Professor | 15/10/2013 06h31min
Uma das maiores referências do país em educação, Mario Sergio Cortella, passou por Caxias no ínicio deste mês para falar com mais de quatro mil pessoas, entre elas professores, alunos e funcionários da Marcopolo. Defensor do ensino público, Cortella avalia o ensino politécnico como uma promessa de boa forma de educar e também entende que os professores são desrespeitados por serem os únicos com coragem de desafiar os jovens.
Mario Sergio Cortella foi assessor e chefe de gabinete de Paulo Freire, é licenciado em filosofia, mestre e doutor em Educação. É professor da PUC/SP há 36 anos, com docência e pesquisa na pós-graduação em Educação e no Departamento de Teologia e Ciências da Religião, atuando também como comentarista da Rádio CBN e do Jornal da Cultura.
Leia abaixo trecho da entrevista com o professor.
Pioneiro: De que forma a família pode ser mais participativa em sala de aula?
Cortella: Não é a família que ajuda a escola a educar, é a escola que ajuda a família a fazer a escolarização da criança. Escolarização é um pedaço da educação. Educação é o acompanhamento das escolhas e capacidades do aluno. É a família que é auxiliada pela escola e não o inverso. A escola não consegue ter esse papel porque uma família tem dois ou três filhos, enquanto o professor tem de 30 a 40 alunos.
Pioneiro: E o ambiente escolar se mostra atraente para o convívio de pais e filhos?
Cortella: É difícil generalizar escolas. Cada professor é um, cada escola apresenta uma realidade.
Pioneiro: E se dividirmos por escola pública ou privada?
Cortella: A escola privada no Brasil é muito restrita, sem significado até no ponto estatístico, porque 87% das pessoas que estão na educação básica frequentam escolas públicas. Numa sociedade, 13% não é algo que a gente dê relevância. Por isso, uma questão séria no Brasil não é escola pública versus escola privada, e sim escola boa versus escola ruim. Escolas boas existem em ambos os campos. Mas, objetivamente, a escola privada no Brasil é absolutamente minoritária.
Pioneiro: Então o senhor é um defensor da escola pública?
Cortella: Claro. Porque é uma instituição republicana, coloca várias camadas sociais em contato, agrega docentes que têm uma dedicação intensa, oferece uma condição maior humanitária.
Pioneiro: Enquanto isso, a valorização do professor em escola municipal é maior que em âmbito estadual, por exemplo.
Cortella: Sim. Isso acontece porque estamos lidando com dimensões de gestão diferente. Uma coisa é lidar com todos os municípios do Rio Grande do Sul e outra coisa é lidar com uma cidade. Estado é algo abstrato, cidade não. Comunidade Caxias do Sul é concreta, o Rio Grande do Sul é apenas um traço no mapa.
Pioneiro: E além da má remuneração, ocorre ainda a falta de respeito com os professores...
Cortella: Isso acontece tanto porque nós, professores, somos os únicos adultos que encaram o jovem hoje. As crianças tem autonomia, fazem a comida sozinha usando o micro-ondas, não falam mais com os pais. Os pais são reféns das crianças: ela decide onde vai almoçar, o que a família assistirá na televisão. A primeira pessoa que ela encontra no dia que pergunta: 'onde está teu caderno? e o uniforme? pode desligar o celular?', é o professor.
Mario Sergio Cortella foi assessor e chefe de gabinete de Paulo Freire, é licenciado em filosofia, mestre e doutor em Educação.
Foto:
Roni Rigon
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