Professor | 15/11/2013 05h51min
Na Escola Municipal Prefeito João Floriani, em Rio dos Cedros, no Médio Vale do Itajaí, a comunicação entre os colegas de sala era incompreensível para Luiz Valdemar Cardozo Júnior. Surdo desde que nasceu, passava de uma série para a outra sem saber o que significavam as frases rabiscadas no caderno. Foi na 5ª série do ensino fundamental que a história dele mudou.
Ao ver que o aluno não entendia o que estava escrevendo, o professor Bruno Araujo Soares decidiu buscar a melhoria na qualidade de vida de Luiz.
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Durante um trabalho voluntário, o educador aprendeu a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Como dominava a técnica, decidiu ensinar o estudante, que não conhecia a linguagem.
— Fiquei observando algum tempo o comportamento dele e percebi que o Luiz não conseguia interpretar o que aprendia. Além disso, ficava isolado na sala de aula, pois os colegas não sabiam como se comunicar — lembra.
Durante dois anos o professor ensinou os sinais a Luiz e o acompanhou em todas as matérias lecionadas. Para a família do estudante, que também não conhecia a língua, o educador enviava tarefas. Os colegas de sala de aula também foram incluídos no contato com aquilo que significava uma nova forma de expressão para a escola.
A partir da 7ª série, Luiz passou a ter acesso aos livros com escrita em Libras, comprados pelo professor e a escola.
Todo o trabalho teve como resultado a melhora no desempenho do aluno — que hoje está na 8ª série — e maior interação entre ele e os colegas de classe.
— Para ele, a Chapeuzinho Vermelho era só uma boneca com vestido vermelho, já que nunca teve contato com a história. Agora, ele até consegue escrever nas redes sociais e entende os recados dos colegas. Fico muito feliz em ver o progresso que alcançou — explica Bruno.
Para o professor, a inclusão do aluno surdo na educação vai além de simplesmente interpretar as frases com sinais. Na opinião dele, o trabalho deve ser diferenciado, com tarefas e provas voltadas para a compreensão do assunto:
— Uma vez ouvi uma professora dizer que ela estava na sala como intérprete e se o aluno não entendia era problema dele. Não concordo com esta maneira de pensar. Acredito que podemos melhorar o ensinamento deles, indo além de fazer gestos com as mãos.
::Fazendo a diferença::
"Me inscrevi no prêmio RBS de Educação desejando tornar público o trabalho que já vinha desenvolvendo há um bom tempo. Lógico, eu esperava ser vencedor. Porém, quando recebi a notícia de que eu era um dos finalistas, fiquei muito feliz e emocionado. Era a realização de um sonho.
Embora eu acreditasse na força do trabalho realizado e tivesse o apoio de toda a escola, sempre surgia uma incerteza, uma dúvida: será que o trabalho realmente é expressivo, será que outras pessoas irão gostar? Hoje percebo que sim. Estou imensamente feliz, por mim e pelo meu aluno surdo, que é a razão da existência deste projeto. Tenho certeza que consegui fazer diferença na vida dele e dos colegas.
Espero também servir de exemplo para outras pessoas acreditarem na qualidade do que desenvolvem e se dedicarem cada vez mais, pois certamente serão recompensadas. Talvez não em concursos, mas através da realização profissional."
::Modo de fazer::
- Ensinar a Língua Brasileira de Sinais (Libras) tanto para o aluno surdo quanto para os demais colegas de sala. Com isso, a interação entre eles será melhor
- Trabalhar com livros que tenham a linguagem de sinais. Embora o professor possa interpretar as histórias, é melhor que o aluno tenha contato direto com o texto
- Produzir atividades e provas específicas para o aluno
- Incentivar a participação da família na aprendizagem do estudante. Caso eles não saibam a linguagem, ajude-os a aprender também, para uma melhor comunicação
- Vá além da interpretação. Encontre técnicas e maneiras de incentivar o aluno a querer estudar
JORNAL DE SANTA CATARINA
Professor Bruno Araujo Soares ensinou ao aluno Luiz a Libras e promoveu a integração dele com os colegas
Foto:
Artur Moser
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