A Educação Precisa de Respostas | 03/09/2013 13h45min
Quando a internet começou a se espalhar pelo mundo na década de 1990, a maioria das profissões teve que repensar os seus modos de atuação. O maior medo era o desemprego, e as previsões mais apocalípticas previam um colapso no mercado de trabalho - afinal, para onde iriam todas as pessoas cujas atividades deixaram de existir nos tempos de comunicação instantânea? Passadas quase duas décadas, a internet deixou de ser uma novidade e o buraco deixado por essas mudanças começa a ser tampado por novas funções.
— Este medo é histórico. Quando aposentaram as máquinas a vapor, quem entendia só de máquinas a vapor ficou desempregado. Nestes momentos de transformação, o mundo passa por uma reciclagem, algumas profissões somem e outras surgem. O que eu aconselho aos jovens, e não só àqueles que querem trabalhar com internet, é se interessar por novidades, ter a curiosidade aguçada, não importa em qual área — explica Silvio Kotujanski, diretor da Vertical Educação da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate).
Segundo Kotujanski, as novas gerações nasceram no mundo digitalizado e não encaram tais mudanças como "revolucionárias", pois já utilizam as ferramentas online nos seus cotidianos desde muito novos. O problema estaria em perceber as inúmeras possibilidades criadas no mercado e profissionalizar o conhecimento, relacionando o desenvolvimento acelerado da tecnologia com as aptidões individuais.
Profissões clássicas também mudam
Se muitas funções perderam o sentido de existir nos últimos anos, outras tiveram que se reformular por completo. Atividades que eram feitas por profissionais que iam até o local de trabalho agora podem ser realizadas por freelancers do conforto de suas casas. O Jornalismo, por exemplo, parou de ser produzido exclusivamente nas redações e hoje conta com uma equipe de profissionais que podem trabalhar de qualquer lugar, inclusive direto da rua. O Marketing ganhou um leque gigantesco de opções criado pelas redes sociais e pela publicidade online, o Direito está se repensando constantemente para entender como deve funcionar a legislação no mundo virtual, e até os médicos podem realizar procedimentos à distância.
— Há dez anos, saber acessar a internet era um diferencial, mas hoje nem é mais destaque. Há muitos anos que o conhecimento básico de informática sequer é especificado pelos empregadores, pois até as funções mais gerais precisam dele - nem que seja para bater o ponto eletrônico ou responder e-mails. É claro que uma função mais específica deverá ter especialistas qualificados, mas mesmo um profissional com uma rotina agitada já sabe organizar sua agenda sozinho, responder a correspondência, fazer buscas na internet — conta a psicóloga e diretora da RH Brasil Liana Gus Gomes.
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Os especialistas em mercado de trabalho ainda estão confusos sobre como as profissões focadas na internet devem se desenvolver nos próximos anos. A renda estimada, por exemplo, é uma incógnita: como a maioria destas funções não são regulamentadas, é normal encontrar profissionais com rendas muito discrepantes.
Confira abaixo as ocupações que estão engatinhando entre as profissões mais consolidadas e entenda onde você consegue se encaixar no novo panorama.
ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO
São "especialistas em usabilidade". É o responsável pela organização online da informação, e tem como objetivo tornar a navegação em um site efetiva e economizar esforços da equipe. A função do profissional é examinar os objetivos de um site, ranqueando os dados por ordem de importância e elaborando mapas de usabilidade. O arquiteto também deve ajudar a pensar na estética da página, facilitando o trabalho que deverá ser feito posteriormente.
O que estudar: Apesar de ser uma função um pouco menos voltada à programação, o especialista deve ter conhecimento de webdesign e programação para entender todo o processo de organização das informações. Os profissionais são provenientes de várias áreas como o Jornalismo, Design e Sistemas de Informação. Já existem pós-graduações em Arquitetura e Organização da Informação, e a UFMG (Belo Horizonte) oferece um curso de especialização pago que dura três semestres.
WEBDESIGN
É quem pensa nos aspectos visuais de uma página e em como eles podem ajudar (ou atrapalhar) a navegação. É considerada uma extensão do Design, mas se concentra na estética virtual. A função se confunde com a do arquiteto da informação, pois ambos estruturam uma página na internet antes da elaboração da mesma, mas o designer é mais focado na parte "visível" do conteúdo.
O que estudar: Já existem faculdades de webdesign em diversas instituições, como a Universidade Paulista (Unip) e a Unisul de Tubarão (curso a distância). Os cursos de Design em geral e Jornalismo também costumam apresentar noções bem básicas da área, cabendo aos estudantes procurarem especializações.
MARKETING MÓVEL (MOBILE MARKETING)
Ainda engatinhando no mundo da comunicação, o marketing para dispositivos móveis (smartphones, tablets) tem se tornado a grande aposta das empresas de comunicação social. A função do profissional é tanto ajudar na elaboração de campanhas em parceria com os outros meios (outdoors, TV, rádio, relações pessoais) quanto desenvolver atividades publicitárias em dispositivos móveis e nas redes sociais.
O que estudar: Ainda que seja uma atuação nova, o profissional deve ter conhecimento sobre a Publicidade tradicional para entender como adaptá-la às novas tecnologias. Em empresas pequenas, o profissional deve equilibrar as áreas de Publicidade e programação, por isso ambas as formações são recomendadas.
GERENTE DE REDES/MÍDIAS SOCIAIS
As redes sociais surgiram nos últimos anos como uma das formas mais eficientes para a empresa fazer contato direito com os clientes. A interação via Facebook, por exemplo, permite que problemas pontuais sejam solucionados sem a necessidade de uma reclamação formal e burocrática por parte do público. O profissional responsável pelas mídias sociais deve ficar atento ao que se fala sobre sua empresa ou cliente em fóruns, blogues e sites de relacionamento como o Facebook, Instagram e Twitter.
O que estudar: A comunicação direta com os clientes é um trabalho sensível e requer bastante cuidado por parte dos profissionais responsáveis por ela. As áreas de Marketing, Publicidade e Relações Públicas são as mais recomendadas. O Senac oferece cursos de pós-graduação em Gestão da Comunicação em Mídias Digitais em cinco cidades de SP, e a PUC-SP em Redes Sociais, Colaboração e Mobilidade.
BLOGUEIRO
Os blogues mudaram rapidamente o modo de produzir notícias usado pelo Jornalismo. No geral, os blogueiros profissionais são pessoas com uma vasta rede de contatos ou uma grande fonte de informações inéditas que possam influenciar o desenvolvimento de um assunto específico na sociedade. Os blogues podem ser extremamente diferentes entre si, mas o compromisso com a informação correta e ética diferencia a atividade do "bate-boca" encontrado pelas redes sociais.
O que estudar: Muitos são formados em Jornalismo, mas não há uma graduação "ideal". Cada um deve ter conhecimento sobre o tema de seu blogue (Política, Moda, Economia, Cultura), e algumas pessoas se envolvem anteriormente com a atividade da qual falam antes de virarem blogueiros profissionais.
E-COMMERCE OU COMÉRCIO ONLINE
É o ponto de encontro entre a visão financeira da empresa e sua atuação na internet. O profissional precisa conhecer como funciona o mercado na internet e se especializar em campanhas de venda online, inclusive acompanhar o desempenho das lojas virtuais e o rendimento gerado pela publicidade. É um mercado em rápida ascensão - segunda a empresa especializada em pesquisas online E-bit, estima-se um crescimento de 25% para o setor apenas em 2013.
O que estudar: A Administração e noções de vendas "tradicionais" são muito valiosas para o profissional, mas é necessário se aprofundar no mercado online. Diversas instituições oferecem cursos rápidos de e-commerce, sendo a maioria a distância e pagos. É importantíssimo manter uma atualização individual constante com livros, blogues e fóruns de discussão.
ESPECIALISTA EM BUSCAS
Estar bem classificado em serviços de busca como o Google pode ser o diferencial para um site que ainda tenha pouca relevância no universo da internet. Este profissional deve ter o conhecimento de como os usuários chegam ao site, qual o trajeto que eles percorrem dentro deles e, principalmente, como fazer com que o cliente ou empregador esteja no topo das buscas daquele tema.
O que estudar: O profissional que exerce esta função não precisa de uma formação específica, mas deve ter bastante conhecimento sobre as ferramentas online, quais critérios os sistemas dos buscadores usam para ranquear os sites e uma noção bem clara de webdesign. Como é uma função nova no mercado, o estudo individual é bastante estimulado.
Novas gerações já incorporaram linguagem da internet e encontram facilidade no mercado de trabalho
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