem o que estão lendo — diz Clarisa.
Ela mantém contato com as escolas de origem para obter informações dos alunos e acompanhar o rendimento após o retorno para casa. Todo o material utilizado, de livros a papéis, é proveniente de doações.
Mais de cem crianças e adolescentes, a maioria proveniente do norte e do nordeste do país, já contaram com o apoio pedagógico de Clarisa no instituto. Uma delas é Mireia Darlene França Mamede, 10 anos, que se mudou com a mãe do município de Patos, no sertão paraibano, para morar temporariamente em Porto Alegre e conseguir um transplante de rim. Ela precisou abandonar a escola há dois anos, por conta das sessões de hemodiálise. Maria do Socorro Rodrigues, mãe da garota, gostou tanto do trabalho feito por Clarisa, que pretende continuar com esse hábito de leitura quando voltar para casa.
— Importante pensar num modo de despertar isso, porque eu mesma nunca tive essa oportunidade — diz Maria do Socorro.
Clarisa acompanha as crianças depois do tratamento e, em nove anos de projeto, observou que elas passam a ter um melhor rendimento ao retornarem para as escolas.
LEITURA PARA RESGATAR A AUTOESTIMA INFANTIL
"Comecei a realizar trabalho voluntário no Hospital da Criança Santo Antônio, há 15 anos, e vim também para a Via Vida em função de uma criança transplantada que atendi no hospital. Tenho certeza de que a minha interferência é uma coisa positiva dentro de um quadro que é muito pesado, porque uma criança doente é um drama sempre. Elas estão aqui só com a mãe ou o pai, sem o restante da família, e são crianças extremamente afetivas, então a gente acaba sendo um apoio e criando vínculos.
A frequência dessas crianças à escola é esporádica, por isso ficam com lacunas muito grandes na aprendizagem, e são essas lacunas que tentamos preencher. O livro é oferecido para ser manipulado e explorado, para que eles estabeleçam uma relação de intimidade com ele.
Independentemente de ler isto ou aquilo, é importante a sedução para o mundo do conhecimento, familiarizá-los com o texto e levá-los a desfrutar do prazer de ler. A autoestima cresce, porque a leitura faz isso. A ideia é repor conteúdos com o objetivo de a criança voltar para a escola em outras condições. E o melhor instrumento para isso tudo é a leitura."
MODO DE FAZER
Projeto: Leitura: A Janela para um Novo Mundo
— Ofereça atendimento personalizado e desenvolva um plano pedagógico com base em idade, escolaridade, interesses e grau de aprendizado de cada criança.
— Crie momentos de leitura em grupo para que as crianças se acostumem a dialogar entre si e com o texto.
— Acostume-os a lerem os textos mais de uma vez, quantas vezes for necessário para a completa compreensão do que estão lendo.
— Explore outros aspectos do livro além da palavra escrita e deixe a criança manipulá-lo, senti-lo, observar as formas, a textura do papel, as cores.
— Elabore atividades em outras áreas do conhecimento, como ciências e matemática, para que sejam feitas a partir do que foi discutido na leitura.
— Dê espaço para que a criatividade aflore e elas criem novos textos, pinturas, colagens.
— Mantenha contato permanente com a escola de origem da criança, para obter informações prévias de seu rendimento e acompanhar a evolução quando ela retomar os estudos.
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