Atualizada às 05h52min KIARA DOMIT  |  kiara.domit@diario.com.br

Formada em Letras e Direito, mas dona de uma paixão contagiante por ensino e literatura, a gaúcha Maria Elizabeth Souto de Oliveira, de 62 anos, sabia que não poderia dar sua missão por encerrada quando, aposentada, mudou-se para sua casa de veraneio em Passo de Torres, no litoral do Sul de Santa Catarina. Em 2010, ela decidiu voltar a trabalhar com leitura e, com a ajuda de doações de livros, alugou um espaço e abriu uma biblioteca para crianças. Assim nasceu "O mundo das letrinhas", na Praia Rosa do Mar.

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A biblioteca recebia visitas de crianças da escola Vila Nova, que, com poucos recursos, carecia de um acervo maior. Com o tempo, dificuldades de transporte e horários trouxeram o convite para que tia Beth, como ficou conhecida pelos alunos, levasse seu acervo até a escola. Aos poucos, O mundo das letrinhas se transformou no projeto O mundo encantado da leitura, desenvolvido de forma voluntária por Beth.

—Eu já fazia contação de histórias, trabalhos semididáticos e empréstimo de livros na minha biblioteca. Então tivemos problemas de transporte, os horários não batiam, e a direção me convidou a vir fazer o trabalho na escola. Eu comecei a trazer meus livros, o baú da leitura, a mala da leitura e contar histórias, fazer projetos lúdicos na escola. O principal objetivo é desenvolver o gosto pela leitura, formar novos leitores — explica Beth.

Mais do que despertar o gosto pelos livros, tia Beth desperta alegria nos pequenos. Eles comemoram quando a veem chegar e ouvem atentos às histórias, ansiosos para depois escolher um livrinho para levar pra casa.

— Toda vez que a professora Beth chega aqui na escola, os alunos fazem uma festa. A procura por livros na biblioteca aumentou, eles estão encantados com as histórias que ela conta. Levam até dois, três livros por vez. O projeto é maravilhoso — comemora Carina Peres, diretora da escola.

Ana Clara Porto da Silva, de oito anos, está no 3º ano. Ela é uma das alunas mais empolgadas com os livros e não disfarça o entusiasmo ao falar sobre tia Beth.

— A tia Beth é muito divertida. Ela trouxe mais alegria ainda para o colégio. Eu adorei quando ela se vestiu de bruxa, foi muito legal. Por mim eu viria todos os dias aqui pegar mais livros, mas infelizmente é só uma vez por semana. Cada dia eu pego os livros e é como se eu entrasse dentro do livro, é como se cada vez eu gostasse mais — conta a pequena.

Uma das principais preocupações da educadora é com o futuro dos pequenos moradores de Passo de Torres, que não tinham acesso a livros. Isso a motiva a continuar com o projeto, que é feito de forma voluntária.

— O trabalho voluntário é muito gratificante. Eu gosto realmente do que eu faço. No fundo do coração sou professora e acredito no poder da leitura — finaliza.

::Foi um ganho para as crianças e para mim::

"Eu nasci em Porto Alegre, mas morei 40 anos em Caxias do Sul. Nós tínhamos uma casa de veraneio em Passo de Torres e, como eu era professora, mas por várias contingências da vida eu fui trocando de profissão, mas na verdade dentro do meu coração eu sou professora, eu tinha ideia de voltar a trabalhar com leitura. E surgiu essa ideia de fazer uma biblioteca. Aqui não, aqui é uma cidade pequena, não tem recursos. As crianças não têm acesso a livros, revistas, jornais. E se a gente não investir nas crianças, nós não teremos adultos leitores.

Isso foi um ganho para as crianças e para mim, que consegui ir mais adiante com o trabalho, que envolve toda a escola com atividades diferentes.

Escolhemos livros do acervo, eu conto histórias e a gente faz alguma atividade lúdica para motivá-los a ler mais. Eu já me vesti de bruxa, então se conta a história da bruxa, já me vesti de fada, que veio com o baú da leitura. Esse trabalho todo aqui na biblioteca é voluntário, eu não tenho nenhum vínculo com o município."

::Modo de fazer::

- estabeleça um espaço convidativo para leitura na sala de aula ou na biblioteca;

- escolha um livro para leitura e trabalho lúdico, conte a história;

- abra espaço para que as crianças deem opiniões e façam interações e associações com outras histórias;

- às vezes se faz atividades como pintura de um desenho do livro ou "reconto" da história, para crianças maiores (de 3º e 4º ano), para trabalhar a produção textual;

- às vezes o mediador da leitura se veste de personagens para contar histórias aos pequenos (bruxa, fada);

- outra atividade consiste na mala ou baú da leitura, quando são disponibilizados livros fora do acervo da biblioteca da escola para empréstimo;

- livros de fora do acervo da escola são disponibilizados para as crianças duas vezes por semana.

DIÁRIO CATARINENSE