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A Educação Precisa de Respostas  | 09/09/2013 06h07min

Estudantes viram alvo de assaltantes em Porto Alegre

Além do dinheiro, smartphones e relógios de alunos do Ensino Médio e de Universidades atraem os criminosos

José Luís Costa  |  joseluis.costa@zerohora.com.br

A invasão de uma sala de aula na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) por um ladrão, na semana passada, ilustra o grau de insegurança a que está exposta a comunidade escolar na Capital. Casos como esse são raros, mas do portão para fora de escolas e universidades se espalha uma epidemia de assaltos contra estudantes, a ponto de gerar protestos e abaixo-assinados com pedidos de socorro às autoridades.

Um dos pontos mais perigosos é a região das avenidas Osvaldo Aranha e João Pessoa, nos arredores do Parque Farroupilha (Redenção) e do complexo de faculdades da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na área central da Capital, onde transitam milhares de estudantes. Ali, há queixas de falta de policiamento e iluminação, e sobram relatos de assaltos a qualquer hora do dia.

Percorrendo a região pela manhã, tarde e noite, os 1,9 mil alunos do Instituto Estadual de Educação General Flores da Cunha, contíguo à Redenção, são presas fáceis para ladrões, especialmente, os mais jovens — a escola tem alunos a partir dos 10 anos. A média é de um assalto a cada dois dias. O número é estimado porque parte dos casos não é registrado pelas vítimas, e a Secretaria da Segurança Pública não dispõe desse tipo de estatística.

Zero Hora visitou oito turmas dos ensinos Fundamental e Médio, dos turnos da manhã e da tarde, e em todas identificou vítimas de roubos na entrada ou na saída da escola. Em uma das turmas da 8ª Série, dos 28 presentes na manhã de quinta-feira, 10 já foram assaltados, assim como duas professoras.

— A gente pouco pode fazer além de telefonar para a BM e chamar os pais — lamenta a diretora Leda Larratéa.

Assessora pedagógica, a professora Elis Dockorn, que teve o vidro do carro quebrado e o estepe levado, em julho, lembra que dois intrusos já foram flagrados circulando nos corredores do colégio e outro chegou a assistir parte de uma aula.

— Os assaltos estão causando doenças psicológicas e desinteresse pelos estudos — afirma Elis.

Colocação de armários auxilia

Os roubos também preocupam instituições particulares. Até o começo do ano era comum estudantes do Colégio Anchieta saírem ao meio-dia com mochilas para almoço fora da escola e voltarem à tarde de mãos abanando. A partir da instalação de armários nos corredores, vêm caindo os assaltos no intervalo dos turnos de aula.

A iniciativa faz parte de um pacote de ações, envolvendo pais e professores. Desde maio eles se reúnem para discutir com representantes de outros colégios dos bairros Bela Vista e Boa Vista — Monteiro Lobato, Província de São Pedro e a Escola Estadual de Ensino Fundamental Bahia — e com a BM. Durante meses, PMs fizeram patrulhas na região da Avenida Nilo Peçanha e rondas com bicicletas. Outra providência foi a instalação de duas câmeras de vigilância — monitoradas pela escola — que registram a movimentação em partes externas do colégio. Conforme Cristina Guzinski, coordenadora do Setor Comunitário, os ataques caíram pela metade.

Nas imediações do Colégio Mãe de Deus, na Tristeza, além de instalação de câmeras e aumento da iluminação, um vigilante particular circula com motocicleta. Em 28 de agosto, o professor de Educação Física Everton Luís Deiques, 34 anos, foi baleado por ladrões de carro.

No começo daquele mês, a comunidade escolar tinha enviado um abaixo-assinado com 1.058 nomes para a Secretaria da Segurança Pública, solicitando mais policiamento. Na terça-feira passada, representantes da escolas e dos pais foram recebidos pelo secretário Airton Michels, que prometeu providências.

Contraponto

O que diz o tenente-coronel Eviltom Pereira Diaz, chefe da Comunicação Social da BM

"Todos os comandantes de unidades da BM são sensíveis a esta questão e têm procurado atender as demandas. Rondas com viaturas são realizadas nestes locais de acordo com um planejamento. A BM atua onde há incidência de crimes. Infelizmente, não é possível colocar um PM na frente de cada escola."

O que fazer para evitar os ladrões

- Prefira caminhos iluminados e movimentados na saída da escola. Os criminosos aproveitam esses momentos para agir.

- Em locais públicos, evite mostrar seu telefone celular ou MP3. Coloque os fones no ouvido e proteja o aparelho sob a roupa. As meninas podem esconder os fones sob o cabelo.

- Antes de escolher a roupa, pense onde você vai. Se for de carro à escola, pode usar acessórios de marca, mas andar de ônibus ou caminhar à noite com tênis sofisticado pode ser arriscado.

Adolescente teve de trocar de escola

Há quatro meses, um garoto de 15 anos abandonou o Instituto Estadual de Educação General Flores da Cunha. Motivo? Insegurança. Em março, levaram a carteira dele quando caminhava próximo à Redenção. Abalado, faltou às aulas por alguns dias e, quando voltou, conseguiu trocar de turno. Pouco adiantou. No mês seguinte, teve uma corrente arrancada do pescoço, também na saída da escola.

A solução foi trocar de colégio para um mais perto de casa, no bairro Santo Antônio, onde iria acompanhado de um grupo de amigos. Mas o drama persiste. Há duas semanas, uma dupla de moto perseguiu o garoto e arrancou a mochila dele — recuperada, instantes depois, em um matagal. Não encontraram nada do interesse deles. O menino não carrega mais carteira, celular, corrente e relógio. Evita usar roupa e tênis da moda e só vai para o colégio acompanhado do pai.

— Ele não tem mais vontade de sair de casa — lamenta a mãe.

O drama vivido pelo jovem pode ser definido como transtorno de estresse pós-traumático. Conforme o psicólogo e psicanalista Leonardo Della Pasqua, um dos sintomas é o isolamento social.

— A pessoa foge de situações, contatos e atividades que possam reavivar as lembranças dolorosas da situação traumática — diz Della Pasqua.

Universitário é vítima de ataque ao meio-dia

O que deveria ser uma simples caminhada nos arredores do Campus Centro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na Capital, se transformou numa perigosa aventura.

Na semana passada, por volta das 12h30mim, o acadêmico de Jornalismo Marcelo Carôllo de Oliveira, 22 anos, caminhava pela Avenida João Pessoa, quando se viu espremido por um bandido no corredor entre uma parede do viaduto Imperatriz Leopoldina e a grade do pátio da Faculdade de Direito. Sem preocupação com testemunhas, o ladrão puxou uma faca.

O estudante revirava a carteira em busca da única nota, de R$ 50, que pagaria o ônibus até o trabalho, mas o bandido foi mais rápido. Puxou o dinheiro e exigiu o celular. Antes do estudante entregar o telefone, o assaltante desistiu e sumiu correndo entre carros.

— É muito velho, nem ele se interessou.

Fiquei feliz porque não levou os documentos, mas tive de ir a pé para o serviço. O estudante de Engenharia Ambiental Márcio Nicknig, 23 anos, é personagem de episódio ainda mais insólito. Em uma noite de julho, ele caminhava pela Rua Sarmento Leite quando foi abordado por dois ladrões que exigiram o celular. Desferiu um soco em um deles e fugiu. Avisados, PMs foram para a região. Quando

Márcio voltava pelo mesmo caminho, cruzou com a dupla, em disparada, com uma mochila roubada de outro aluno.

— O lugar menos provável que imaginava encontrar eles era ali — espanta-se.

Márcio reagiu de novo. Derrubou um deles com uma rasteira, mas os ladrões conseguiram fugir com um notebook. Segundo a UFGRS, são raros os casos de roubos na áreas internas da universidade, e a coordenadoria de segurança mantém contato permanente com a BM.

ZERO HORA
Diego Vara / Agencia RBS

Comunidade escolar vive uma epidemia de assaltos
Foto:  Diego Vara  /  Agencia RBS


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