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Educação Básica  | 25/09/2013 07h47min

Crianças encaram seis quilômetros a pé para estudar na Zona Sul da Capital

Prefeitura da Capital não se entende, e alunos da Vila Pipoca, na Restinga, caminham por duas horas, ida e volta, para chegar ao colégio

Aline Custódio  |  aline.custodio@diariogaucho.com.br

Primeiro é preciso descer um barranco de um 1m e atravessar uma pinguela sobre o arroio que transborda a cada chuva forte. Depois, só piora. As quatro filhas da dona de casa Kátia Pereira Cidade, 25 anos, da Vila Pipoca, no Bairro Restinga, em Porto Alegre, encaram a pé 6km diários (3km de ida e 3km de volta) - parte deles de chão batido - para irem à escola. No total, quase duas horas de caminhada por dia, numa lição de superação e empenho em busca da educação.

Pequenos se sujam no caminho

O mesmo dilema é vivido por 150 crianças da comunidade que fica no final da Estrada Barro Vermelho, num total de 250 famílias.

Todas as manhãs, antes das 7h, a cena se repete: adultos e crianças caminham rumo ao trabalho e à escola. Kátia leva as filhas até a creche, onde deixa Dhiovana, 14 meses, Jocemara, três anos, e Ana Paula, seis anos. Na escola, ficam a filha Anita e a irmã de Kátia, Kauane, ambas de sete anos.

- Quando chove, fica quase impossível. Nem chegaram à estrada e já estão sujas. Se houvesse uma linha de ônibus... - clama Kátia.

Pelo menos quatro escolas do bairro, a partir da educação infantil, recebem crianças da Vila Pipoca. Numa creche, uma professora que pediu para não ser identificada diz que as que moram longe faltam quando chove ou esfria - ontem, fazia cerca de 8ºC. Anita calçava uma sandália, sem meia.

- Coitadinhas, moram longe e são pequenas...

Comunidade já pediu transporte

Moradores garantem que, há mais de cinco anos, solicitam à EPTC a colocação de uma linha circular. Porém, jamais tiveram retorno. Liderança na vila, Gerno Dias Prado conta que um levantamento sobre o número de crianças foi entregue à rede de atendimento à infância no Bairro Restinga:

- Não pedimos linha regular, mas uma circular de manhã cedo e no final da tarde.

Smov espera pela EPTC

Por meio da assessoria de imprensa, a EPTC informa que uma equipe visitou a região (data não foi informada) e constatou que o trecho sem asfalto da Estrada Barro Vermelho não oferece condições para a receber uma linha de ônibus. A estrada tem muitos buracos e é estreita em certos pontos.

Porém, a reportagem flagrou na manhã de ontem um ônibus particular rodando sem problemas pela parte mais esburacada da via sem asfalto.

Já a Smov informou que, por ser uma invasão (situação que persiste há mais de 20 anos), não poderia pavimentar o trecho permanentemente.

Falta uma demanda

Há, porém, uma possibilidade: fazer uma manutenção da via com camada fina de asfalto e, inclusive, ampliar a estrada pavimentada. Para isso, precisa ser demandada pela própria EPTC. Até agora, o órgão não procurou a secretaria para solicitar as melhorias.

Não avisaram o conselho...

O conselheiro tutelar da Micro 7, Vitor Berghann, foi surpreendido pela resposta da EPTC. No mês passado, houve reunião sobre a situação dos alunos.

- Mostramos que é inviável para eles percorrerem todo aquele trajeto a pé. Ficaram de nos dar um retorno sobre a colocação de uma linha alimentadora - disse Vitor, um dos coordenadores da Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente da Tinga.

O conselheiro afirma que os menores, entre quatro e cinco anos, caminham até uma hora sem parar na companhia dos pais:

- Existe o programa Vou à Escola, no qual a prefeitura paga pelo transporte dos que moram distante da instituição. Ou seja, é só colocar o ônibus!

O conselheiro elogiou os estudantes que enfrentam chuva e calor. E desabafou:

- Como vou cobrar dos pais e das crianças as faltas na escola?

DIÁRIO GAÚCHO
Lívia Stumpf / Agencia RBS

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Foto:  Lívia Stumpf  /  Agencia RBS


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