A Educação Precisa de Respostas | 13/11/2013 11h08min
O grande desafio era transformar leitores semânticos em leitores críticos. Não bastava apenas fazer com que os alunos decifrassem o que estavam lendo: era necessário que eles fossem capazes de identificar a construção, a ideologia e a intertextualidade de cada obra.
Para isso, a professora Suzana Borges da Fonseca Bins, finalista do Prêmio RBS de Educação na categoria Escola Particular, fez uma reforma completa no programa de Literatura do Ensino Médio do Centro de Ensino Pastor Dohms, em Porto Alegre.
Em vez de limitar-se à apresentação cronológica das escolas literárias, resolveu aproximá-las do estudante por meio de uma abordagem temática, escolhendo assuntos como amor, sociedade, pátria e identidade.
— Recorri a uma série de livros que abordam o que se espera do ensino da literatura. Peguei tudo isso e mais algumas convicções, além de coisas que já vínhamos fazendo, e fiz o projeto — conta Suzana.
Apesar da alteração no currículo e do novo programa estar em fase de experimentação, a mudança foi muito bem recebida pela diretoria da escola e pelos demais docentes, segundo a atual coordenadora pedagógica do Ensino Médio, Loiva Glanzel.
As escolas literárias e os livros obrigatórios para o vestibular obviamente continuam no programa, sendo oferecidos a partir da metade do Ensino Médio. Mas, como no início do curso os alunos já depararam com textos de diferentes épocas, analisando-os sob aquele viés temático, é mais fácil retornar a alguns desses escritos e discuti-los então sob o enfoque dos movimentos literários.
Com seus roteiros de leitura, aulas inteiras incentivando a participação e a discussão dos temas entre os alunos, e dicas sobre clichês e formas de se descobrir as qualidades literárias em um texto, Suzana ajudou a desenvolver o senso crítico em alunos como Sofia Fatur Kauffmann, de 15 anos.
— Sempre gostei bastante de ler, mas eu não lia muitos livros literários. Depois que tive aula com a Suzana, mudei totalmente meu gosto e aprendi a ler os livros bons, os clássicos — diz Sofia.
Suzana também criou um blog da disciplina, organizou saraus e ainda incentivou os alunos a se tornarem poetas e escritores.
AULAS COM BONECAS, UM ENSAIO DE FUTURO
"Eu sempre me imaginei professora. Dava aula para as minhas bonecas, cada uma tinha o seu boletim. Como gostava muito de ler, me imaginava professora de português e, quando entrei na faculdade e tive realmente aula de literatura, vi que era aquilo que eu queria fazer. O que eu tento fazer aqui no Ensino Médio é instrumentalizar os alunos para lerem literatura, que é diferente de ler jornal ou outros textos.
Porque literatura não é uma ideia. Literatura é linguagem. Se fosse só uma ideia, todos nós seríamos escritores, porque temos ideias maravilhosas. O problema da literatura é como apresentar essa ideia numa linguagem diferente, inovadora, cativante. A proposta é trabalhar com textos de diferentes épocas, tanto brasileiros quanto estrangeiros, mostrando como esse texto se constrói, para que, quando a gente entrar nas escolas literárias, no terceiro trimestre do segundo ano, os alunos já tenham mais maturidade como leitores.
Algumas provas são feitas com consulta, eles podem usar as anotações, os comentários em sala, e são estimulados a serem autores do pensamento deles, a refletirem: 'o que eu, aluno, com tudo o que foi discutido, o que eu tenho para dizer sobre esse livro'. É importante eles saberem que o texto literário conversa com a realidade de sua época, ou concordando com ela ou criticando-a. Essa é a ideia, e a gente espera que dê certo."
MODO DE FAZER
Projeto: Nova perspectiva para o ensino da Literatura no Ensino Médio
— No início do Ensino Médio, priorize a abordagem dos textos literários com um enfoque temático: amor e outros sentimentos, pátria e identidade.
— Selecione obras brasileiras e estrangeiras, em poesia e prosa, que se relacionem com a temática e com os textos teóricos de suporte, independentemente da época em que foram escritas.
— No 2º ano, utilize textos que abordem a temática das sociedades urbana e rural e, a partir do 2º semestre, dê início ao estudo das escolas literárias.
— Dê exercícios para os alunos desenvolverem a própria escrita enquanto criadores de textos literários, tanto em poesia quanto em prosa.
— Crie um blog e estabeleça um rodízio em forma de sorteio para que os alunos elaborem conteúdos online, sejam eles dissertativos ou narrativos.
— Permita que algumas das avaliações sejam feitas com consulta ao livro e ao caderno, mas crie perguntas que valorizem as anotações feitas pelos próprios alunos em classe.
Escola Particular
12/11 Nicole Bruna Sauthier Niche
13/11 Suzana Borges da Fonseca Bins
14/11 Taise Soares de Oliveira
Escola Pública
15/11 Maria Alice Gouvêa Campesato
18/11 Neusa Regina Klein Palma
19/11 Rita Tessaro
Projeto Comunitário
20/11 Clarisa Wolff Garcez
21/11 Cristiane Fuzer
22/11 Solange Carvalho de Souza
No Centro de Ensino Pastor Dohms, Suzana trabalha com textos literários para formar leitores críticos
Foto:
Ronaldo Bernardi
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