Ensino Superior | 19/08/2013 09h58min
Três pesquisas desenvolvidas na Universidade da Região de Joinville (Univille) desembarcaram na Europa no fim de semana para serem apresentadas a cientistas do mundo inteiro a partir de terça-feira.
Elas viajaram na bagagem do professor Gilmar Erzinger – dono de um currículo que vai da bioquímica farmacêutica ao pós-doutorado em fotobiologia, área que estuda a ação da luz sobre seres vivos – para serem debatidas em um dos maiores congressos de meio ambiente e saúde do mundo, que ocorre entre esta segunda e sexta-feira na cidade de Basileia, na Suíça.
O congresso tem enfoque multidisciplinar, isto é, reúne de biólogos a médicos, de farmacêuticos a físicos, entre vários outros especialistas. Só na relação de palestrantes e painelistas há cerca de 1,7 mil pesquisadores dos quatro cantos do planeta. O objetivo do evento é o debate de estudos que buscam entender como alterações no meio ambiente estão impactando na saúde humana e de outros seres vivos.
As pesquisas que Erzinger vai apresentar são fruto de trabalho dele, de alunos e de professores da graduação em farmácia e do mestrado em meio ambiente e saúde, que ele coordena. Os temas são curiosos, como uma dissertação sobre os impactos de um bioinseticida à base de clorofila (parte verde das plantas) contra mosquitos, desenvolvido e patenteado por Erzinger.
O bioinseticida é considerado uma solução barata – pode ser produzido a partir de folhas de bananeira – e não causa poluição. É ideal para países pobres onde epidemias de malária e outras doenças causadas por mosquitos afetam a população.
A invenção é do joinvilense em parceria com Donat Peter Häder, da Universidade de Erlangen, em Nuremberg, na Alemanha, onde ele concluiu o pós-doutorado há três anos.
Hormônios também são poluentes
Os dois estudos que medem impactos de hormônios femininos e de remédios nos ambientes aquáticos envolvem oito alunas de farmácia e os professores Luciano Henrique Pinto e Lineu Fernando del Ciampo, além de Gilmar Erzinger.
O mundo deles é a ala de laboratórios da Univille, em especial a alga Euglenas gracillis, que deixa a água esverdeada em rios, e um aparelho chamado NG Tox, criado por uma empresa mantida por Erzinger e Lineu.
O que os pesquisadores fizeram foi colocar a alga, comum na natureza, e hormônios femininos nos recipientes da máquina em um dos estudos. Também foram testadas substâncias presentes em medicamentos para pressão alta e insulina.
De acordo com Erzinger, há estudos que constatam que o despejo nas águas de hormônios femininos, eliminados na urina de seres humanos ou de animais, causa mudança de sexo em peixes e sapos, o que pode prejudicar a reprodução deles. O impacto sobre as algas é mais um passo para entender o que a humanidade está fazendo com o planeta.
Aparelho que imita o Sol vai impulsionar novas pesquisas
Quando fez o pós-doutorado e desenvolveu o bioinseticida à base de clorofila, o professor Gilmar Erzinger precisava de um equipamento que reproduzisse a luz do Sol para seus experimentos. Na época, teve de ir a Nurembergue, na Alemanha, onde fez parte de sua pesquisa, para usar um equipamento deste tipo.
Nesta semana, após um longo esforço da universidade, um aparelho com a mesma função foi importado pela Univille para alavancar novas pesquisas. Ao preço de cerca de R$ 15 mil, o SOL 1200, como é chamado, sofreu atrasos na importação por variações no preço do dólar e por questões de segurança, já que teve de passar pelos Estados Unidos depois de deixar a Alemanha, onde é produzido, e vir para o Brasil.
Segundo Erzinger e os professores Luciano Pinto e Lineu del Ciampo, o aparelho vai possibilitar ampliar estudos dos impactos da poluição sobre algas, plantas e outros organismos, certamente para serem compartilhados em outros congressos internacionais no futuro.
Os estudos levados à Suíça
Novas perspectivas para o controle de larvas de mosquito usando derivados da clorofila como fotossensibilizadores
Autores: Gilmar Sidnei Erzinger, Donat Peter Häder, Peter Richter, Suellen Souza e Stephanie Wohllebe
Apresentação em mesa, terça-feira.
Poluentes emergentes: impacto ambiental da eliminação de medicamentos
Autores: Gilmar Sidnei Erzinger, Luciano Henrique Pinto, Lineu Fernando del Ciampo, Luana Soares Schulter, Rafaela Sierth, Marcela Cristina Fausto Teixeira, Heloisa Biff e Bianca Ramos Pezzini
Apresentação em painel, terça-feira
As alterações no comportamento das algas Euglenas gracillis na presença de 17- etinilestradiol e 17-beta-estradiol (hormônios femininos) em águas residuais urbanas
Autores: Gilmar Sidnei Erzinger, Luciano Henrique Pinto, Rafaela Sierth, Lineu Fernando del Ciampo, Donat e Peter Häder
Apresentação em painel, na quinta-feira.
A NOTÍCIA
Estudos desenvolvidos por Gilmar Erzinger (ao microscópio) e professores e alunos de farmácia e do mestrado em saúde e meio ambiente serão apresentados na Europa
Foto:
Rodrigo Philipps
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