A Educação Precisa de Respostas | 12/08/2013 21h33min
Um chá para escolher a rainha da banda marcial da Escola Municipal de Ensino Fundamental La Hire Guerra, de Eldorado do Sul, está marcado para o próximo sábado, mas não restou sequer um instrumento para a apresentação do Dia da Pátria. Um incêndio criminoso, provocado por quatro adolescentes — dois alunos e um ex-aluno, entre eles — destruiu 10 salas de aula na madrugada desta segunda-feira.
Os adolescentes, todos conhecidos na comunidade, arrombaram a escola La Hire Guerra e atearam fogo em salas de aula. A parte mais danificada foi a que guardava os instrumentos da banda.
Além de prejudicarem 700 alunos, que perderão aulas, e danificar o patrimônio público, eles atingiram o coração de uma comunidade.
— Foi um golpe na nossa autoestima — lamenta a diretora Fabiana Rodrigues, que, desde o começo do ano, empenha-se na recuperação da escola com ajuda de voluntários, pintando paredes e reformando ambientes.
Salas temáticas e uma dedicada a estudantes com necessidades especiais foram queimadas. Milagrosamente, a biblioteca resistiu às chamas, que destruíram o forro em PVC e parte do telhado. Móveis, material pedagógico e computadores foram quebrados.
— Eu fico me perguntando: por que eles fizeram isso? — desabafa a diretora.
É o que todos se perguntam. A perícia preliminar indicou que os adolescentes arrombaram as salas com pontapés e atearam fogo em cortinas após encontrarem uma garrafa de álcool em meio a produtos de limpeza dentro da escola.
Segundo o delegado Alencar Carraro, os dois adolescentes que foram detidos no pátio da escola, um de 14 e outro de 16 anos, alunos do 8º ano, assumiram a autoria dos atos. Eles disseram que tinham bebido e resolveram invadir a escola. Queriam quebrar tudo para não ter aula no dia seguinte, mas não teriam premeditado o incêndio.
Os outros dois garotos detidos negaram envolvimento. Os quatro foram liberados depois de serem ouvidos. O delegado irá pedir internação pelo prazo máximo, de três anos.
— Esse foi um ato gravíssimo, muito além do dano ao patrimônio e do incêndio. Foi um desrespeito à comunidade e mostrou um traço perigoso dos adolescentes, de crença na impunidade — disse o delegado.
Banda era xodó do Sans Souci
A banda era o xodó da comunidade do bairro Sans Souci, o mais populoso de Eldorado do Sul e com o maior índice de tráfico de drogas no município. Dentre os 700 alunos que atende, a escola recebe estudantes da Vila Progresso, uma área de invasão que fica ao lado do bairro e é conhecida pela atuação de traficantes.
A escola é foco de programas sociais, como o projeto Escola Aberta. Os instrumentos para a banda marcial foram comprados graças à união da comunidade, que participou de rifas, almoços e festas para arrecadar fundos.
— Destruíram a nossa alegria — disse, entre lágrimas, a professora Adriana Maciel, 36 anos, uma das coordenadoras da banda.
Cerca de 40 estudantes ensaiavam para o desfile de 7 de setembro. O envolvimento da comunidade com o projeto era tamanho que Rosângela Oliveira, mãe de um aluno do 1º ano, era quem costurava as roupas novas do grupo. Elas não foram destruídas pelo fogo porque ainda não tinha dado tempo de organizar as araras com os cabides na sala da banda. Está tudo a salvo na casa da costureira.
Em nota oficial, a prefeitura de Eldorado do Sul anunciou que a intenção é conseguir entregar pelo menos parte das salas de aula em condições até quarta-feira, e retomar as aulas. Um mutirão foi montado para a limpeza da escola. Emergencialmente, um vigia será mantido 24 horas no local para evitar saques.
Como ajudar
A escola está aberta a doações de instrumentos. Contatos podem ser feitos pelo telefone 3481-6038.
Os ensaios da banda marcial acontecem todos os sábados à tarde, na própria escola (Rua Irene Santos Totta, 301, Bairro Sans Souci - Eldorado do Sul).
Livros da biblioteca ficaram a salvo, enquanto o restante das salas foi totalmente destruído
Foto:
Lauro Alves
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