Entrevista | 02/11/2013 16h42min
O país tem a metade da população do Rio Grande do Sul e ostenta um dos melhores sistemas educacionais do mundo. Na Finlândia, as crianças estudam menos que no Brasil, mas aprendem e se divertem mais. Qual o segredo do sucesso?
Em entrevista a Zero Hora, a ministra de Educação da Finlândia, Jaana Palojärvi, conta como foi o processo que colocou o país nórdico em posição de destaque nos rankings do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), exame que mede o quanto alunos de mais de seis dezenas de países aprendem em leitura, matemática e ciências — e qual o papel da sociedade nessa caminhada de êxito.
Confira a entrevista:
Zero Hora — A Finlândia é exemplo mundial de que é possível ter educação gratuita e de qualidade. Como se chegou a esse modelo de sucesso?
Jaana Palojärvi — Na Finlândia, há muito tempo se considera importante oferecer oportunidades iguais e de qualidade para todos os cidadãos, que são o maior recurso que um país pequeno pode ter. Acreditamos que, independentemente da origem socioeconômica, todos devem participar e avançar no caminho de educação. Para que isso acontecesse, foi preciso focar especialmente em um desenvolvimento de longo prazo.
A reforma do Ensino Fundamental na Finlândia prolongou a obrigação do estudo e acabou com uma prática que existia antes, de as crianças serem dividas em dois grupos: as que continuavam e as que encerravam os estudos. Hoje, todos têm a oportunidades de continuar. E os resultados são excelentes tanto para alunos que antes tinham desempenho inferior quanto para os "melhores" alunos.
ZH — Qual a contribuição que o engajamento da sociedade no processo de desenvolvimento da educação?
Jaana — Na Finlândia, existe uma tradição de educação popular voluntária que continua até hoje. Os adultos finlandeses também são os mais capazes de utilizar, no dia a dia, os conhecimentos e competências que adquiriram ao longo da vida. Grande parte desta educação acontece em associações e centros de ensino voluntários voltados para adultos. Desta maneira, a sociedade civil tem um grande papel na educação e contribui por meio da legislação, financiamento e planos de desenvolvimento da educação. Além disso, nas escolas finlandesas, investe-se muito na cooperação entre escola e família.
ZH — Como a sociedade pode fazer com que essas diferenças entre escolas públicas e privadas sejam amenizadas?
Jaana — Garantindo recursos para escolas públicas, na tentativa de diminuir as diferenças entre as escolas. A escola pública deve se tornar uma opção atrativa para que pais possam optar por ela em vez da privada. Diminuir a desigualdade entre os alunos gera melhores resultados para todos.
ZH — Que medidas implantadas na educação finlandesa poderiam ser aplicadas em um país com uma realidade diferente como o Brasil?
Jaana — Antes de mais nada, deveria se investir fortemente no desenvolvimento do sistema público de ensino e na diminuição das diferenças entre escolas. Outro passo importante no modelo finlandês, que poderia ser aplicado em outros locais, é a inserção de crianças de origem socioeconômica diferente na mesma sala de aula.
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